São Paulo – A ampliação em ¼ da participação feminina no mercado de trabalho no Brasil expandiria a economia em até R$ 382 bilhões ao longo de oito anos. É o que mostra estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado na quarta-feira 21.
Segundo a OIT, as estimativas apontam que se a participação feminina crescesse 5,5 pontos percentuais, o mercado de trabalho brasileiro ganharia a mão de obra de 5,1 milhões de mulheres, o que levaria a aumento no poder de consumo de bens e serviços das famílias e também de recolhimento de tributos sobre a renda. A inserção de capital resultante acrescentaria, também ao longo de oito anos, R$ 131 bilhões apenas em receita tributária à União.
De acordo com a técnica da OIT em direitos fundamentais do trabalho, Thaís Dumêt Faria, para inserir as mulheres no mercado é fundamental investir em escolaridade. “Sabemos que muitas meninas abandonam a escola por questão de gravidez ou problemas familiares. Isso ainda é uma realidade”, disse, em entrevista à BBC Brasil.
A OIT informa que apenas 56% das mulheres em idade economicamente ativa estão empregadas no Brasil. Por outro lado, 78,2% dos homens na mesma faixa etária estão trabalhando. Mas o Brasil não é uma exceção, a média mundial é de 49,4% de mulheres empregadas e 79,1% de homens.
Para a diretora executiva do Sindicato Neiva Ribeiro, a maior quantidade de homens no mercado pode ser também consequência da dupla jornada das mulheres. “O trabalho doméstico, os cuidados com a maternidade e outras responsabilidades familiares ainda são majoritariamente femininos. Isso precisa mudar. Os homens precisam passar dividir com as mulheres os cuidados com a casa e os filhos”, diz a dirigente. Ela acrescenta que essa preocupação faz parte do curso Paternidade Responsável, oferecido pela Faculdade 28 de Agosto, e um pré-requisito para bancários que solicitarem a licença-paternidade de 20 dias.
Desigualdade – Apesar de apontar o crescimento econômico que resultaria da entrada de mais mulheres no mercado de trabalho, o estudo da OIT não calcula quanto representaria para a economia do país se as mulheres ganhassem salários equivalentes aos dos homens.
Segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, o rendimento das trabalhadoras do sexo feminino equivalia a 76% do dos homens em 2015. E essa diferença aumenta para cargos de gerência ou direção, nos quais o salário médio delas equivale a 68% do valor pago a eles, aponta o IBGE.
Setor bancário – A desigualdade se reflete no setor bancário, onde as mulheres ganham 77,9% da remuneração dos homens, apesar de terem nível de escolaridade maior: 82,5% das bancárias têm curso superior, enquanto que 76,9% dos bancários têm diploma universitário. Os dados são do II Censo da Diversidade, realizado entre os trabalhadores do setor em 2014.
Apesar de aplicado pela Fenaban (federação dos bancos), o Censo é uma conquista dos trabalhadores e foi instituído após pressão, greves e negociações nas campanhas nacionais. O primeiro foi realizado em 2008, e apontava que a remuneração das bancárias era 76,4% da dos bancários. “Houve melhora de apenas 1,5 ponto percentual em cinco anos. Se continuar avançando nesse ritmo, o salário das mulheres só será igual ao dos homens em 88 anos. Um absurdo”, critica a dirigente Neiva Ribeiro, que também é a representante do Coletivo de Gênero, Raça e Orientação Sexual da Contraf-CUT na mesa de Igualdade de Oportunidades, que negocia esses temas com a federação dos bancos (Fenaban).
Neiva destaca que a equiparação salarial entre homens e mulheres no setor bancário e na classe trabalhadora como um todo é uma bandeira de luta do Sindicato. “E queremos salários e oportunidades iguais não só entre homens e mulheres, mas também para os trabalhadores PCDs [pessoas com deficiência], para negros e LGBTs”, afirma.
Volta ao passado – Na entrevista à BBC Brasil, a técnica da OIT afirmou que é possível criar riqueza com a inclusão social: "Um país consegue se desenvolver numa situação de igualdade e justiça social e ganha também em relação à produtividade e PIB". Mas esse é um rumo que o Brasil deixou de tomar depois do golpe, lembra a diretora executiva do Sindicato Neiva Ribeiro.
“Infelizmente, o país que vinha caminhando para a redução da pobreza e para a promoção da justiça social, com grandes resultados positivos para a economia, mudou radicalmente sua direção com o governo ilegítimo de Temer, que extinguiu ou reduziu programas de inclusão e, ao mesmo tempo, avança com medidas que vão agravar ainda mais a pobreza e tornar os ricos ainda mais ricos, como as reformas trabalhista e da Previdência, que tramitam no Congresso”, destaca a dirigente.
Ela ressalta que a categoria bancária será uma das mais atingidas por essas medidas. “Os trabalhadores precisam se mobilizar agora ou será tarde demais. Ou vamos para as ruas e fazemos greve no dia 30 de junho, ou vamos morrer trabalhando, e em empregos precários.”
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