São Paulo – Preto foi a cor predominante na manhã desta quinta-feira 7 na Avenida Paulista. O Sindicato promoveu um cortejo fúnebre para protestar contra a precarização do trabalho e chamar a atenção da população sobre os riscos da terceirização. Placas estampavam o rosto de cada parlamentar que traiu os trabalhadores ao votar a favor do projeto de lei 4330 na Câmara dos Deputados.
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Cerca de 200 pessoas participaram do ato. Da estação Brigadeiro à Trianon do metrô, estátuas vivas faziam parceria com cartazes nos quais os cidadãos podiam conferir deputados e partidos que apoiaram o PL da terceirização. E ainda informavam o contato dos três senadores eleitos pelo estado de São Paulo – Marta Suplicy (sem partido), Aloysio Nunes (PSDB) e José Serra (PSDB) – que devem ser pressionados para que o projeto, que no Senado leva o nome de PLC 30/2015, não seja aprovado.
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“Se o projeto fosse bom para os trabalhadores, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) não estaria fazendo propaganda na TV dizendo que é bom, pois eles defendem a indústria e não a classe trabalhadora. Agora é hora de pressionar os senadores e dizer que você, como trabalhador, não concorda com o projeto de lei”, destacou a secretária-geral do Sindicato, Ivone Maria da Silva.
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> Como o PL da Terceirização prejudica
A presidenta da entidade, Juvandia Moreira, fez um alerta e convocou todos para a paralisação nacional marcada para 29 de maio. “Tem gente que ainda não acordou. É preciso lutar. O Congresso Nacional quer acabar com os direitos que conquistamos. Temos 40 milhões de trabalhadores no Brasil, contratados que perderão seus direitos. Não terão direito a férias, nem a 13º salário. Nosso luto hoje é nossa denúncia pelos deputados que votam pelos empresários e não pelos trabalhadores”, reforçou a dirigente.
Trabalhador é contra! – Difícil era encontrar na Paulista algum trabalhador a favor da terceirização da atividade-fim. “Sou contra. Acredito que vai acabar banalizando a CLT, que por mais defeitos que tenha, preserva nossos direitos. As empresas não serão mais obrigadas a contratar ninguém pela CLT, apenas prestadores de serviço. Os trabalhos como segurança e limpeza, que são permitidos serem terceirizados, já são precários hoje em dia. Vai virar uma selva”, afirmou Arthur Silva, designer gráfico, registrado na carteira de trabalho há três anos e que possui direitos como vale-transporte, vale-refeição e convênio médico.
“Sou completamente contra a terceirização da atividade-fim, como foi aprovada na Câmara. Isso significa retirar direito do trabalhador. O que acho necessário é regulamentar e fiscalizar atividades precárias. Terceirização pra mim é estado de precarização do trabalho”, ressaltou Carlos, bancário que passava pela Paulista no momento da manifestação.
Vida real do terceirizado – Um funcionário da segurança de um banco com agência na região aproveitou o horário de almoço para se misturar aos que protestavam contra a terceirização. Ele presta serviço para o mesmo lugar há oito anos e, no entanto, já passou por cinco empresas terceirizadas diferentes. “É uma bagunça. Eles chegam com a papelada pra você assinar e automaticamente fazem a mudança”, explicou. “Cada vez que trocam precisamos pedir demissão. Nem o FGTS dá pra sacar”, continua. Enquanto os bancários da instituição onde ele faz segurança ganham R$ 25 reais de auxílio-refeição ao dia, conquista das campanhas da categoria, ele recebe R$ 17. “Auxílio-supermercado eu não recebo. O convênio médico? Vixi, é muito ruim. Quando preciso, tenho que usar o SUS mesmo”, revela. Aos 26 anos, depois de tomar conhecimento do que significa o projeto de lei da terceirização, que autoriza a prática também para a atividade-fim, ele se entristece e conclui: “É moça, agora é que eu não vou conseguir um emprego em um banco como esse mesmo”.
Finalizando o ato, a presidenta do Sindicato convocou os bancários a engrossar a luta pelos seus direitos. “Os banqueiros falaram na mesa de negociação: nós queremos terceirizar tudo! Temos 92 anos de organização no país, somos 500 mil bancários no Brasil trabalhando para as empresas que mais lucram no país. Eles querem acabar com tudo o que a categoria construiu. Vamos lutar e não vamos permitir”, concluiu Juvandia Moreira.
Gisele Coutinho – 7/5/2015