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Na contramão da Selic, spread começa ano em alta

Linha fina
Banqueiros tentam colocar culpa nos clientes, mas especialistas rechaçam e apontam lucro e sistema financeiro como fatores de elevação
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São Paulo – O spread bancário do Brasil subiu 2,2% em janeiro atingindo 27,8% ao ano, de acordo com informações do Banco Central divulgadas pelo jornal Valor Econômico. A elevação vai de encontro ao percurso de queda trilhado pela Selic desde agosto do ano passado e que, no mesmo período do levantamento do BC, baixou de 11% para 10,5%, redução de 4,5%. Atualmente está em 9,75% ao ano.

Spread é o que os bancos cobram, por meio de juros, para fazer a intermediação financeira entre a captação de dinheiro no mercado e o empréstimo aos clientes. Selic é a taxa básica de juros do país.

Para justificar a elevação do spread mesmo com a queda da Selic, os banqueiros costumeiramente colocam a culpa nos clientes, afirmando que precisam cobrar mais de quem paga em dia para cobrir o buraco causado por quem não consegue honrar as dívidas. Esse discurso, porém, não tem consistência, de acordo com especialistas no setor financeiro.

O vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira, afirmou para o Valor Econômico que culpar a inadimplência não corresponde à realidade. Ele toma como base o Banco Central para indicar o maior vilão do spread alto: o lucro. A inadimplência é o quarto e penúltimo fator em ordem de importância.

O professor Marcello Gonella, da Universidade Anhembi Morumbi, concorda. Ele pondera que as taxas de inadimplência no Brasil não estão entre as maiores do mundo, não aumentam exorbitantemente e alguns bancos a mantêm controlada. Para ele, é necessário que as instituições e o governo se movimentem para melhorar o sistema financeiro do país.

“Há tempos falamos que não é o cliente o maior causador dos elevados índices de spread. Sempre reforçamos que é a sanha por lucros cada vez maiores, aliada à ausência de limites, que deixa o campo fértil para os juros exorbitantes cobrados pelos bancos, o que reflete em spread cada vez maiores", afirma a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira.

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Governo – Usando os bancos públicos como reguladores de mercado, uma de suas principais funções, o Governo Federal pressiona a direção do BB e da Caixa a reduzirem o spread e, consequentemente, forçar os bancos privados a seguir a mesma tendência.

Após reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o presidente do Banco do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, disse que existe margem para redução do spread no Brasil. Segundo ele, o importante é revisar o modelo de financiamento e de crédito do país. O presidente da Caixa Federal, Jorge Hereda, também se encontrou com Mantega, mas não quis revelar o teor da conversa.

“O spread é uma agenda permanente. Acho que o modelo de financiamento e o modelo de crédito do país precisam ser revistos. É o que a gente precisa estudar. Acho que o próprio modelo econômico-financeiro tem folga para a gente trabalhar com isso”, disse Bendini, ao deixar o Ministério da Fazenda.

A reunião não foi a primeira movimentação do Governo Federal para reduzir o spread. Da última vez que participou de audiência pública no Senado, o presidente do BC, Alexandre Tombini, destacou que a redução era prioridade do governo. Tombini também informou, na ocasião, que a presidenta Dilma Rousseff tinha determinado à equipe econômica encontrar solução para o problema.

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Redação, com informações do Valor Econômico e da Agência Brasil - 14/3/2012

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