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Chapéu
Presenteísmo

Quase metade da categoria bancária já trabalhou doente

Linha fina
Em pesquisa do Sindicato, 47% dos entrevistados disseram que, mesmo sem condições de saúde, não se afastaram das atividades profissionais; situação deve se agravar com reformas de Temer
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Foto: George Hodan / CC0 Public Domain

São Paulo – A ocorrência do presenteísmo é uma triste realidade no setor bancário. O termo se refere à prática de trabalhar mesmo doente, sem condições, por medo de perder o emprego ou ser discriminado e perseguido no local de trabalho. 

Em pesquisa realizada pelo Sindicato entre abril de 2016 e abril deste ano, com 4.848 bancários, 47,21% dos entrevistados afirmaram que já trabalharam doentes. Quando perguntados se conhecem alguém que já trabalhou adoecido, 48% responderam de forma afirmativa.

“O presenteísmo é extremamente prejudicial aos trabalhadores. Por medo de retaliação, ou até mesmo de demissão, o empregado adoecido não se afasta, não se trata adequadamente, agravando seu estado de saúde. Além disso, ele pode ser demitido mesmo doente, sem ter se afastado, e adoecido não consegue outro emprego. E, se não se afastou, ao ser desligado o trabalhador tem menor chance de ter sua incapacidade reconhecida pelo INSS”, explica o secretário de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato, Dionísio Reis.

O dirigente enfatiza que bancários não devem colocar em risco sua saúde por medo de retaliações do banco. “O bancário vende sua força de trabalho ao banco, não sua saúde. É direito dele se afastar e se tratar adequadamente quando adoecido. Qualquer retaliação ou perseguição deve ser denunciada ao Sindicato por meio do canal Assuma o Controle, pela Central de Atendimento (3188-5200), WhatsApp (97593-7749) ou ainda via contato com os dirigentes.” 

Para a médica sanitarista e pesquisadora da Fundacentro Maria Maeno, a consolidação da terceirização irrestrita, já sancionada por Temer, e as reformas trabalhista e da Previdência devem agravar ainda mais a situação. Ela reforça que, com a desregulamentação das relações de trabalho e a redução dos direitos sanitários e previdenciários, existe uma tendência de aumento do presenteísmo. 

“A pesquisa reforça a nossa afirmação de que milhares de pessoas trabalham doentes e muitas vezes sem se tratar adequadamente, configurando uma situação de presenteísmo. Isso faz com que muitas doenças se agravem e se tornem crônicas, tornando a recuperação lenta, difícil e sofrida. Se a terceirização das atividades-fim se consolidar, aumentando a instabilidade no emprego, e o acesso à Previdência Social for dificultado, essa situação vai piorar”, avalia Maeno. 

Em artigo, o jurista Jorge Souto Maior alerta para o fato de a reforma trabalhista dificultar a indenização por danos morais diante do assédio estrutural, advindo da cobrança por metas abusivas, uma das principais causas de adoecimento na categoria bancária.

“Não chega a culpar a vítima [reforma trabalhista], mas permite que se veja na omissão, ou no ato de não reagir às ofensas, uma excludente do dano, tomando-a como um perdão tácito. A previsão é muito grave, pois, como se sabe, em estado de dependência, ou seja, podendo correr o risco de serem “mandados embora”, os empregados tendem a suportar as ofensas morais sem emitir objeção, sintomatizando, inclusive, o sofrimento”, explica Souto Maior.

Outros dados – A pesquisa do Sindicato também identificou que 39% dos entrevistados já foram acometidos por doenças relacionadas ao trabalho. Sobre o tempo de afastamento, 56,43% disseram que não ficaram afastados do trabalho, 19,6% ficaram sem exercer suas atividades por até 15 dias e 15,28% por período superior. “As porcentagens de bancários que já trabalharam doentes [47,21%] e dos que nunca se afastaram [56,43%] podem ser indicadores da elevada ocorrência do presenteísmo no setor financeiro”, avalia Dionísio. 

Reaja – O Sindicato convoca os trabalhadores a protestar contra as reformas, tanto a trabalhista como a da Previdência, que acabam com os direitos. Além de participar das mobilizações promovidas pelo movimento sindical, os bancários podem enviar mensagens aos deputados (bit.ly/DepSP) e senadores (bit.ly/ SenadoBR) protestando contra a retirada de direitos. Confira também os que já votaram contra os trabalhadores e nunca mais vote neles!

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