
Um relato pessoal publicado no LinkedIn na última semana reacendeu o debate sobre a pressão por metas e as condições de trabalho no setor financeiro. "Eu pedi demissão do Nubank", começa o texto de Jessica Reis, que rapidamente se espalhou pela rede, acumulando curtidas e comentários de apoio.
A autora trabalhou por quase quatro anos no Nubank. No início, descreve a experiência como "nova, desafiadora e estimulante" e lembra o orgulho de "vestir a armadura roxa", referência à cor símbolo da instituição. Entretanto, com o tempo, o brilho se transformou em peso: metas consideradas inalcançáveis, plantões em datas festivas, jornadas aos domingos e falta de descanso adequado passaram a ser parte da rotina.
Em seu desabafo, Jessica chega a classificar os benefícios de vale-refeição e convênio médico como excelentes, ambos frutos da Campanha Nacional conduzida pelo Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região. Por outro lado, a autora ressalta que os mesmos não compram sono tranquilo, corpo sem dor ou mente em paz.
Ao anunciar sua saída, a ex-funcionária afirma que conseguiu recuperar o sono e ter tempo para si foram libertadores. E encerra com uma provocação: "Quanto vale sua saúde física e mental? Se a resposta for 'menos do que o seu trabalho', talvez esteja na hora de rever suas cores."
"O caso relatado pela ex-funcionária do Nubank é mais um retrato de um problema estrutural: a pressão por metas abusivas para gerar mais lucros. Nosso papel é ter acesso a esses trabalhadores, compreender as condições em que estão inseridos, garantindo que tenham acesso ao Sindicato, às informações e aos direitos adquiridos na Convenção Coletiva de Trabalho dos Financiários. A saúde física e mental não pode ser moeda de troca por produtividade. Combatemos qualquer forma de assédio e seguiremos cobrando respeito, dignidade e condições de trabalho justas para toda a categoria."
Neiva Ribeiro
Presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários
Desafio para a categoria

O adoecimento mental é um dos principais temas abordados pelo Sindicato dos Bancários SP. No dia 31 de julho, a entidade participou da audiência pública "Sob Pressão: O Desafio da Saúde Mental no Trabalho Bancário", realizada na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). Na ocasião, o Sindicato apresentou dados alarmantes:
- No estado de São Paulo, em 2024, a categoria bancária foi responsável por 72,30% de todos os acidentes de trabalho por doenças mentais; e de 51,77% de todos os benefícios;
- No município de São Paulo, no mesmo ano, as doenças mentais nos bancários representaram 75,70% de todos os acidentes de trabalho e 56,10% de todos os benefícios. Os dados são do INSS;
- Em 2024, o Sindicato dos Bancários de São Paulo atendeu 2.361 trabalhadores adoecidos por doenças psicológicas. Até junho de 2025, foram 1.183 atendimentos;
- O Canal de Denúncias do Sindicato recebeu, em 2024, 518 denúncias só de assédio moral. Até junho de 2025, foram 236;
- A pressão nos locais de trabalho gerou 105 denúncias em 2024, e 51 em 2025.
O Sindicato tem intensificado sua atuação na defesa da saúde mental por meio da Negociação Nacional sobre Assédio Moral, Sexual e Outras Formas de Violência no Trabalho Bancário. A mesa negocial reúne o Comando Nacional dos Bancários e a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), buscando consolidar os avanços trazidos pelas novas cláusulas sobre o tema incluídas na CCT (Convenção Coletiva de Trabalho dos Bancários).
Além das negociações, o Sindicato atua juridicamente a partir de denúncias recebidas e também oferece acolhimento à categoria por meio da sua Secretaria de Saúde. Muitos avanços já foram alcançados, mas relatos como os de Jessica Reis demonstram que ainda há muito a ser feito.
"Se você precisar de apoio, não sofra só. Procure o Sindicato para lutar ao seu lado e garantir seus direitos. Após a luta sindical, os trabalhadores do Nubank foram inseridos na Convenção Coletiva de Trabalho dos Financiários, garantindo direitos dentro de uma realidade de trabalho com altos lucros para os empresários. É fundamental que os trabalhadores saibam que não estão sozinhos e que podem contar com o Sindicato para enfrentar práticas abusivas, preservar a dignidade e exigir condições justas de trabalho", destacou Marcelo Gonçalves, dirigente do Sindicato atuante nas negociações com o Nubank.
