O BB tem utilizado constantemente seus canais de comunicação para tentar convencer os funcionários da importância das mudanças sugeridas pelo relatório da consultoria Accenture para o custeio da Cassi. O Sindicato, contudo, rechaça a tentativa do banco fazer uso desse “diagnóstico” para quebrar o princípio da solidariedade e propor cobrança por dependente, onerando principalmente os participantes que ganham menos.
Ernesto Izumi, diretor executivo do Sindicato e funcionário do BB, lembra que o banco quer também acabar com o rateio de contribuição para a caixa de assistência, hoje 60% pago pelo Banco do Brasil e 40%, pelos trabalhadores. E acrescenta que a proposta também extingue a paridade na gestão, com duas diretorias nas mãos de representantes do mercado e o voto de minerva para o banco.
No último comunicado aos funcionários por meio da Agência de Notícias, o BB, para justificar o relatório da consultoria e onerar mais os associados, salienta que “a relação sobre a cobertura e o custeio do Plano de Associados torna-se um desafio ainda maior quando se analisa a inflação no setor de saúde, que capta a elevação de preços promovida por hospitais, clínicas e laboratórios em seus serviços.” O texto diz que “de 2008 a 2017, a inflação do segmento totalizou 108,84%, enquanto o IPCA acumulou 79,98% no mesmo período” e que “em relação ao Plano de Associados, a evolução das despesas em saúde foi ainda maior.” E continua: “Entre 2008 e 2017, houve crescimento de 118,21% nos gastos com assistência médica”.
O BB esquece ou finge esquecer que em 2007 houve uma negociação com várias entidades a respeito de sucessivos déficits da Cassi à época. Naquela ocasião, o banco se comprometeu a expandir a rede de Clinicassi para ampliar a adesão à Estratégia Saúde da Família (ESF).
“O que se verificou, contudo, foi uma estagnação da ampliação do modelo por parte da Diretoria Financeira e da Presidência, ambas indicadas pelo BB, que utilizaram apenas os aportes provenientes do BET (Benefício Especial Temporário) do Plano 1 da Previ para maquiar ou esconder os déficits, não realizando quaisquer investimentos”, lembra Ernesto Izumi, acrescentando que em 2007 o diagnóstico apontava que era preciso priorizar a ESF para redução de custos a longo prazo. “Dez anos depois, o relatório da Accenture aponta para o mesmo diagnóstico. Não podemos afirmar que apenas a inflação é a responsável. O BB tem grande responsabilidade por não cumprir o que foi apontado e acordado em 2007”, acrescenta o dirigente.
Irresponsabilidade
No texto da Agência de Notícias, o banco ainda trouxe a opinião de José Caetano Minchillo, diretor de Gestão de Pessoas do BB, que “lembra que os levantamentos da Accenture sobre cobertura e custeio são extremamente relevantes para se ter uma dimensão dos desafios do Plano de Associados, mas destaca que merecem reflexão outros aspectos de mesma importância presentes no diagnóstico da consultoria, como gestão e governança”. “A consultoria nos trouxe evidências de que a gestão e a governança da Cassi ainda podem avançar bastante e precisam ser debatidas com os associados”, conclui.
Ernesto Izumi contesta a afirmação. “Engraçado o banco retirar de suas responsabilidades a condução da Cassi, dizendo apenas que é necessário restringir o papel dos eleitos com a criação de mais diretorias. Afinal de contas, não querem reduzir as despesas? Como? Criando mais burocracia?”, questiona.
O diretor de Gestão de Pessoas, lembra o dirigente, deveria olhar mais para as suas responsabilidades, pois o alto índice de adoecimento dos funcionários é resultado de uma gestão de pessoas ineficiente e que leva a um maior consumo na Cassi. “Lembramos que o PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional), que deveria ser referência em estratégias de prevenção de saúde dentro do próprio banco, é de responsabilidade desse gestor. Entretanto, sabemos como é feito esse processo nas dependências e, mesmo com os relatórios obtidos, nada é feito”, ressalta Ernesto.
Batalha de comunicação
O dirigente sindical acrescenta que o BB muitas vezes esquece, ou finge esquecer, que a gestão da Cassi tem de ser compartilhada. “O banco usa de comunicados para tentar convencer os funcionários que a proposta é boa, sem debater com os associados. Nós queremos que o banco venha para a mesa de negociação. Mudanças estatutárias na Cassi têm de passar por um plebiscito, onde são os funcionários que decidem”, lembra Ernesto, acrescentando que o único ponto em que a consultoria acerta em seu relatório é a necessidade de investimentos na Estratégia Saúde da Família (ESF), que busca atuar de forma preventiva.
“É importante que os funcionários leiam as matérias no site do Sindicato e da Folha Bancária para que não fiquem apenas com informações dessa batalha de comunicação que o banco faz, tentando convencer a todo custo os funcionários que as mudanças sugeridas pelo relatório são a única alternativa para a Cassi”, finaliza o dirigente.