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Com demissões, Itaú é o inferno para trabalhadores

Linha fina
Sindicato faz atividade lúdica para repudiar desligamentos de funcionários e assédio moral na região norte
Imagem Destaque

São Paulo – Uma atividade do Sindicato contra o Itaú chamou a atenção de quem passou pela Avenida Guilherme Cothing, na Vila Maria, na altura do número 1579, na quarta-feira 30.

Foi instalado um “Portal do Inferno” na entrada de agência para simbolizar as péssimas condições de trabalho, demissões e assédio moral na instituição. O ato foi motivado pelo desligamento de seis funcionários da zona norte, entre 28 e 29 de abril, e por diversas reclamações recebidas pelo Sindicato de trabalhadores revoltados com a sobrecarga e a falta de reconhecimento no trabalho.

“A revolta é ainda maior porque os funcionários demitidos estavam numa regional que está em primeiro lugar no Agir, um dos programas de metas do Itaú”, destaca a diretora do Sindicato Márcia Basqueira.

“Há um contrassenso enorme, já que, seja qual for o desempenho, todo mundo pode ser a próxima vítima”, informa a dirigente, afirmando que os trabalhadores estão temerosos.

“Ou o banco para com as demissões ou a gente vai fazer esse Portal do Inferno em cada agência em que houver desligamento”, garante Márcia.

Apoio - O ato, ocorrido entre 11h e 13h30, teve não só a participação de dirigentes sindicais, que denunciaram ao microfone a contradição entre os aumentos dos lucros e as demissões, mas também foi marcado por intensa sensibilização da população.

“Um cliente pediu o microfone para falar que nos apoiava. Outro, advogado, afirmou que temos de denunciar as demissões, que afetam o atendimento, para que a população cobre dos bancos e não dos trabalhadores, que vivem um verdadeiro inferno”, contou a dirigente.

De janeiro a março, o Itaú acabou com 733 vagas de emprego em todo o país. Considerando os últimos 12 meses, já são 2.759 vagas a menos. Enquanto isso, o lucro líquido cresceu 29% em relação aos três primeiros meses de 2013, com a cifra de R$ 4,529 bilhões.

> Lucro do Itaú cresce 29% no primeiro trimestre

Assédio – Além das demissões, a manifestação criticou o programa de metas utilizado pelo Itaú para assediar funcionários. As metas são inalcançáveis – principalmente pela falta de trabalhadores – e as avaliações, feitas por um colegiado de gestores, são subjetivas.

“As metas são impossíveis de se atingir. Por exemplo, nota do programa Trilhas vai até 5, mas nenhum trabalhador da zona norte obteve mais que 4. Ou seja, será que não tem nenhum caixa que tenha perfil diferenciado na regional norte? Tem um problema aí”, diz Márcia.

Ela acrescenta que muitas vezes os funcionários são penalizados individualmente pela má gestão do banco: “Caso algum cliente faça uma reclamação porque um funcionário está demorando no atendimento ou porque teve de se desdobrar para atender as filas (Única, Uniclass ou Preferencial), o caixa será penalizado. Mas o problema é institucional”, afirma a dirigente.

Metas absurdas – Outros problemas específicos das metas do Itaú também foram denunciados no protesto.

É comum que os relatórios de gestão sobre números de vendas venham com erros e os funcionários são obrigados a fazer controles paralelos.

Outro problema é que os caixas – que são avaliados não só pelas autenticações, mas também por vendas – são orientados a levar os clientes para o autoatendimento, mas mesmo que consigam vender algum produto, não conseguem pontuar a venda nessas máquinas.

Supervisores operacionais não ficam atrás quando se trata de excesso de trabalho e impossibilidade de atingir metas: “Eles são avaliados pelo Agir mensal, atendimento, migração de clientes para o autoatendimento e disponibilidade. Mas como cumprir 15% dos 100% na migração de clientes para o autoatendimento, se não têm tempo nem de fazer seu próprio horário de almoço?”, questiona a dirigente sindical.

Já os funcionários que estavam licenciados ou foram transferidos para agências com falta de bancários têm sua produtividade e vendas afetadas pela dificuldade de adaptação. “Mas não há uma tolerância e esses são avaliados da mesma forma que os outros. E não podem se negar a ir, pois poderão ser mal vistos no comitê de gerentes. Ou seja, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, resume Márcia.

“Se as demissões e o assédio moral não cessarem, vamos continuar a mostrar para todo mundo o inferno que é trabalhar no Itaú”, reforça a dirigente.


Mariana Castro Alves – 30/4/14

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