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Chapéu
Dia Mundial da Água

Represas da Grande São Paulo enchem, mas melhora não garante fim de secas

Linha fina
Poucas ações foram realizadas pelo governo estadual para evitar que novas crises de falta d'água ocorram na região metropolitana
Imagem Destaque
RUBENS CHAVES/FOLHAPRESS

Com chuvas acima da média em fevereiro e março, os reservatórios de água da região metropolitana de São Paulo atingiram níveis suficientes para superar o próximo período seco, que vai até outubro. O volume de água está superior ao alcançado em 2013, último período antes da crise hídrica que se estabeleceu em 2014 e 2015, quando houve racionamento de água e uso do volume morto do Sistema Cantareira.

A reportagem é da Rede Brasil Atual.

O aumento dos níveis, no entanto, não é motivo para aliviar medidas contra o desperdício, nem dá segurança de que nos próximos anos a região não volte a sofrer com falta de água. “É muito superficial comemorar o aumento dos níveis”, alerta o biólogo e educador ambiental da ONG SOS Mata Atlântica César Pegoraro.

O problema, segundo o biólogo, é que poucas ações que buscam garantir a sustentabilidade dos mananciais de água da região foram efetivadas pelo governo de São Paulo desde o início da crise, quando o governador era Geraldo Alckmin (PSDB). As grandes obras se resumiram a interligar os reservatórios e buscar água em outras regiões, como no caso do sistema São Lourenço, que fica em Vargem Grande Paulista.

“Em vez de políticas para cuidar dos mananciais que temos, reduzir perdas de água na rede de distribuição, investir em coleta e tratamento de esgoto para evitar a poluição das nossas águas, investe-se em buscar água cada vez mais longe, em um processo caro financeira e ambientalmente”, criticou.

Hoje, os sete sistemas que fornecem água para a Grande São Paulo contêm, juntos, 74% do volume total de armazenamento das represas. É o maior percentual desde 2012. Os reservatórios de Cotia, Rio Grande (Billings), Rio Claro e São Lourenço estão acima de 100% do volume útil. Alto Tietê e Guarapiranga estão acima de 90%. E o sistema Cantareira, o maior deles, composto por cinco represas, com 54,6%. No entanto, o volume acumulado de chuvas não é garantia de que os níveis não baixem se o próximo verão for mais seco.

Um dos problemas mais graves é a ocupação habitacional desordenada das beiras de represas e córregos, que acaba por favorecer o despejo de esgoto nos cursos d’água. “Não temos nenhuma segurança para os mananciais. O Guarapiranga, por exemplo, tem apresentado níveis crescentes de poluição, ano após ano. Daí temos de gastar uma fortuna para tratar a água de um manancial cheio de esgoto e torna-la potável. Não faz sentido. É preciso investir em coleta e tratamento de esgoto e na contenção da ocupação dessas regiões”, explicou Pegoraro.

Além disso, o biólogo defende que é preciso uma política efetiva de combate às perdas de água na rede, que na região metropolitana chegam a 30% do total tratado. “O volume de perda de água é quase o mesmo que é tratado diariamente na represa Guarapiranga”, ressaltou. E também investir em políticas de recomposição das matas ciliares no entorno de represas, rios e córregos da cidade, que precisam ser recuperados. “Se não tem floresta não tem água. São Paulo tem mais de 1.400 rios e córregos, a maior parte desconhecida da população e usada para descarte de lixo e esgoto. Temos água, mas não temos cuidado e valorizado”, disse Pegoraro.

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