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Chapéu
Outro Olhar

Projeto SP Invisível completa seis anos trazendo histórias da população de rua

Linha fina
Objetivo é sensibilizar a sociedade em relação à situação das pessoas que estão em situação de rua, invisibilizadas na maior parte do tempo
Imagem Destaque
DIVULGAÇÃO

Quando a prefeitura de São Paulo estimou em 16 mil o número de pessoas em situação de rua, o movimento SP Invisível completava o seu primeiro ano de trabalho. Incomodava seus realizadores o modo com que a população paulistana tropeçava diante daquelas pessoas que só encontravam abrigo nas calçadas da maior cidade da América Latina, se acostumando com aqueles corpos a ponto de ignorar que por trás deles existiam pessoas, ou ainda, histórias.

Na tentativa de romper com essa invisibilidade que tornava “normal” essa situação, o estudante de jornalismo Vinicius Lima, ao lado de seu amigo, o estudante de Cinema André Soler, lançaram um movimento para sensibilizar a sociedade em relação aos problemas vividos pelas pessoas em situação de rua por meio de histórias. Nascia em março de 2014 o SP Invisível, que hoje, seis anos depois, coleciona quase 400 mil seguidores só em sua página no Facebook.

“A gente queria mostrar que todo mundo que está na rua tem uma história, um porquê de estar lá. É um ser humano, não é um bicho, um lixo, não nasceu ali igual uma árvore, e do mesmo jeito que todo mundo, tem uma história”, lembra Lima, o cofundador, já formado em Jornalismo e atualmente também ativista pela população em situação de rua, em entrevista aos jornalistas Ana Rosa Carrara e Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.

O projeto que começou contando histórias e conectando as pessoas tem conseguido ir além e promovido ações ao longo dos últimos anos. O movimento consegue hoje realizar o Natal Invisível, uma ceia para 1.000 pessoas; a campanha SP sem Frio, que constrói kits para atender as necessidades durante o inverno por parte dessa população; a Páscoa, com a distribuição de cartas e ovos de chocolate, e o Carnaval, com ponto de recolhimento de latinha nos blocos de rua para os catadores. Todo um trabalho de sensibilização que na prática muda a forma com que parte das pessoas enxerga a população em situação de rua.

Desde então, o movimento como um todo acumula seguidores e apoiadores, mas, por outro lado, vê dobrar o número de pessoas em situação de rua, inclusive de famílias com crianças. “O último censo é extremamente desatualizado, o próximo, que irá sair ano que vem, (deve) beirar 28 mil, quase 30 mil, ou seja, dobrou em cinco anos”, explica Lima. “Você tem uma população de rua que é diferente do perfil anterior, muito recente, de meses, de um ano, de semanas, muito por conta da crise atual”, conta. “Gente que sempre trabalhou e morou aqui (em São Paulo), mas porque ficou desempregado foi para a rua. Costumo dizer que, antes de perder a casa, a pessoa perde os vínculos”, afirma o jornalista.

Na página do movimento, a história de Andréia, pela semelhança da análise do cofundador, chama atenção. Aos 38 anos, em situação de rua, ela confirma o drama em seu relato para o SP Invisível. “Eu vim pra cá por causa da minha família. É aquela história: enquanto você tem algo pra oferecer, você pode ficar perto deles, mas quando você se cansa, tem que ir embora”.

Mas as histórias também mostram uma complexidade ainda maior, como destaca Lima. “Não dá para falar que são os moradores de rua, cada história tem um problema, cada problema tem uma solução, não tem uma solução geral para aquelas histórias”. Eduardo, por exemplo, no passaporte coleciona uma série de vistos. 

Já esteve em Madri, Milão, Nova York e Lisboa por conta de sua profissão no mundo da moda. Viajou pelo globo, ganhou bem, mas “nesse mundo de luxo”, perdeu o foco. Hoje vive nas ruas da capital e aguarda, ao lado de sua esposa, Maria, o nascimento de seu primeiro filho. “Esse bebê que vai nascer é um anjo. Eu e ela sabemos reconhecer os anjos e os demônios. A gente sabe que vocês são anjos e sabemos que essa criança também é”, conta, em seu depoimento.

Para o jornalista, são essas histórias que contribuem para que a atuação de movimentos e entidades que lutam pelos direitos da população de rua, aprimorem suas atuações. “Os números são importantes, mas a gente está lidando com pessoas, então ter que ter alguns relatos, tem que ouvir o que eles precisam, não só contar, numerar, quantas pessoas tem”, adverte.

Confira a entrevista da Rádio Brasil Atual

 

 

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