A Secretaria de Mulheres da Contraf-CUT (Confederação Nacional das Trabalhadoras e dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) realizou, nesta quarta-feira 27, o seminário “Conquistas e desafios das mulheres bancárias”, na sede da entidade, em São Paulo, que contou ainda com o lançamento da cartilha impressa “Avançamos juntas!”, publicação disponibilizada desde o dia 8 de março para os sindicatos e federações no formato online para download (acesse aqui).
“É muito importante esta publicação, para mostrar o que nós temos, o resultado de nossas lutas e também os temas de interesse das mulheres que vamos tratar na campanha, como igualdade salarial entre homens e mulheres”, destacou a presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da CUT (Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira.
Ela lembrou que a primeira grande conquista desta trajetória pelos direitos das mulheres do ramo financeiro foi a instituição da mesa de Igualdade de Oportunidade, em 2000. “Depois disso, veio uma série de conquistas, não só com artigos nas convenções da categoria, mas com a presença nossa nos espaços de discussões, com impacto do outro lado, nos bancos, que tiveram que aumentar a presença de mulheres nas negociações. Todo esse processo faz parte do trabalho de um comando que é plural e unitário nas lutas”, completou Juvandia, que também é uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários.
A secretária de Mulheres da CUT Nacional, Amanda Corsino, destacou no encontro a atuação do movimento sindical na construção da lei de igualdade salarial entre gêneros (n° 14.611/2023), de iniciativa do governo federal e que vem sofrendo ataques de entidades patronais.
“Um dos nossos motes nas campanhas salariais é a igualdade salarial. Então, como classe trabalhadora, nós vamos às ruas e ao judiciário para ampliar esse debate em defesa desta lei. Jamais aceitaremos que uma mulher, que faz o mesmo trabalho de um homem, ganhe menos”, disse, completando a importância de eleger mais mulheres nos espaços de discussão política, como uma estratégia para que as leis por igualdade e contra a violência de gênero efetivamente avancem no país.
“Somos mais da metade da população, também somos 28% de mulheres negras, porém apenas 25% dos políticos eleitos são mulheres nos parlamentos. Se continuarmos no ritmo como estamos, vamos demorar 145 anos para ter paridade na política”, comentou a presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região e um das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, Neiva Ribeiro. “Esse quadro precisa mudar, porque está comprovado que onde as mulheres estão, na política, as políticas sociais melhoram, porque entendemos que tipo de ações e de país precisamos para chegar na igualdade de gênero”, completou.
No evento, também foram avaliados os trabalhos do Basta! Não irão nos Calar!, programa de atendimento jurídico especializado e humanizado às mulheres em situação de violência doméstica, criado em 2019 e expandido, atualmente, pela Contraf-CUT, para doze entidades espalhadas entre as cinco macrorregiões do país. “Esse programa existe não só para atender as bancárias, mas também a sociedade que recebe muito do que conseguimos na nossa luta sindical. Só falando da violência de gênero e do assédio no dia a dia é que vamos conseguir uma sociedade melhor”, destacou Fernanda Lopes, secretária de Mulheres da Contraf-CUT.
A presidenta do Instituto Lula e ex-presidenta do do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, fez um importante balanço da participação da mulher e das conquistas delas nos espaços de decisão do movimento sindical. “Desde a criação da CUT, nos anos 1980, abrimos espaço com muita luta e avançamos significativamente. Mas ainda temos muito a avançar. A primeira vez que duas mulheres se tornaram coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, por exemplo, foi somente a pouco tempo, em 2018”, ressaltou.
A presidenta da Fetec-CUT/SP (Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito de São Paulo) e secretária de Formação do Sindicato, Aline Molina, avaliou que é preciso consolidar os avanços obtidos, ao mesmo tempo em que se discutem novos direitos às mulheres. “Estamos lidando, do ponto de vista histórico, com direitos muito novos. Foi apenas em 2023, por uma decisão do Supremo Tribunal Federal, de uma ministra mulher, Carmen Lúcia, é que a tese de legítima defesa da honra para crimes de feminicídio foi derrubada”, pontuou.
A recém-eleita representante dos empregados no Conselho de Administração da Caixa, Fabiana Uehara Proscholdt, observou que os trabalhadores devem se manter alertas para não haver retrocessos em conquistas. “Não faz muito tempo, em 2018, os bancos tentaram tirar o direito à PLR das mulheres que usaram a licença-maternidade e nós conseguimos impedir. Esse exemplo mostra que a defesa dos direitos já conquistados e a ampliação deles é um desafio que permanece”, lembrou.
O seminário contou com a presença da secretária Nacional de Autonomia Econômica e Política de Cuidados, ligada ao Ministério da Mulher, Rosane Silva, que veio do movimento sindical. “Historicamente, a categoria bancária foi fundamental para os avanços trabalhistas no Brasil. É a única categoria que tem negociação nacional, o que é muito importante. Sempre nos espelhamos, dentro da CUT, na experiência das bancárias, e isso está ligado ao protagonismo das mulheres bancárias”, lembrou. “A lei igualdade entre homens e mulheres [sancionada pelo presidente Lula em julho de 2023], só foi aprovada porque teve uma luta das mulheres, principalmente das do movimento sindical”, completou.
"O seminário foi um momento importante para a gente resgatar de onde nós viemos e por onde passaram as nossas lutas, a nossa formação, os obstáculos que nós enfrentamos para nos tornarmos uma Confederação que tem uma mesa de Igualdade de Oportunidades que faz 23 anos, e que teve tantos avanços que são marcos para a negociação coletiva no Brasil e no mundo. Uma mesa de negociação que ajudou a amparar, de alguma forma, a lei de igualdade salarial, que nós ajudamos a construir, participamos do grupo de trabalho para a sua implementação, e vamos continuar trabalhando para que ela seja uma realidade que mude a vida das mulheres", avalia a presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região.
"Entre muitas coisas que nós discutimos no seminário, nós tiramos uma moção em apoio às candidaturas femininas e nos comprometemos a fazer campanhas para que a gente um dia saia da 135ª posição do ranking de países com maior participação das mulheres nos parlamentos. Também vamos fazer campanhas para mudar a visão do judiciário no tratamento das mulheres em casos de violência de gênero. Temos visto na internet, em vários depoimentos, que juízes não sabem como tratar as mulheres e acabam as revitimizando, trazendo um novo sofrimento para as vítimas. Vamos dar muitos passos rumo a igualdade que a gente busca, que a gente luta, e que a gente constrói no dia a dia. Estou muito feliz com o resultado seminário", conclui Neiva.