Pular para o conteúdo principal

CUT se reúne com Comissão Nacional da Verdade

Linha fina
Central defende capítulo específico sobre crimes contra a classe trabalhadora durante a ditadura; Comissão da Anistia e CNV reconhecem assassinatos de Alexandre Vannuchi Leme e Vladimir Herzog
Imagem Destaque

São Paulo - A CUT será recebida pela advogada Rosa Cardoso, integrante da Comissão Nacional da Verdade (CNV), em reunião marcada para o dia 2 de abril no Rio de Janeiro.

Em pauta estará a inclusão de um capítulo que resgate a memória de trabalhadores perseguidos, torturados e assassinados e investigue intervenções que ocorreram no campo e nas cidades durante a ditadura militar (1964-1985).

A reivindicação foi apresentada à presidenta Dilma Rousseff em audiência no começo de fevereiro, que demonstrou simpatia pela causa.

A Comissão Nacional da Verdade foi instituída em 16 de maio de 2012 com finalidade apurar graves violações de Direitos Humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988. Atualmente possui 12 grupos de trabalho, sem um específico para apurar violações cometidas contra as estruturas sindicais e trabalhadores.

Expedito Solaney, secretário de Políticas Sociais, representará a Central nesta reunião que também contará com a presença do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh.

“Queremos a criação do grupo de trabalho temático que vai levantar, estimular e contribuir com informações sobre as violações às estruturas sindicais, os mandatos cassados de dirigentes e trabalhadores mortos, presos e desaparecidos para que no relatório final da Comissão da Verdade sejam contemplados todos os setores que sofreram com as atrocidades cometidas pelos agentes da ditadura”, sublinhou.

O relatório final da Comissão Nacional da Verdade deverá ser entregue à presidenta Dilma em maio de 2014. Para Solaney, os trabalhos podem e devem continuar após essa etapa, com o objetivo de buscar o julgamento jurídico de quem praticou crimes.

“O período de dois anos é muito curto. São sete integrantes apenas e um número reduzido de assessores. Tudo isso dificulta os trabalhos. Por isso, a Comissão deve ser um elemento permanente de resgate da memória, verdade e justiça”, cobrou.

Vannuchi e Herzog - O governo federal, na figura da Comissão de Anistia, promoveu nesta sexta-feira 15, na Faculdade de Geociências da USP, ato oficial de anistia a Alexandre Vannuchi Leme, assassinado pela ditadura militar em 1973, reconhecendo sua responsabilidade pela morte e pedindo desculpas à família.

A celebração fez parte da 68ª Caravana pela Anistia e integrou a semana de atividades em homenagem aos 40 anos da morte de Alexandre.

Visivelmente emocionada, a ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse sentir-se envergonhada com as atrocidades cometidas pelo Estado durante o período da ditadura, “mas que numa sociedade democrática o Estado tem o dever de reconhecer que foi o responsável pelas mortes, torturas e assassinatos cruéis, ceifando vidas e acabando com famílias. Para ela, “se estamos vivendo o período mais longo da democracia, isso se deve a figuras como Alexandre Vannuchi, Vladimir Herzog e tantos outros que ousaram lutar e deram suas vidas por um ideal.”

Aos 22 anos, estudante de Geologia da USP, Alexandre militava no movimento estudantil e na ALN (Ação Libertadora Nacional). Aprovado em primeiro lugar no vestibular, participava ativamente do cotidiano da universidade, sempre comprometido com a luta pela democracia no Brasil.

No dia 16 de março de 1973, acabou preso e levado para o DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna), órgão subordinado ao Exército e criado para combater os opositores do regime militar, onde foi torturado até a morte, no dia seguinte.

Seus pais receberam no dia 20 telefonema informando sobre a prisão. A família foi ao Dops, percorreu todos os órgãos policiais, mas não conseguiu sequer uma confirmação sobre seu paradeiro. Após dias, seu pai foi surpreendido com a notícia em um jornal de Sorocaba sobre a morte de Alexandre Vannuchi por atropelamento após tentativa de fuga.

Essa foi a versão forjada pelos agentes do DOI-CODI e amplamente aceita e difundida pelos veículos de informação. Seu corpo foi jogado numa vala comum no Cemitério de Perus e coberto com cal para apagar rapidamente os vestígios da tortura. Os órgãos de repressão chegaram a apresentar três versões diferentes para a sua morte.

Durante a solenidade de anistia, Maria Cristina Vannucchi Leme, irmã de Alexandre, aproveitou para fazer uma homenagem especial aos seus pais, que não puderam estar presentes por conta da idade avançada. “Para minha mãe o golpe de 64 foi um vendaval que deixou nossa família em frangalhos. Nunca na vida ela imaginou que um dia tivesse de proteger seus filhos contra os perigos causados pelo Estado”, lamentou, informando que a família também buscará a retificação do atestado de óbito de seu irmão.

As homenagens a Alexandre Vannuchi se estenderam por toda essa semana. Primeiro, ocorreu um show com o cantor Sérgio Ricardo na quinta 14, que havia apresentou, logo após a morte do estudante, o espetáculo Conversação de Paz. Na sexta 15, além da cerimônia de anistia, uma missa na praça da Sé foi celebrada pelo bispo emérito Angélico Sândalo Bernardino que em 1973 era bispo auxiliar da arquidiocese e estava com Dom Paulo Evaristo Arns na missa.

Herzog - Na mesma sexta-feira, a esposa, o filho e o neto de Vladimir Herzog receberam pelas mãos de Rosa Cardoso, integrante da Comissão Nacional da Verdade, o novo atestado de óbito do jornalista.

A retificação foi acatada pela Justiça após pedido feito pela CNV. O novo documento rechaça a versão dos torturadores de ‘suicídio’. Constava no laudo da época assinado pelo legista Harry Shibata que Vlado, como era conhecido o jornalista, havia morrido "por asfixia mecânica".

A versão oficial agora consta que o jornalista foi assassinado em decorrência de lesões e maus tratos sofridos nas dependências do 2º Exército de SP.

A ministra Maria do Rosário afirmou estar aliviada pela correção. “Convivemos com a falsidade de causas e óbitos relacionados àquele período, o que revela que tantos outros atestados foram montados pela voz e caneta. Ainda existem documentos históricos oficiais com essas inverdades, mas hoje colocamos um ponto final no caso Vladmir Herzog ao realizar este ato de reparação ao seu atestado de óbito”, celebrou.


CUT, com edição da Redação - 18/3/2013

seja socio