São Paulo – O formato de ensino em jornada ampliada na rede de tempo integral do governo de Geraldo Alckmin (PSDB) foi reprovado por mais de 80% dos alunos, pais e professores, segundo pesquisa de opinião realizada pelo Instituto Locomotiva. Para a ampla maioria dos entrevistados, esse modelo de ensino é excludente e antidemocrático. Além disso, eles acreditam que o governo deveria priorizar as áreas mais pobres para receber essas escolas de turno ampliado, garantindo, assim, o acesso de todos, além de envolver a participação das comunidades no debate referente à criação de novas unidades.
Divulgada na terça-feira 6, a pesquisa, encomendada pelo Sindicato dos Professores no Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), ouviu 663 pais e mães, 667 alunos e 340 professores de escolas de tempo integral da rede estadual de ensino em São Paulo, São Bernardo do Campo, Santo André, Piracicaba, Sorocaba, Campinas, Americana, Limeira, Marília, São José dos Campos, Santa Bárbara D’Oeste, Araraquara, Presidente Prudente, Taubaté, Jundiaí e Sumaré (clique aqui para ler a pesquisa na íntegra).
Modelo Excludente - Uma das principais críticas da população é que as escolas de tempo integral expulsam os estudantes que não podem ficar praticamente o dia todo no local porque precisam trabalhar. Para 25% dos estudantes e 15% dos pais que acompanharam o processo de adesão da escola regular ao tempo integral, houve pelo menos um caso de aluno que, como trabalhava, teve de se transferir para outra escola, deixando para trás o desejo de permanecer estudando em jornada ampliada.
A pesquisa mostrou que é praticamente unânime entre a comunidade escolar a opinião de que o governo deveria priorizar a criação dessas escolas em áreas mais pobres, para oferecer mais tempo de estudo para alunos que geralmente estão mais defasados pela falta de professores, por exemplo.
É por isso também que a maioria dos entrevistados defende que as escolas em tempo integral deveriam ser garantidas a todos os estudantes, e não apenas para os estudantes que moram nos bairros distantes das periferias.
Antidemocrática - Grande parte dos entrevistados discorda também do processo de implementação das escolas de tempo integral. De cada dez, nove acreditam que ele deve ser discutido democraticamente com a toda a comunidade por causa dos impactos causados, como o fechamento de turnos parciais, especialmente o noturno. Apenas 25% deles avaliam que o processo foi totalmente democrático.
Outro dado relacionado ao perfil antidemocrático é que apenas a minoria dos estudantes, pais e professores dessas escolas disseram participar regularmente do Conselho de Escola.
Mesmos problemas - As escolas de jornada ampliada também são afetadas por problemas que afetam o conjunto da rede estadual paulista. Enquanto a qualidade da educação é o aspecto mais bem avaliado, há reclamações quanto à falta de segurança, do número de alunos por sala de aula e desinteresse dos alunos pelos estudos.
Para a ampla maioria dos entrevistados, ainda há pontos a melhorar no funcionamento da escola de tempo integral, especialmente entre os professores – daí a necessidade, segundo eles, de mais investimentos, pois somente aumentar o tempo nas escolas não é suficiente para melhorar a educação.
"Os dados da pesquisa mostram que o governo Alckmin segue cada vez mais pensando em ilhas de excelência, para ter o que apresentar em programa eleitoral. No entanto, vemos que essas escolas acabam expulsando muitos estudantes, quando a escola deveria incluir, e não excluir. Como tinha de fechar o noturno para adotar o tempo integral, muito alunos foram embora da escola, passaram a trabalhar até ter a idade de voltar nas classes de EJA (Educação de Jovens e Adultos)", disse a presidenta da Apeoesp, Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel.
A dirigente considera que os resultados da pesquisa confirmam diversas denúncias da categoria, como a de que o governo Alckmin fecha salas de aulas, demite professores e superlota as turmas.
Já o especialista em educação João Cardoso Palma Filho acrescentou que as escolas em tempo integral de Alckmin vão na contramão das melhores experiências educacionais que priorizam investimentos em escolas tradicionais, mais bem localizadas, em detrimento de estabelecimentos periféricos, que historicamente acumulam defasagem.
"No Chile, após a ditadura de Augusto Pinochet, o governo escolheu as 900 piores escolas para investir e melhorar, o que deu certo. Além do mais, fechar turmas no noturno só cria mais problemas. Ampliar a jornada é positivo, mas da maneira como está é mais um projeto equivocado", disse.