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Chapéu
O BUTIM DE ANA

Lucro do Santander chega a R$ 2,85 bilhões no 1º trimestre de 2018

Linha fina
Presidente mundial do banco comemora o maior resultado da história da filial brasileira em um trimestre; grande parte do lucro obtido por meio de altos juros, demissões e redução dos salários será remetido para a Espanha sem precisar pagar impostos que poderiam financiar saúde e educação
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Charge: Marcio Baraldi

Demissões e redução de salários estão na base do lucro de R$ 2,85 bilhões apresentado pelo Santander apenas nos três primeiros meses de 2018. A alta foi de 25,4% em relação ao mesmo período do ano passado. A unidade brasileira do banco espanhol é responsável por 27% do lucro global do conglomerado financeiro.

“Foi um lucro construído em cima da exploração dos trabalhadores do banco e da população brasileira por meio das demissões e contratações com salários cada vez mais baixos e das altíssimas taxas de juros e tarifas cobradas dos clientes”, critica Maria Rosani, coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Santander e diretora executiva do Sindicato.

De janeiro a março, o Santander registrou aumento de 10% no lucro global, para 2,054 bilhões de euros, na comparação com o primeiro trimestre de 2017.

“O ano de 2018 começou bem, com o grupo gerando um crescimento de lucro de dois dígitos, impulsionado por fortes resultados no Brasil, Espanha e México (...)”, comemorou a presidente do Santander, Ana Botín, em comunicado divulgado na terça-feira 24.

“Quase todo esse lucro altíssimo obtido no Brasil é remetido para os acionistas e sócios no Brasil e na Espanha sem precisar pagar um centavo em impostos que poderiam financiar a saúde e a educação aqui no país, ou fica represada nos bolsos de alguns diretores executivos brasileiros na forma de remunerações e bônus milionários”, ressalta Rosani .

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Executivos ganham 136 vezes mais que escriturário

De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), cada um dos 44 diretores executivos do Santander recebeu, em média, R$ 7,2 milhões em 2017, totalizando R$ 320 milhões. 

O valor inclui remuneração fixa, variável e ações, e representa 28% a mais do que o que foi pago em 2016, quando cada um ganhou em média R$ R$ 5,6 milhões, totalizando R$ 251 milhões. 

Os ganhos dos executivos do Santander em 2017 são 136 vezes maiores do que aquilo que um escriturário do banco ganhou no mesmo ano.

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Lucros e dividendos pagos aos acionistas não pagam impostos

Os acionistas e sócios dos bancos como o Santander não pagam imposto de renda quando recebem dividendos e lucros – seja no exterior ou no Brasil –, graças a Lei 9.249, sancionada em 1995 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.

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Lucro por meio da exploração 

As receitas de prestação de serviços e tarifas bancárias tiveram alta de 11,5%, chegando a R$ 4,134 bilhões. Apenas com essa receita, o Santander cobre o total de sua despesa de pessoal, incluindo PLR, e ainda sobra R$ 1,8 bilhão.

A despesa de pessoal do banco cresceu apenas 4,9%. Se as despesas com PLR forem desconsideradas, a despesa de pessoal teria caído 2% em 12 meses, influenciada pela despesa de remuneração dos trabalhadores que apresentou queda de 8% em relação ao primeiro trimestre de 2017.

“Esse dado comprova que o banco usa da rotatividade para lucrar mais e aumentar os bônus dos diretores executivos, por meio da demissão e recontratação de funcionários novos com salários mais baixos”, avalia Maria Rosani.

500 demissões somente na base do Sindicato 

O número de funcionários chegou a 48.855, com crescimento de 1.958 postos de trabalho em um ano. Mas o aumento se deveu a incorporação das empresas de tecnologia Produban e Isban efetivadas no primeiro trimestre de 2018.

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“Os postos de trabalho podem ter aumentado por causa da incorporação da Produban e da Isban, mas a realidade é que o Santander continua demitindo e sobrecarregando os funcionários remanescentes”, afirma Maria Rosani.

Somente na base do Sindicato, que engloba São Paulo  e outros 15 municípios, o Santander já demitiu mais de 500 trabalhadores nos primeiros quatros meses de 2018.

Aumento da exploração e da sobrecarga

Em março de 2017, o banco espanhol tinha 800 clientes por empregado. Um ano depois essa relação cresceu ainda mais: 828 clientes para cada bancário. Aumento de 3,4%.

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“Além disso, a direção brasileira do banco espanhol se utiliza da gestão do medo para pressionar e ameaçar quem não entrega resultado, o que gera um grande número de adoecimentos. Muitos funcionários perdem a saúde diante desse ambiente de trabalho massacrante e continuam trabalhando mesmo em posse de atestados médicos recomendando afastamento, porque sabem que correm o risco de serem demitidos ao retornarem ao trabalho”, afirma Maria Rosani.

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Rentabilidade maior

Com o resultado obtido no primeiro trimestre, a rentabilidade da unidade brasileira do banco espanhol atingiu 19,1%, aumento de 3,2 pontos percentuais.

A carteira de crédito atingiu R$ 280,398 bilhões com elevação de 9% nos últimos 12 meses. Destaque para crédito a pessoa física, com alta de 21% e financiamento ao consumo com elevação de 22%.

O índice de inadimplência ficou em 2,9%, mostrando estabilidade no último ano.

As receitas das operações de crédito tiveram alta de 10%, chegando a R$ 12,1 bilhões, e o resultado com títulos e valores mobiliários apresentaram alta de 19%, chegando a R$ 6,1 bilhões.

O numero de agências do banco chegou a 2.254, aumento de quatro unidades em 12 meses.

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