O futuro se faz juntos. Com este mote, bancários e bancárias de todo o país reuniram-se nesta sexta-feira 9, em São Paulo, na abertura da 26ª Conferência Nacional dos Bancários, no âmbito da Campanha Nacional dos Bancários 2024.
Até domingo 9, centenas de delegados e delegadas de todo o Brasil debaterão e aprovarão a pauta de reivindicações a ser negociada com a Fenaban (federação dos bancos) visando a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), onde estão descritos todos os direitos dos bancários e bancárias. Também discutirão as estratégias de negociação frente as instituições financeiras.
Em sua fala na mesa de abertura, Neiva Ribeiro, uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários – responsável por negociar a renovação da CCT – destacou um relatório do Banco Central que aponta lucro de R$ 145 bilhões dos bancos apenas em 2023.
“Mesmo assim os bancos reclamam que há uma assimetria regulatória que impede de ser justa a competição com as fintechs e as cooperativas de crédito. E estão usando isso como desculpa para demitir, para fazer terceirização fraudulenta, para uberizar, para pejotizar, e para que as condições de trabalho não reflitam nossas reivindicações sobre melhorias nas condições de trabalho e de saúde e no combate às metas abusivas e ao assédio moral”, afirmou.
Defesa dos empregos
Neiva, que também é presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, lembrou que apesar dos lucros bilionários apresentados ano a ano pelo setor financeiro, os bancos fecharam seis mil agências e mais de 70 mil postos de trabalho nos últimos 10 anos.
“A defesa do emprego é a reivindicação mais importante para os bancários de bancos privados. Além disso, temos de enfatizar a importância dos bancos púbicos como instrumento de desenvolvimento social e econômico, para fazer as politicas públicas que a sociedade precisa. Porque são os bancos públicos que atuam nos momentos de crise, quando os bancos privados retraem o crédito, porque querem retorno do investimento de forma rápida e segura.”
Representação de todos os trabalhadores de bancos
A dirigente destacou ainda a luta permanente do movimento sindical bancário para representar todos os trabalhadores de bancos e inclui-los na Convenção Coletiva de Trabalho bancária.
“Nós temos quase um milhão e meio de trabalhadores do ramo financeiro. Por isso queremos avançar na regulamentação do sistema financeiro para trazer todos estes trabalhadores para a nossa CCT. A gente tem de fazer a discussão da distribuição desse lucro que é ganho com a tecnologia, mas ao contrário do que os bancos querem, que é minar empregos para aumentar lucros em cima da redução dos postos de trabalho, nós queremos que a tecnologia retorne para os trabalhadores e para a sociedade na forma da geração de empregos e da redução da jornada”, afirmou.
Unidade da categoria bancária
A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo destacou ainda a importância da unidade da categoria bancária para o êxito da campanha nacional dos bancários.
“Este é o segredo da nossa resistência em tempos de crise e em tempos de ataque. E vai ser extremamente importante para o sucesso da nossa campanha nacional, que terá muitos desafios e oportunidades. Uma das oportunidades é que será a primeira campanha depois do golpe de 2016, sem o desgoverno do Temer e sem o governo ultraliberal e privatista do Bolsonaro. E isto é uma vantagem para nós”, ressaltou.
Por fim, Neiva enfatizou a importância de se apropriar das redes sociais para fazer o debate junto à sociedade. Temos de disputar este espaço dominado pela extrema-direita para defender nossas pautas e nossas narrativas”, afirmou.
Politização da Campanha Nacional
Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT, afirmou a importância de politizar a Campanha Nacional dos Bancários
“É importante e é central conseguir aumento real, é importante e é central pensar na saúde mental dos trabalhadores. É importante e é central conseguirmos aumento da PLR, é importante e é central fazer a defesa dos empregos. E é também importante e central garantir também a reconstrução do Brasil, combater as desigualdades, fortalecer as empresas e os bancos públicos para que trabalhem para o Brasil e financiem o crescimento do país, garantindo a distribuição de renda e a melhoria da qualidade de vida da população.”
“Nós somos parte dessa força de trabalho. Nós somos 99%, e aqui está uma militância que tem capacidade e obrigação de politizar a campanha nacional e fazer com que os trabalhadores discutam e se apropriem do país e da política, fortaleçam os sindicatos e a negociação coletiva e compreendam que o individualismo não vai reconstruir o Brasil. A solução é coletiva. A solução é juntos. E juntos nós vamos reconstruir este país. E juntos nós vamos fazer este futuro agora. Nós vamos fazer este futuro juntos”, concluiu.
Livro sobre a Lava Jato
Após a mesa de abertura, foi lançado o livro "10 anos da Operação Lava Jato: impactos nos empregos e na soberania nacional", obra organizada pelas juristas Gisele Cittadino e Carol Proner, e que reúne a análise de especialistas do direito, da imprensa e economistas.
Em vídeo, Gisele Cittadino enfatizou que, além de expor os impactos nocivos da Lava Jato ao desenvolvimento do país, com a destruição do setores importantes da economia como construção civil, óleo e gás, petroquímico e naval e, consequentemente com milhões de empregos, o livro também se debruçou sobre os impactos da operação na democracia e na soberania nacional.
“Nesses dez anos da lava jato, essa crítica também é muito importante para que a gente se dê conta de uma marca da nossa cultura política que a precisamos superar, que é essa ideia de que nós poderemos ser salvos por determinadas figuras quase míticas. O ex-presidente Fernando Collor de Mello, que se dizia o caçador de marajás, o juiz Sérgio Moro, que se dizia o juiz mais ético do planeta e que seria capaz de derrotar a corrupção. Por que é importante frisar isto? Porque esta crença em pessoas que são quase que entidades míticas nos leva a diminuir a importância da democracia.”
O jornalista Luis Nassif, autor de um dos artigos da obra, participou da mesa de lançamento para fazer uma análise da conjuntura política pós Lava Jato. “O Brasil tem um grande trunfo na mão, que são os movimentos sociais. Falta o planejamento”. Para ele, mais do que nunca, a participação dos sindicatos é fundamental. “O grande desafio é trazer de volta o modelo de cooperação, para combater esse individualismo que é a marca do capitalismo. O mercado não quer regulação, ele quer ganhar dinheiro”, afirmou. “Eu tenho certeza de que vocês estão à altura deste desafio, que é combater o fantasma da ultradireita. Vamos à luta!”