A presidenta global do Santander, Ana Botín, veio mais uma vez ao Brasil para uma conferência com os funcionários. No encontro, que aconteceu no Teatro Santander, na Torre, ela abordou o resultado da instituição no Brasil, diversidade e cultura organizacional, traçando, entretanto, um perfil do banco bastante desvinculado da realidade enfrentada cotidianamente pelos bancários.
Em sua fala, Botín ressaltou a participação feminina no quadro de funcionários, lembrando que a maioria é formada por trabalhadoras. A presidenta lembrou, ainda, que o banco conta com duas mulheres na alta executiva. Em seguida, parabenizou o presidente do Santander no Brasil, Sérgio Rial, pelo crescimento do lucro no país em mais de 24%, representando 26% do lucro global da instituição financeira.
“Diversidade é algo bom para os negócios. Banco não é instituição de caridade”, afirmou Botín.
“É importante que ela tenha esse posicionamento, mas esperamos que uma liderança global de uma instituição financeira desse porte entenda a diversidade como direito, não como produto passível de ser monetizado”, afirmou Lucimara Malaquias, dirigente sindical e bancária do Santander. “Sem contar que essa colocação da presidenta mostra um profundo desrespeito e desconhecimento sobre o que é o feminismo. Nós não somos feministas porque ‘está na moda’, mas porque, do contrário, nós morremos, somos desrespeitadas e temos direitos negados. Vale lembrar que as mulheres ainda têm média salarial mais baixa que a dos homens dentro do próprio Santander. Além disso, a maternidade muitas vezes também dificulta a promoção na carreira, como a própria Botin afirmou. O que ela pretende fazer pra desconstruir esta cultura?”, questionou.
Acelerar
Em outro momento do encontro, Ana Botín pediu que os bancários “acelerassem” em 2019. Segundo ela, a meta é integrar o mercado brasileiro ao global. Ela parabenizou o presidente do banco, Sérgio Rial, pelo resultado apresentado no ano de 2018, desconsiderando que é fruto principalmente do trabalho dos cerca de 48 mil brasileiros que trabalham no Santander. A presidenta defendeu, ainda, que o país deve manter suas instituições fortes e em funcionamento.
“Por essa fala, subentende-se que a ideia é garantir que o governo aprove as reformas estruturais, como a da Previdência, para os bancos lucrarem ainda mais”, criticou Lucimara.
A dirigente ressalta que por mais importante que o lucro seja para a empresa, ele não pode ser colocado em posição de superioridade em relação às pessoas que ali trabalham. Ela lembra, também, que em nenhum outro país onde o Santander opera há cobrança de tarifas bancárias para o funcionário, a não ser no Brasil.
“O slogan do banco é ’Simples, pessoal e justo’, mas é justo para quem, uma vez que banco reduziu o Programa Próprio de Gestão (PPG) de alguns trabalhadores mesmo tendo crescido acima do estipulado? Justo é respeitar a convenção coletiva; é solucionar os problemas apresentados nas mesas de negociação; é priorizar as pessoas em vez dos números”, criticou Lucimara. “Gostaríamos que o banco mantivesse diálogo permanente e efetivo com o movimento sindical, como é feito na Espanha, onde os representantes dos empregados são recebidos pela direção do banco”, completou.