Em artigo sobre o 13 de Maio, a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Ivone Silva, lembra que, apesar dos 132 anos da abolição da escravatura no país, a população negra se manteve marginalizada e sem o amparo do Estado. Segundo ela, as oportunidades só serão iguais para todos quando houver políticas públicas eficazes de combate às desigualdades por parte do governo. Leia o artigo:
Faz 132 anos que o Brasil aboliu a escravatura. Sabemos que a população negra foi abandonada, sem direitos resguardados, se manteve marginalizada e sem amparo do Estado.
Os dados sociais de educação, saúde, trabalho, moradia no Brasil hoje mostram que as oportunidades continuam desiguais, em função do abandono de várias décadas. E não há avanço nesses índices sem igualdade de oportunidades.
Após décadas de descaso das políticas públicas de sucessivos governos, o percentual de negros no nível superior deu um salto e quase dobrou entre 2005 e 2015, durante os governos de Lula e Dilma.
Em 2005, um ano após a implementação de ações afirmativas, como as cotas, apenas 5,5% dos jovens pretos ou pardos na classificação do IBGE e em idade universitária frequentavam uma faculdade. Em 2015, 12,8% dos negros entre 18 e 24 anos chegaram ao nível superior. Os dados foram constatados pela Síntese de Indicadores Sociais – Uma análise das condições de vida da população brasileira. A pesquisa também mostra que os anos de ensino influenciam no salário: quanto maior a escolaridade, maior o rendimento do trabalhador.
Sabemos também que os negros representam maioria do total de pessoas desempregadas no país atualmente. A desigualdade está em todas as áreas.
Na categoria bancária, de acordo com dados da RAIS/MTE, em 2014, do total de admitidos nos bancos privados apenas 3,2% eram pretos, 18,3% eram pardos e 75,5% eram brancos. Nos bancos públicos, o percentual de admissões foi de apenas 4,1% pretos, 29,7% pardos e 63,3% brancos. Essa diferença de oportunidades pode ser percebida nas instituições financeiras. O Censo da Diversidade 2014 mostra que a participação de negros no setor teve um aumento pequeno nos últimos seis anos - apenas 5,7 pontos percentuais. Em 2014 apenas 24,7% da categoria bancária era composta de negros e negras.
Se o preconceito ainda mantém baixos índices de contratação e aumento de salários, a população negra também tem os piores atendimentos de saúde. Com o pouco investimento em saúde pública, o SUS se mantém precarizado e com um número reduzido de funcionários. E durante a pandemia do coronavírus podemos ter certeza do que é o racismo estrutural, quando grupos de empresários se sentem aliviados ao anunciar o fim do pico da pandemia para os ricos.
No país com um dos maiores índices de desigualdade do mundo, temos sete leitos por 100 mil habitantes no SUS, e na iniciativa privada são 32,8 leitos a cada cem mil habitantes. É preciso manter uma fila única de leitos, reunindo SUS e a rede privada. A prioridade é salvar vidas, independentemente da classe social do paciente. O contrário disso é um genocídio da população mais pobre, condenada a trabalhar para manter os lucros das empresas e sem chance de tratamento médico.
Não há saída além da luta e mobilização, e hoje é um dia de resistência!
* Formada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), com MBA em Finanças, Controladoria e Auditoria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Bancária do Itaú-Unibanco desde 1989, foi secretária-geral do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região no período de 2014 a 2017, quando tomou posse como a segunda mulher a presidir a entidade.