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Chapéu
Campanha dos Bancários 2024

Bancários debatem inteligência artificial, regulação do sistema financeiro e o desempenho dos bancos

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Plenário do segundo dia da 26ª Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro

A 26ª Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, que reúne em São Paulo bancários e bancárias de todo o Brasil, de bancos públicos e privados, no âmbito da Campanha Nacional dos Bancários 2024, teve sequência neste sábado 8. O dia teve início com a votação e aprovação do regimento interno da Conferência.

Após a aprovação do regimento interno, tiveram início as mesas de debates da 26ª Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro.

“Neste segundo dia de Conferência tivemos debates de extrema relevância para a nossa categoria como inteligência artificial, regulamentação do sistema financeiro, desempenho dos bancos, além de uma importante análise de conjuntura. Debates estes que vão contribuir na construção da nossa pauta de reivindicações, que será votada amanhã, e também na mobilização e negociações da nossa Campanha Nacional dos Bancários”, afirmou a presidenta do Sindicato e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, Neiva Ribeiro.   

Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários (Seeb-SP)

Análise de Conjuntura

A primeira mesa de debates do segundo dia da 26ª Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro teve como convidado o jurista Pedro Serrano, professor de Direito Constitucional e de Teoria do Direito da PUC-SP, que fez uma análise da conjuntura política atual.

Na sua apresentação, Serrano abordou estratégias da extrema-direita para avançar na sociedade brasileira. “O poder político não se realiza totalmente na hora que ele prende, que bate, que mata. O poder político se realiza plenamente quando a polícia entra dentro do nosso coração. Quando a gente subjetiva a relação de poder. É isso que ocorre hoje com uma grande parcela da nossa sociedade. A figura do tirano se incorporou no coração dessas pessoas. Eu apoio Bolsonaro porque eu quero ser um pequeno Bolsonaro nas relações. Eu quero ser um pequeno tirano e, para isso, posso abrir mão até dos meus interesses, da minha liberdade, dos meus direitos trabalhistas”, declarou.

Para o jurista, o enfrentamento à extrema-direita deve ser feito a partir de questões concretas, que interferem diretamente na vida das pessoas. “Deixemos a extrema-direita discutir Terra plana. Nós queremos discutir salário, direitos trabalhistas, o futuro das nossas crianças”, concluiu.  

Inteligência artificial e seus impactos

Mesa sobre Inteligência Artificial (Foto:Seeb-SP)

Na sequência foi realizada a mesa de debates sobre a inteligência artificial e seus impactos na vida e nos empregos. A mesa contou com a coordenação de Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários; e teve como convidado o doutor em Ciências Políticas da USP (Universidade de São Paulo) e professor da UFABC (Universidade Federal do ABC), Sérgio Amadeu.

“Essa mesa é muito importante para nós que buscamos entender os impactos da tecnologia, da inteligência artificial, no nosso trabalho bancário. Vemos também o quanto os algoritmos interferem na discussão geopolítica, na forma que a extrema-direita tenta minar as democracias, na disputa ideológica”, disse Neiva na abertura da mesa.

Durante a sua fala, Sérgio Amadeu destacou o fato de que o desenvolvimento de modelos de inteligência artificial está concentrado em poucas potências mundiais, e como isso pode ser traduzido em um neocolonialismo, ameaçando a soberania dos outros países.

Sérgio Amadeu mostrou que, em 2022, os Estados Unidos possuíam 16 sistemas de aprendizado de máquinas, o Reino Unido oito e a China três. Canadá e Alemanha possuíam dois sistemas, cada um, e França, Índia, Israel, Rússia e Singapura um sistema cada.

O professor também citou a concentração no mercado de armazenamento de dados, a matéria prima para os modelos de inteligência artificial. Em 2021, apenas cinco big techs detinham 81,2% deste mercado mundial: Amazon (38,9%); Microsoft (21,1%); Alibaba (9,5%); Google (7,1%); e Huawei (4,6%).

“Em seu livro Colonialismo digital: o império dos EUA e o novo imperialismo no Sul Global, Michel Kwet afirmou que o colonialismo digital, exercido principalmente pelos Estados Unidos, se baseia no controle do hardware, software e conectividade. Ele escreve que ao controlar o ecossistema digital, as grandes corporações controlam as experiências mediadas pelos computadores e isso lhes dá direito sobre questões políticas, econômicas e culturais. Portanto, sobre o domínio de vidas”, alertou Sérgio Amadeu.

“Está havendo uma enorme privatização, nas mãos das big techs, do conhecimento e da produção de conhecimento sobre a inteligência artificial. Quem está comandando o desenvolvimento da IA não é mais a universidade, pois nenhuma possui o poder computacional necessário. São as big techs que estão concentrando renda e poder”, completou.  

De acordo com o professor, para superar o atual cenário de dependência tecnológica, no qual o Brasil é fornecedor de dados para big techs, o país precisa investir em armazenamento e processamento de dados, além de modelos de IA 100% nacionais. “Precisamos lutar pela soberania digital, autonomia sobre o que usamos, autonomia sobre os dados. Precisamos controlar essa fonte de insumos digitais. Criar estrutura para mantermos os dados no nosso país e gerar valor para o nosso país.”

Por fim, Sérgio Amadeu falou sobre o papel do movimento sindical diante do avanço da tecnologia. “Nós precisamos colocar nossos direitos na lei de regulação. Temos de mapear nas empresas onde estão os empregos mais expostos, cobrar a formação e a realocação dos trabalhadores”, concluiu.  

Regulação do sistema financeiro

Mesa de debates sobre regulação so sistema financeiro (Foto: Seeb-SP)

A terceira mesa de debates, que tratou da regulação do sistema financeiro, contou com apresentações do economista Gustavo Cavarzan e do cientista social e professor Moisés Marques.

Na sua intervenção, o economista Gustavo Cavarzan, que atua na subseção do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) na Contraf-CUT, abordou a forma como o Banco Central, por meio de novas normativas, impulsionou o crescimento no número de instituições financeiras não bancárias como fintechs e cooperativas de crédito.

De acordo com o economista, os alegados objetivos do Banco Central com o crescimento de instituições financeiras não bancárias não foram atingidos. “Não aumentou o crédito, não reduziu os juros e não acelerou a inclusão financeira no país.”

Por outro lado, o crescimento das instituições financeiras não bancárias teve impactos nos bancos tradicionais: fechamento de agências e postos de trabalho; aumento dos investimentos em tecnologia; e ampliação das contratações de profissionais de Tecnologia da Informação.

Por fim, o professor Moisés Marques defendeu a necessidade de se regulamentar novamente o setor financeiro. “Se essas novas empresas oferecem produtos de bancos, devem ser reguladas como bancos.”

Desempenho dos bancos

Mesa sobre o desempenho dos bancos (Foto: Seeb-SP)

A última mesa de debates do segundo dia da 26ª Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro abordou o desempenho dos bancos e impactos na Campanha Nacional dos Bancários, tema apresentado pelas economistas do Dieese Vivian Machado e Rosângela Vieira dos Santos.

Na apresentação, Vivian apontou que de 2019 a 2023 o lucro líquido dos cinco maiores bancos teve uma queda de 19,7%. No mesmo período, em valores reais, a provisão para devedores duvidosos (PDD) cresceu 30,4%, e a carteira de crédito teve variação positiva de 22,4%.

“A alta na inadimplência no período recente, uma das responsáveis pelo aumento da PDD, está associada aos impactos da pandemia, alta taxa de juros e menor rendimento das famílias durante o governo Bolsonaro”, explica a economista.

A apresentação indicou ainda que, nos últimos cinco anos, foram fechadas 3,2 mil agências em todo o país e 20,7 mil postos de trabalho bancário foram extintos.

Rosângela, por sua vez, apontou que houve uma assimetria nos resultados dos bancos. “Em 2023, tivemos recorde de lucro do Itaú e BB, e resultados abaixo do esperado para Bradesco e Santander.”

A economista apontou ainda movimentações comuns nos grandes bancos: queda no emprego bancário e fechamento de agências; crescimento da PDD; maior investimento em tecnologia e ampliação das contratações de profissionais de TI.

Por fim, Rosângela fez um balanço das negociações de acordos coletivos de trabalho em 2024, mostrando que neste ano 86,1% das categorias conquistaram aumento real; 10,8% tiveram apenas a reposição da inflação; e somente 3,2% tiveram perdas salariais.

Último dia

Neste domingo 9, último dia da 26ª Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, serão apresentados os resultados da Consulta Nacional dos Bancários 2024 e, por fim, será aprovada a minuta de reivindicações da Campanha Nacional Unificada dos Bancários 2024, que será entregue para a Fenaban (federação dos bancos).

Confira abaixo a programação:

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