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São Paulo – No epicentro da crise que acabou levando ao afastamento da presidenta Dilma Rousseff, o ex-secretário do Tesouro Arno Augustin defendeu o modelo adotado por gestões anteriores e afirmou que o governo interino, "se vingar", deixará o país mais diante da retomada do crescimento. Como exemplo, ele citou a proposta, da nova equipe econômica, de o BNDES restituir R$ 100 bilhões ao Tesouro. "O que é isso? Estão retirando recurso da economia real para jogar no mercado financeiro", disse Augustin, na tarde de quarta 15, durante debate promovido pela Fundação Perseu Abramo.
A uma pergunta sobre auditoria da dívida pública, o economista respondeu que não via necessidade de realizar o procedimento. "Basta baixar a Selic", afirmou. Segundo ele, a alta taxa de juros de curto prazo é um dos fatores que restringem o investimento. "O investimento no Brasil sempre foi muito baixo", disse Augustin, para quem, mesmo assim, o país estava criando condições para retomar o crescimento.
Ele destacou mudanças na última década, quando as instituições públicas passaram a responder pela maior parte dos empréstimos, invertendo situação de 2002, quando o setor privado concentrava 66% do total. Além disso, em 2012, a taxa básica estava em seu menor nível histórico, 7,25% ao ano, subindo desde então para os atuais 14,25%, praticamente o dobro. "São coisas que mexeram com a especulação financeira, com o rentismo, que tradicionalmente é forte no Brasil", observou o economista, fazendo menção a uma série de reações que levaram, como disse, ao golpe contra o governo Dilma.
"O golpe é, antes de mais nada, uma destruição de tudo isso", disse o ex-secretário do Tesouro. A política mais evidente (de Michel Temer) é o teto de gastos públicos, que vai atingir saúde, educação, ciência e tecnologia. Evidente não é o caminho que vai levar ao crescimento", afirmou, destacando a alta influência dos juros sobre as finanças públicas. "Em 2015, o Brasil pagou R$ 500 bilhões de juros."
Sem ilusões - Para o economista, a política de redução da intervenção do Estado levará a uma recessão maior. Em sua análise, ele afirmou que é preciso "aprender a não ter ilusões", referindo-se a uma tentativa de viver de acordo com as regras do mercado financeiro. "No próximo período temos de fazer uma discussão programática firme com a sociedade brasileira."
Augustin afirmou que os defensores do controle de gastos agem religiosamente, "professam fé", como se tudo fosse se resolver a partir daí. "É uma opção política, não uma necessidade financeira", disse, também defendendo a política de desonerações. "Estamos num processo recessivo porque o Estado passou a ser usado para segurar a economia e não para incentivar. A pior política de desoneração é melhor que jogar dinheiro no mercado financeiro, a pior política industrial é bem melhor do que aumentar a Selic." A questão, acrescentou, é como lidar com os interesses dos grupos financeiros e políticos. "Acho que a esquerda deveria defender sua estratégia com mais rigor. E a questão do Estado é fundamental."
O economista também questionou o pretexto da inflação para aumentar os juros. "Os preços administrados, isto é, os preços decididos pelo governo, subiram 18% em 2015. Os preços livres subiram 8%. Essa dita inflação foi elevada por decisões governamentais", afirmou, citando itens como energia, Cide (tributo sobre comercialização de combustíveis) e loteria. "Vários desses preços vão cair. Esse aumento conjuntural é que elevou a inflação", argumentou.
Augustin chamou a atenção para a proposta do governo interino de estabelecer teto para gastos em áreas com educação, saúde e ciência e tecnologia, além de apostar em privatizações. "O Brasil não vai crescer se não tiver investimento em educação durante muitos anos, em ciência e tecnologia, se não tiver houver política de valorização do salário mínimo."
Vitor Nuzzi, da Rede Brasil Atual - 16/6/2016
A uma pergunta sobre auditoria da dívida pública, o economista respondeu que não via necessidade de realizar o procedimento. "Basta baixar a Selic", afirmou. Segundo ele, a alta taxa de juros de curto prazo é um dos fatores que restringem o investimento. "O investimento no Brasil sempre foi muito baixo", disse Augustin, para quem, mesmo assim, o país estava criando condições para retomar o crescimento.
Ele destacou mudanças na última década, quando as instituições públicas passaram a responder pela maior parte dos empréstimos, invertendo situação de 2002, quando o setor privado concentrava 66% do total. Além disso, em 2012, a taxa básica estava em seu menor nível histórico, 7,25% ao ano, subindo desde então para os atuais 14,25%, praticamente o dobro. "São coisas que mexeram com a especulação financeira, com o rentismo, que tradicionalmente é forte no Brasil", observou o economista, fazendo menção a uma série de reações que levaram, como disse, ao golpe contra o governo Dilma.
"O golpe é, antes de mais nada, uma destruição de tudo isso", disse o ex-secretário do Tesouro. A política mais evidente (de Michel Temer) é o teto de gastos públicos, que vai atingir saúde, educação, ciência e tecnologia. Evidente não é o caminho que vai levar ao crescimento", afirmou, destacando a alta influência dos juros sobre as finanças públicas. "Em 2015, o Brasil pagou R$ 500 bilhões de juros."
Sem ilusões - Para o economista, a política de redução da intervenção do Estado levará a uma recessão maior. Em sua análise, ele afirmou que é preciso "aprender a não ter ilusões", referindo-se a uma tentativa de viver de acordo com as regras do mercado financeiro. "No próximo período temos de fazer uma discussão programática firme com a sociedade brasileira."
Augustin afirmou que os defensores do controle de gastos agem religiosamente, "professam fé", como se tudo fosse se resolver a partir daí. "É uma opção política, não uma necessidade financeira", disse, também defendendo a política de desonerações. "Estamos num processo recessivo porque o Estado passou a ser usado para segurar a economia e não para incentivar. A pior política de desoneração é melhor que jogar dinheiro no mercado financeiro, a pior política industrial é bem melhor do que aumentar a Selic." A questão, acrescentou, é como lidar com os interesses dos grupos financeiros e políticos. "Acho que a esquerda deveria defender sua estratégia com mais rigor. E a questão do Estado é fundamental."
O economista também questionou o pretexto da inflação para aumentar os juros. "Os preços administrados, isto é, os preços decididos pelo governo, subiram 18% em 2015. Os preços livres subiram 8%. Essa dita inflação foi elevada por decisões governamentais", afirmou, citando itens como energia, Cide (tributo sobre comercialização de combustíveis) e loteria. "Vários desses preços vão cair. Esse aumento conjuntural é que elevou a inflação", argumentou.
Augustin chamou a atenção para a proposta do governo interino de estabelecer teto para gastos em áreas com educação, saúde e ciência e tecnologia, além de apostar em privatizações. "O Brasil não vai crescer se não tiver investimento em educação durante muitos anos, em ciência e tecnologia, se não tiver houver política de valorização do salário mínimo."
Vitor Nuzzi, da Rede Brasil Atual - 16/6/2016