São Paulo – Em um das festas mais politizadas dos últimos anos, o Carnaval levou os foliões em diversas cidades a aproveitaram a folia para demonstrar sua indignação e descontentamento com o atual momento social e político do Brasil e também para lutar pelo seu lugar na festa, em defesa de direitos sob ataque. A Rede Brasil Atual destacou algumas reportagens produzidas pelas equipes da TVT. Confira.
Marquês de Sapucaí – No desfile do grupo especial do Rio de Janeiro, as escolas de samba levaram para a avenida a indignação do brasileiro. Quarta escola a entrar na Marquês de Sapucaí na noite de domingo, a Paraíso do Tuiuti levantou o público com o enredo que pergunta “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?” e foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais durante todo o carnaval.
A agremiação, que ficou em segundo lugar, falou sobre os 130 anos da Lei Áurea e usou e abusou da criatividade para fazer uma crítica ao atual cenário político do país. Em uma das alas, a escola ironizou os manifestantes que pediram o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Na fantasia, os "manifestoches" traziam um pato amarelo e batiam panelas, atendendo ao comando da manipulação midiática.
A escola do bairro de São Cristóvão também trouxe para avenida trabalhadores mostrando a carteira de trabalho, uma crítica à reforma trabalhista. O último carro trouxe ainda um grande vampiro com faixa presidencial e carregado de dólares, em clara referência a Michel Temer.
Para o professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) Gilberto Maringoni, a festa serviu para unir descontentamentos dispersos. Segundo ele, o Poder Judiciário, "que julga sempre a favor dos ricos sempre a favor dos de cima" e "o pobre da periferia apanhando a polícia" são resquícios da escravidão, que a Tuiuti ajudou a explicitar.
A Mangueira também fez desfile em tom de protesto, com críticas ao prefeito Marcelo Crivella (PRB), que cortou verbas de apoio ao Carnaval. Um dos carros da escola trazia a silhueta do Cristo Redentor encoberta – referência ao Cristo Mendigo de Joãozinho Trinta, censurado em 1989 – com os dizeres "Olhai por nós, o prefeito não sabe o que faz".
Acessibilidade – Deficientes auditivos puderam acompanhar a transmissão do carnaval do Rio de Janeiro com tradução em Libras pela TV Ines.
Crianças – Também no Rio, a bandeira dos direitos da criança e do adolescente foi levada pelos foliões mirins. No bloco criado pela Fundação São Martinho, que atende crianças e jovens em condição de vulnerabilidade social, o grito de Carnaval foi pela inclusão, e levou para as ruas da Lapa, no centro da cidade, bandeiras pelo fim da exploração sexual infantil, pela proteção das crianças e adolescentes, direitos humanos, educação e cultura.
“A gente quer gritar para a cidade que a criança e o adolescente também têm direitos”, diz o coordenador da Fundação São Martinho, Valdinei Martins.
Mulheres na bateria em SP - No carnaval paulistano, o bloco Pagu uniu mulheres em uma potente bateria para lutar contra o machismo e homenagear outras figuras femininas que fizeram história na música brasileira nesta terça-feira (13) de Carnaval.
"Pagu foi considerada uma mulher que era muito à frente do seu tempo, e que tentou abrir caminho dentro de um espaço completamente sexista", diz Mariana Bastos, uma das fundadoras. "Ela brigou muito pela liberdade dela mesma. Virou um grande símbolo", completa, sobre a poeta e jornalista que participou dos círculos modernistas.
Com músicas que viraram clássicos nas vozes de grandes cantoras brasileiras, o bloco também era formado apenas por ritmistas mulheres. "É muito importante para o carnaval mulheres batuqueiras tocando, lutando contra o assédio, contra o sexismo, um bloco feminista que se coloque mostrando que a mulher pode fazer o que ela quiser, inclusive tocar percussão", diz Maria Carolina Simões.
Catadores – Também na capital paulista, catadores de recicláveis fizeram um desfile-protesto na terça feira para conscientizar sobre a importância da coleta seletiva e também para denunciar os problemas da categoria, com dificuldades cada vez maiores na gestão de João Doria (PSDB).
Com o lema "Tema Carnaval Sem Catador é Lixo", o Bloco da Reciclagem foi impedido de acessar o Largo da Batata, na zona sul da cidade, com os seus carrinhos, por decisão da subprefeitura de Pinheiros. "É um ato de protesto para que o cidadão saiba que existe coleta seletiva e que por trás dos resíduos, existe uma categoria que necessita trabalhar", afirmou um dos catadores.
Brasília – Em Brasília, a festa foi marcada pelo clima eleitoral. Nos blocos de rua, as famílias marcaram presença com camisas e faixas em defesa do direito do ex-presidente Lula participar das eleições. "Eleição sem Lula é fraude" e "Cadê as provas" eram alguns dos bordões mais ouvidos e lidos.
"A gente precisa de uma Justiça do povo, e não uma Justiça de uma classe burguesa que defende só os seus interesses e se sente ameaçada com o presidente faz justiça social", afirmou o folião Antonio Marcos da Silva.
"A gente está aqui para combater o golpe e resgatar o nosso Brasil para nós, trabalhadores, servidores públicos, aposentados, pessoas que sustentam essa Nação", disse a professora Claudia Regina Lima.