São Paulo - A greve geral histórica do dia 28 de abril mostrou a força do movimento sindical brasileiro no momento em que o Brasil passa por um golpe nos direitos trabalhistas. Essa foi a avaliação de Maria Robalino, sindicalista norte-americana que atua na AFL-CIO (Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais), a maior Central operária dos Estados Unidos e Canadá.
Ela participou na manhã dessa terça-feira 2 de um debate na sede da CUT (Central Única dos Trabalhadores) com mais quatro jovens sindicalistas negros dos Estados Unidos. O debate faz parte de uma série de encontros e atividades desenvolvidas pelos sindicalistas, que vieram ao Brasil trocar experiência sobre o mundo sindical e a questão racial nos dois países.
“Fiquei impressionada. O Brasil parou na sexta-feira 28, isso mostra a grande força do movimento sindical”. Para ela, o pacote de medidas de austeridade do governo brasileiro tem semelhança com o atual governo americano.
“As medidas de Trump vão impulsionar uma economia mais conservadora, as leis trabalhistas que eles querem implantar são atrasadas. Inclusive proíbe que os trabalhadores sejam sindicalizados, e há nos EUA uma lei em andamento que diminui a força dos sindicatos”.
A atividade que segue até o dia 4 foi organizada pelas secretarias de Combate ao Racismo, Juventude e Internacional.
O discurso de Robalino foi reforçado por João Felicio, presidente da CSI (Confederação Sindical Internacional) que vê o mesmo movimento no Brasil. “O governo dos EUA e o governo brasileiro fazem um ataque frontal ao mundo sindical, querem retirar direitos para enfraquecer o papel dos sindicatos. Este é o principal objetivo da reforma trabalhista”, afirmou.
Direitos trabalhistas e racismo institucional - Quando se fala em perdas de direitos, a população negra é a principal prejudicada já que ela ocupa os postos de trabalho mais precarizados. Tanto os EUA quanto no Brasil, o racismo é algo institucionalizado dentro do mercado de trabalho.
“Os jovens negros começam ocupando os empregos mais precários como o fastfood nos EUA”, lembrou Courtney Kenkis, representante do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios Americanos, da AFL-CIO e presidente do Comitê da Coalizão dos Sindicalistas Negros de Baltimore.
De acordo com Courtney, o movimento sindical americano promove um debate profundo sobre a questão racial. “Muitas pensam que sindicatos só serve para fazer negociação salarial. Entretanto, um ataque aos direitos, às leis, é um ataque aos negros”.
Sistema prisional e violência policial
Os índices de encarceramento nos EUA impactam desproporcionalmente a população negra. Um em cada 15 homens negros e um em cada 36 homens latinos são encarcerados em comparação a um em cada 106 brancos.
Rachel Bryan, do INEW (Sindicato Internacional dos Trabalhadores no Setor Elétrico) e representante Internacional do Departamento Cívico de Apoio afirma que por conta do racismo, ela é classificada como uma “trabalhadora em desvantagem” por ser negra e ex-presidiária.
“Nosso nível de encarceramento é cinco vezes mais de que em qualquer país do mundo, e a maioria são negros. As leis se concentram nas comunidades negra”, enfatizou.
Emocionado em sua fala, Kenkis emendou: “É uma dor geracional que carregamos nas costas. Para se ter uma ideia, os jovens negros ganham penas de adulto por cometer pequenos delitos. A violência policial é histórica nos EUA, é um problema em crescimento e atinge também os membros de sindicatos”.
Secretaria-adjunta de Combate ao Racismo da CUT, Rosana Fernandes, também tratou dá questão carcerária e apontou que o encarceramento em massa é um grande negócio no Brasil e no mundo.
“Existe uma expectativa deste governo golpista de privatizar o sistema carcerário – e é importante ver a situação dos jovens negros no Brasil”.