Na manhã desta segunda-feira, 24 de abril, o Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região foi homenageado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) - por iniciativa do deputado estadual e ex-presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino - pelos 100 anos de lutas da entidade em defesa dos direitos da categoria, da classe trabalhadora como um todo, e da democracia.
Assista a íntegra da solenidade no final da matéria.
Trabalhadores em todos os espaços de representação democrática
"Para nós é muito importante realizar essa sessão solene porque nós sempre defendemos - além do sindicato coorporativo, que é o sindicato que defende o emprego, os salários, as condições de trabalho - que um sindicato tenha de ser um sindicato cidadão, que possa ocupar todos os espaços do legislativo, do judiciário, do executivo, a partir dos nossos trabalhadores. (...) A gente sabe que além do nosso trabalho, das nossas condições de trabalho, do nosso emprego, o trabalhador precisa de educação, de saúde, de segurança pública, da defesa do meio-ambiente. Tudo isso passa e perpassa pelos espaços legislativos. Então poder, hoje, comemorar os 100 anos do Sindicato numa casa legislativa é muito importante", destacou no discurso de abertura da sessão solene o deputado estadual e ex-presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino.
"Quando comemoramos os 100 anos do Sindicato aqui na Alesp estamos demonstrando para a sociedade a importância da categoria bancária. Estamos falando de uma categoria que perpassou, ao longo de 100 anos, por muitos desafios. Conquistamos a jornada de seis horas, os vales refeição e alimentação, a PLR, a igualdade de oportunidades, a licença-maternidade de seis meses. Tudo isso é conquista de muita luta e organização (...) É um sindicato que passou pelas Diretas Já, pela redemocratização, pelo impeachment do Collor, e sempre teve seu papel de vanguarda e da linha de frente das organizações sociais. É um sindicato que ajudou na criação do PT, da CUT. São os espaços de representação da sociedade. Nós representamos os trabalhadores nos locais de trabalho, mas também é necessário que representemos os trabalhadores na sociedade"
Luiz Cláudio Marcolino, deputado estadual e ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região
Muito além da defesa da categoria bancária
No seu discurso durante a homenagem na Alesp, Ivone Silva, presidenta do Sindicato, destacou que a atuação da entidade extrapola os limites da categoria bancária.
"É uma homenagem merecida pelo papel do Sindicato não só na categoria bancária, mas também na transformação da sociedade. São 100 anos em que nós lutamos pela democracia do país. Todos os momentos em que a democracia esteve ameaçada, nós estávamos lá defendendo a democracia. E o último foi ao golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, que veio em forma de impeachment, mas foi um golpe. E nós fomos para as ruas contra esse golpe e sempre dizíamos que o golpe não era contra uma presidenta, mas sim contra todos os trabalhadores. E, infelizmente, isso se concretizou depois. Veio uma reforma trabalhista, em que foram retirados vários direitos. Mas a categoria bancária soube se organizar, defender seus direitos, e também ir para as ruas defender os direitos de todos os trabalhadores. E, hoje, conseguimos retomar a democracia no país, com vários parlamentares eleitos dos trabalhadores, parlamentares negros, principalmente mulheres negras. A sociedade ela tem gênero, ela tem raça. A classe trabalhadora não é uma coisa só. Ela tem diferenças dentro dela. A luta é para igualar todos em questões de direitos, de respeito da sociedade. É para isso também que o Sindicato existe. Para que cada um possa ser o que quiser. Por uma sociedade democrática, livre, com respeito a todos. Nossa luta vai muito além da categoria bancária por isso."
Ivone Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região
Centenário, mas sempre na vanguarda
Ivone também enfatizou que o Sindicato dos Bancários, mesmo sendo uma entidade centenária, acompanha as transformações da sociedade e está na luta em defesa dos direitos e por mais conquistas em questões como, por exemplo, a regulamentação do teletrabalho e a apropriação da tecnologia em benefício dos trabalhadores.
"Estou muito feliz de estar aqui, de ser a atual presidenta nesses 100 anos do Sindicato. Um Sindicato que é o seu tempo. Apesar dos seus 100 anos, é um Sindicato extremamente moderno nas suas pautas. Já discutimos a questão do teletrabalho, que ainda não é regulamentado no país, mas nós já temos. Discutimos também a redução da jornada, de ter quatro dias de jornada por semana. Hoje a tecnologia permite que se diminua várias formas de trabalho. Então, por que não o trabalhador se apropriar disso. Colocamos isso na nossa minuta de reivindicações do ano passado e queremos que todos os trabalhadores tenham essa diminuição de jornada. Nós pensamos nessa questão de a tecnologia ir ocupando o espaço de todos e como, a partir disso, ainda termos trabalho. E uma das formas será a diminuição da jornada", destacou a presidenta do Sindicato.
Uma jornada centenária
Por sua vez, em uma fala que emocionou todo o plenário da Alesp, o ex-presidente do Sindicato, Gilmar Carneiro, fez um resgate histórico da jornada centenária do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, com destaque para a luta pela redemocratização do Brasil.
"Eu falei para o Gushi (Luiz Gushiken, ex-presidente do Sindicato e ex-deputado federal) que só topava ir para o Sindicato se nós fizéssemos a luta contra a ditadura. Fomos para o Sindicato, fui preso na greve de 78 no Banco do Brasil, e depois em 79 fizemos uma greve meio doida. Mesmo perdendo, foi fundamental para melhorar a autoestima da categoria. E ganhamos o Sindicato em 79, em uma chapa única, de frente ampla, junto com o pessoal do partidão, da Libelu, da Convergência. Tínhamos os nossos maluquinhos. Eu maluquinho. A Tita Dias uma incendiária. Tinha a turma boa de briga. Era enfrentando porrada e prisão. E, já nessas greves de 79, as mulheres eram maioria nos piquetes. Os homens, como eram os comissionados, os gerentes, eles se escondiam mais. Já as mulheres não. Elas faziam passeatas, piquetes, paravam vendedor de peixe e colocava o carro de som dos peixeros para pressionar os banqueiros", lembrou Gilmar Carneiro.
"O processo de construção do PT, da CUT, foi tudo na briga, na pressão. E essa assembleia foi importante. Teve noite que passamos aqui, que dormimos aqui, porque a repressão estava muito pesada para cima de nós (...) Nesse processo nós evoluímos muito. Tivemos o papel do Gushiken na constituinte, que foi extraordinário. O maior estrategista nosso, até hoje, foi Augusto Campos, que precisa ser mais relembrado na história. Uma erudição extraordinária, uma humildade maravilhosa e ensinava a gente o que era luta de classe, o que era sistema financeiro", acrescentou.
Defesa da democracia
Na sua fala, a ex-presidenta do Sindicato e atual presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira, falou sobre o papel do Sindicato na defesa da democracia.
"Uma marca nossa é a defesa da democracia. Pensar a classe trabalhadora é outra grande marca. Nós que construímos a maior negociação coletiva nacional que temos no Brasil, a dos bancários, uma referência para o futuro. (...) E a luta pela democracia sempre esteve presente. Nós passamos por cinco intervenções militares. A última foi muito recente. Em 1983 a diretoria foi deposta. Uma entidade como a nossa ser atacada dessa forma é porque lutava. Lutava por direitos, pela democracia, por um Brasil melhor, para fazer as reformas de base, para fazer a classe trabalhadora ser incluída e respeitada, pudesse participar e ter voz no país. Então, é um orgulho muito grande fazer parte dessa história, destes 100 anos".
Mulheres
Juvandia também lembrou do papel das mulheres nestes 100 anos de Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.
"Eu não podia deixar de falar das mulheres. Na construção desta nossa história, desde 1923 as mulheres poder ser sindicalizar, mas naquela época elas ainda não podiam fazer concurso para os bancos públicos, o que só aconteceu na década de 1960. Então, foi uma luta muito grande. Quero homenagear aqui a Consuelo, uma das mulheres que entraram na nossa diretoria, lá na década de 40, que eu tive o prazer de conhecer, ela com mais de 80 anos, lutando por creche no seu bairro, e dizendo que queria contribuir até depois de morta, pois iria doar seu corpo para o hospital escola da USP. É de verdade uma história muito bonita. De consciência política, de luta, participação, de desejo de transformação. E fazer parte de um sindicato, na década de 40, não era fácil. E ver hoje tantas mulheres na nossa direção executiva. Quando eu e a Ivone viemos para a executiva, éramos duas apenas. Hoje somos dez mulheres e dois homens. Inverteu. É parte da história", disse a presidenta da Contraf-CUT.
"Ainda temos muita coisa a se fazer por essa igualdade, pela equidade. Para a gente chegar na igualdade de oportunidades, igualdade de direitos, respeito, acabar com a violência. Essa luta ainda vai muito longe. Então acho que é muito importante, enquanto símbolo para o Sindicato, para as mulheres, para a classe trabalhadora, ver o nosso Sindicato ser liderado por mulheres, obviamente com todos os companheiros juntos e apoiando essa luta. Ninguém faz nada sozinho. Nós construímos 100 anos de história com a coletividade" acrescentou.
Ao final das falas dos representantes do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, subiram ao púlpito para homenagear o centenário da entidade os deputados estaduais Eduardo Suplicy (PT-SP) e Paulo Fiorilo (PT-SP); e o presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo.