São Paulo – No Dia Nacional de Paralisação contra os retrocessos propostos pelo governo de Michel Temer na Previdência Social, os bancários de São Paulo, Osasco e região protestaram fechando agências e concentrações na Avenida Paulista e outras regiões da cidade nesta quarta-feira 15 contra a Proposta de Emenda Constitucional 287, em tramitação no Congresso Nacional, que prevê idade mínima de 65 anos para aposentadoria e 49 anos ininterruptos de contribuição para requerer o benefício integral.
Nada mais emblemático, já que os bancos serão um dos principais beneficiados e um dos patrocinadores da reforma que pretende impor, ainda, piso de 25 anos de contribuição ante os atuais 15 anos, dentre outras medidas prejudiciais aos trabalhadores.
O relator da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, Arthur de Oliveira Maia (PPS-BA), por exemplo, teve parte considerável da sua campanha eleitoral bancada por empresas que oferecem planos privados de previdência complementar.
Além disso, as mudanças propostas pelo governo de Michel Temer nas regras para aposentadoria forçaram uma corrida dos brasileiros em direção aos planos de previdência privada.
Maiores devedores – Mas não é só isso. Bancos públicos e privados, como a Caixa Econômica Federal (R$ 549 milhões), o Bradesco (R$ 465 milhões), o Banco do Brasil (R$ 208 milhões) e o Itaú Unibanco (R$ 88 milhões) estão entre os maiores devedores da Previdência Social, segundo levantamento da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, responsável pela cobrança dessas dívidas.
“Sempre o trabalhador, o lado mais fraco, é o que paga. Eu não posso chegar na diretoria do Itaú e do Bradesco e cobrar. Quem tem de fazer isso é o governo. Por que ele não vai nessas empresas e cobra?”, questionou um empregado da Caixa
”É uma vergonha. Essa reforma é em benefício dos grandes bancos, que estão preocupados em vender planos de previdência privada e ganhar mais. E eles não vão pagar a dívida com o governo porque é uma troca de favores com os políticos, e a gente vai acabar sendo prejudicado”, protestou um bancário do Itaú.
“Eu trabalhei e contribui por 30 anos e querem mudar a regra do jogo no meio da partida, com as pessoas no final da carreira, sendo que muitos desses políticos têm uma aposentadoria diferente e não estão nem um pouco preocupados com a situação do povo. É revoltante” desabafou o funcionário.
Pelas novo formato, se aprovado, ele não entraria na regra de transição por ter menos de 50 anos, e precisaria trabalhar mais 18 anos para conseguir se aposentar, até completar 65 anos, ou mais 19 anos, se quiser contar com o benefício integral (49 anos de contribuição).
Já o presidente Michel Temer aposentou-se aos 55 anos como procurador do Estado de São Paulo e recebe uma pensão de R$ 30 mil por mês.
Não há déficit – Mas os absurdos não param por aí, como lembraram os próprios bancários. “Eles enganam sobre esse tal déficit, porque o governo usa o dinheiro de impostos para [financiar] a Previdência, para outro fim, é vergonhoso”, afirma um bancário do Itaú. “Dizem que a Previdência está falida, mas o que a gente escuta é que tem um superávit”, afirmou outro do Bradesco.
De acordo com a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip), o déficit propagado pelo governo (R$ 149 bilhões em 2016) deixa de contabilizar receitas e desvia recursos do financiamento do sistema de Seguridade Social – o qual a Previdência está inserida, junto com a Saúde e a Assistência Social – para outros fins, sobretudo para pagar os juros da dívida pública.
Para a Anfip, por exemplo, o Orçamento da Seguridade Social perdeu R$ 66 bilhões em 2015 por causa da DRU (Desvinculação das Receitas da União), mecanismo que permite o desvio de até 30% de suas receitas para outros fins.
Ou seja, se a arrecadação das contribuições da Previdência não fosse usada para outras finalidades, haveria na verdade um superávit de R$ 11,2 bilhões naquele ano.
“É pra ferrar [na verdade a palavra não foi exatamente essa] todo mundo, né”, criticou um bancário do Bradesco. Imagina um professor de 70 ou 80 anos dando aula, ou um bancário de 65 anos. Nem o mercado de trabalho aceita”, afirmou um funcionário do Itaú.
"É preciso pressionar o governo" – Por todos esses motivos, os bancários disseram apoiar os protestos e repudiar a reforma da Previdência.
“Eu concordo com o protesto e não concordo com a reforma que está sendo feita, porque vai obrigar a gente a trabalhar muito tempo”, opinou uma bancária do Bradesco de 18 anos. "Acredito que tem de ter uma reforma na Previdência, mas não da forma que está sendo feita, sem a nossa participação”, acrescentou.
“É muito importante que as pessoas protestem. Temos também que conversar com os colegas no trabalho. Se passar a reforma, ninguém se aposenta mais”, reforçou uma bancária do Santander.
“Esta mobilização está sendo importante e muitos bancários têm aderido a esta luta”, acredita um bancário do Banco do Brasil. “É preciso pressionar o governo, combater estes retrocessos que querem nos impor. A reforma da previdência é uma proposta terrível, e principalmente falaciosa, porque não existe déficit. Ela é uma proposta para acabar com a Previdência, uma tentativa de acabar com a seguridade social por falta de adesão. Os funcionários do BB estão conhecendo melhor as propostas de reforma previdenciária e trabalhista e têm ficado assustados, querendo participar dos atos e das mobilizações para barrá-las.”