Pular para o conteúdo principal
Chapéu
DESASTRE GOVERNAMENTAL

Participantes temem que incompetência do MEC com Enem levem a perda de vagas

Linha fina
Falhas podem não estar limitadas às provas do segundo dia do exame. Vestibulandos relatam insegurança e especialista critica "amadorismo" do governo Bolsonaro
Imagem Destaque
ANTONIO CRUZ/EBC

Os erros identificados nas notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) podem não estar limitados às provas do segundo dia, como havia sido divulgado pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pelo exame, confirmou neste domingo 19, que as provas do primeiro dia também foram afetadas.

Até a manhã desta segunda-feira, chegou a 60 mil o número de número de pedidos para recorreção da nota do Enem. E Weintraub chegou a dizer que é pouco. Para muitos, os erros que vão da aplicação dos exames à festão global da educação no país são deliberados. O governo erra de propósito da mesma forma como dificulta deliberadamente o acesso às aposentadorias por incapacidade de atendimento do INSS. O objetivo seria arranhar a credibilidade para acabar com serviços públicos que vinham alcançando bons resultados. O Enem e o Sisu são os principais meios de acesso dos estudantes de baixa renda às universidades públicas.

A correção de Matemática e Ciências da Natureza, Linguagens, Ciências Humanas e Redação, têm “inconsistências”, como tem chamado o governo de Jair Bolsonaro sobre o erro que teria partido da gráfica na impressão da correção das provas. Inicialmente, o MEC estimou que até 39 mil pessoas teriam recebido a contagem errada dos pontos, para depois afirmar que o número “não chega a nove mil”. No entanto, depois de ser divulgado que a revisão também ocorreria em relação ao primeiro dia do Enem, o governo não divulgou o tamanho do impacto.

Ao todo, 3,9 milhões de pessoas prestaram a prova no ano passado. Nas redes sociais, vestibulandos têm relatado desconfiança com a nota, o que vem causado insegurança entre os que dependem exclusivamente do Enem para ter acesso ao ensino superior. “O Enem é um processo muito sério, porque envolve a vida e o futuro de milhões de estudantes e não pode ser tratado de forma amadora, como vem sendo tratado pelo Ministério da Educação”, critica a professora-adjunta da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UNB) Catarina de Almeida Santos.

Coordenadora do comitê do Distrito Federal (DF) da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Catarina analisa, em entrevista à Rádio Brasil Atual, que diante da forma como o exame vinha sendo tratado pelo governo Bolsonaro, esses erros “já eram mais ou menos previstos”. “O Inep sempre teve equipes capacitadas, mas houve um desmonte, na verdade, esses erros já eram esperados, mas não imaginávamos que fossem com tamanhas proporções”, lamenta.

Pelo Twitter, os vestibulandos também divulgam erros na correção da redação, fato ainda não confirmado pelo Ministério da Educação. Ainda assim, em rede social, Weintraub afirmou que a data de abertura das inscrições para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que seleciona estudantes para as universidades públicas, serão mantidas. O que “revela a irresponsabilidade” da pasta, como ressalta Catarina. “Eu não posso manter o processo se o Enem está em questão. Primeiro nós temos que resolver os problemas do Enem, porque ele que seleciona, define as notas dos alunos e a concorrência no Sisu, para depois abrir o processo de seleção dos alunos no Sisu”, contesta.

Ministro que cumpre com a destruição da educação não cai

Weintraub, que vinha comemorando o “sucesso” na realização do Enem 2019, tem sua continuidade no governo Bolsonaro ainda mais questionada. A interlocutores e, inclusive publicamente, o ministro da Educação dizia que a edição de um Enem sem erros era crucial para a sua permanência no cargo. Catarina avalia que, apesar da pressão, é difícil imaginar a queda do ministro. 

“Ele é a figura que tem colocado em prática a educação que esse governo pretende, que é, na verdade, educação nenhuma ou a destruição de todos os projetos educativos que nós tínhamos até então no país”, lamenta.

“O mais triste é que ele (Weintraub) pode até cair, mas não há perspectiva de que quem venha possa melhorar alguma coisa se é a lógica do próprio governo é não mudar. O ministro permanece no cargo porque vem fazendo aquilo que é a lógica desse governo, a destruição da educação pública. Não há nenhum compromisso com a educação pública”.

Erros que acobertam

Este, que é primeiro Enem do governo Bolsonaro, além dos erros com as notas em decorrência da gráfica Valid, contratada mesmo sem experiência para impressão das provas, teve ainda fotos do exame vazadas no primeiro e no segundo dia, antes mesmo da aplicação. E pela primeira vez, desde 2009, não apresentou nenhuma questão sobre a ditadura civil-militar. Para não ter “polêmicas”, segundo Weintraub.

“Questões polêmicas não no sentido de dúvida de que elas aconteceram, mas questões que um determinado grupo da população, especialmente o grupo que apoia o governo, não quer colocar em debate e nega a sua existência”, rebate Catarina. “Não dava para imaginar que fossem trazer questões referentes ao regime militar, porque o tempo inteiro o presidente nega a existência disso ou, quando fala, diz que foi algo necessário”.

Derradeiro da falta de gestão: MEC não empenha verba 

A falta de gestão também é evidente para a professora da UnB quando uma verba de mais de R$ 1 bilhão recuperada via judicial, destinada à educação básica, não foi sequer empenhada por Weintraub. A justificativa do ministro é que não havia nenhum projeto pronto para a aplicação do dinheiro na educação infantil, apesar de defender os cortes nas universidades federais, por exemplo, para priorizar esta etapa.

Desde que assumiu, o governo Bolsonaro tem prometido investimentos justamente na educação básica, além de cargos ocupados por pessoas “tecnicamente capacitadas”. Promessas que, na verdade, podem ser traduzidas como um “conjunto de ações irresponsáveis e de falta de gestão e de planejamento”, sintetiza Catarina.

Confira a entrevista da Rádio Brasil Atual

seja socio