São Paulo - A saúde dos trabalhadores e sua relação com a pressão constante por aumento da produtividade. Esse foi tema do seminário Práticas organizacionais, saúde e condições de trabalho bancário no capitalismo em crise realizado pelo Sindicato na terça-feira 28, Dia Internacional de Combate às LER/Dort. O evento marcou o relançamento da campanha Menos Metas, Mais Saúde.
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A socióloga Nise Jinkings foi a palestrante da primeira mesa e abordou a organização do capitalismo e sua consequência na qualidade de vida do trabalhador.
“As mudanças no capitalismo em geral, e em especial no setor financeiro, se voltam para o lucro, mas também têm suas dimensões ideológicas, enquanto mecanismos que pretendem fragilizar a organização dos trabalhadores”, afirmou.
Ela citou o processo de automação nos bancos. “As agências vão se transformando em pequenas lojas e as estratégias mercadológicas dos bancos se intensificam para a venda dos produtos.” Nesse contexto, disse, os bancários se transformam em vendedores.
Ela destacou que esse processo, iniciado na década de 1980, também foi uma forma de enfraquecer as greves da categoria e o movimento sindical. “O aumento dos terminais do autoatendimento, a desativação das grandes agências e grandes centrais bancárias, que eram espaço de concentração dos trabalhadores, também foram mecanismos para enfraquecer os indicatos.”
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Chão de fábrica – Uma realidade bem diferente da dos bancários, divididos em centenas de agências, é a vivida pelos trabalhadores da fábrica da Mercedes Benz em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. “Organizados pelo chão de fábrica, temos o contato do dia a dia com o trabalhador e mapeamos esse cotidiano, por intermédio também da conversa direta com eles”, disse Wagner Luiz de Freitas que, junto com os dirigentes sindicais Aroaldo Silva e João Sousa, relatou na segunda mesa do seminário um pouco da experiência do movimento sindical na empresa automobilística.
Os três apontaram alguns dos avanços conquistados pelos funcionários, organizados no Comitê Sindical de Empresa (CSE), que tomou posse em 1985. “Conseguimos evitar demissões em massa. Éramos 18 mil e a Mercedes queria reduzir o quadro para 5 mil. Através da reorganização produtiva que negociamos com a direção, conseguimos manter empregos e hoje somos 13 mil.”
“Os trabalhadores discutem a melhor forma de trabalhar, sempre levando em conta o tripé produção, ritmo e número de funcionários”. E se há algo errado nessa equação, os sindicalistas reclamam diretamente com a direção, acrescentou Aroaldo Silva.
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Venda responsável – Para Márcio Monzane, diretor da UNI Finanças, braço da UNI Sindicato Global, a saúde do trabalhador está diretamente relacionada às metas no setor financeiro. Por isso a entidade internacional lançou, em 2010, campanha pela venda responsável de produtos. Sindicato e Idec também lançam a campanha no próximo dia 15. Primeiro brasileiro a ocupar o cargo, Monzane, que também foi diretor executivo do Sindicato, participou da mesa de encerramento do seminário. “A lógica dos bancos é estabelecer objetivos para gerar lucros, quando eles deveriam estabelecer objetivos para atender as necessidades dos clientes e da sociedade”, disse.
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Ele ressaltou que a venda responsável não resulta apenas em melhores condições de trabalho, mas cumpre papel fundamental na diminuição de riscos para a economia. “Oferecer um cartão de crédito ao cliente pode significar risco de endividamento para esse consumidor, mas também, em larga escala, impacta em toda a sociedade”, alertou.
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Evento promovido pelo Sindicato marcou relançamento da campanha Menos Metas, Mais Saúde
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