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Condições de trabalho nos bancos são monstruosas

Linha fina
Caso recente de funcionária do Itaú que abortou e continuou trabalhando revela realidade dos bancários obrigados a encarar desrespeito diário da sobrecarga causada pela falta de mão de obra em um setor que lucra bilhões e dá pouco retorno à sociedade
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São Paulo - Ao se agachar para abastecer um caixa eletrônico, uma bancária do Itaú em Tocantins sentiu um sangramento escorrer pelas pernas. “Colegas me ajudaram e recolhemos uma substância que caiu no chão, que ficou guardada em uma embalagem de guardanapo em minha bolsa”, disse ela à BBC Brasil. “Logo depois, liguei para meu chefe em Belém e expliquei o que tinha acontecido, mas ele disse que não poderia me afastar, pois não tinha ninguém para me substituir.”

O que caiu no chão era um feto com um mês e meio de gestação. A funcionária continuou trabalhando por mais três horas, até fechar a tesouraria, pela qual era responsável. Ela não sabia que estava grávida e por isso não pensou que pudesse ter abortado.

“Foi um choque. Psicologicamente foi bem pior que fisicamente. Achei muito constrangedor ficar naquela situação, trabalhando ensanguentada depois da gravidade do que havia ocorrido”, afirma.

“O fato de ela ter continuado a trabalhar, colocando o interesse do banco à frente do seu, já mostra o nível de seu abalo emocional provocado pelo assédio moral que sofria”, diz a procuradora do Ministério Público do Trabalho do Tocantins Mayla Alberti, responsável pelo caso.

“Essa situação extrema evidencia a realidade das condições de trabalho nos bancos, onde muitos trabalhadores não tem tempo sequer para almoçar ou ir ao banheiro devido à falta de funcionários, e que por isso são obrigados a encarar diariamente a sobrecarga de trabalho, o assédio moral e a ameaça de demissão”, reforça a secretária-geral do Sindicato, Ivone Silva.

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No início de maio, para citar o caso mais recente, o Sindicato fechou uma agência do Itaú na Vila Prudente que contava com apenas uma trabalhadora na área comercial.

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Pouco retorno à sociedade – Nos últimos dois anos, as três maiores instituições privadas que atuam no Brasil – Itaú, Bradesco e Santander – cortaram 15 mil postos de trabalho. No mesmo período viram seus lucros aumentar substancialmente de R$ 7,9 bi para R$ 11,7 bi, aumento de 46,9%.

Já o que os bancos arrecadam com tarifas cobradas dos clientes saltou de R$ 97,1 bi em 2013 para R$ 107,5 bi em 2014, variação de 10,8%. Esse número representa 128% dos gastos com as folhas salariais. Ou seja, somente com o valor das tarifas pagam todos os funcionários e ainda sobra muito dinheiro.  

“Esses dados atestam que os bancos tomam muito da sociedade, cobrando tarifas e juros exorbitantes, e devolvem muito pouco, seja na falta de qualidade de vida para seus trabalhadores, seja na criação de empregos ou ainda em serviços melhores à população”, afirma Ivone.

“É preciso que todos tenham consciência dessa realidade e se envolvam na luta para mudar esse quadro de desrespeito no qual o aborto da funcionária do Itaú infelizmente representa um trágico desfecho para a pressão e o assédio moral que os bancos praticam contra todos nós”, completa a secretária-geral do Sindicato.
 

Redação com informações da BBC Brasil – 8/6/2015

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