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Cheguei aqui pelo meu Sindicato, diz Vagner Freitas

Linha fina
Depois de 29 anos de fundação, pela primeira vez integrante da categoria assumirá presidência da Central
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São Paulo - “Eu jamais chegaria aqui se não tivesse vindo pelas mãos do meu Sindicato”, declarou Vagner Freitas, ao ser comunicado oficialmente da sua eleição como novo presidente da CUT com 90,5% dos votos no 11º congresso nacional da central. É a primeira vez que um bancário assumirá o comando da maior central sindical do Brasil e da América Latina, que em 2013 completa 30 anos de sua fundação.

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“É uma conquista muito especial para a categoria, especialmente para os bancários de São Paulo, que participaram da criação da CUT e ajudaram a construir os princípios da Central na luta por uma sociedade justa e igualitária”, declarou Juvândia Moreira, presidenta do Sindicato.

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Acaso – “Na verdade, era para eu ser trabalhador da Telesp. Mas, por acaso, me tornei bancário, com muito orgulho”, revela Vagner. Em 1987, ele passou no concurso público para trabalhar na Telesp, mas não era chamado. Quando foi ao banco pagar a última taxa exigida pela companhia, deparou-se com uma fila enorme de recrutamento do Bradesco. Acabou contratado para trabalhar como caixa.

“Logo que entrei no banco me filiei ao Sindicato, que foi a minha escola. Foi a formação que moldou e traçou a minha personalidade. Foi lá que aprendi conceitos básicos como democracia, solidariedade e respeito pelo coletivo”, relembrou.

Do banco à CUT – Em 1991, Vagner entrou para a diretoria do Sindicato como diretor da regional leste, que ficava na Mooca, perto do bairro onde nasceu e cresceu, Sapopemba. Segundo ele, lá colocou em prática, na base, o primeiro conceito que aprendeu no movimento sindical. “Quando cheguei, Augusto Campos, ex-presidente, disse uma coisa que jamais vou esquecer: ‘Você não veio aqui cuidar só da categoria bancária. Vocês que estão chegando como diretores no Sindicato precisam saber que são dirigentes de classe, da classe trabalhadora. O Sindicato também é um instrumento de transformação da sociedade’”.

Após a formação que adquiriu nos mais de dez anos como diretor do Sindicato e a passagem pela Federação dos Bancários do Estado de SP (Fetec/CUT-SP), chegou à presidência da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf) em 2003, cargo que exerceu até 2009, quando passou a integrar a direção executiva da CUT como secretário de Administração e Finanças.

Compromissos – Vagner assume a presidência da CUT em uma conjuntura econômica de crise financeira internacional e uma perspectiva de crescimento do PIB de pouco mais de 2%. “Comparando com o mundo, ainda é um resultado significativo, mas sabemos que na hora em que o empresário deixa de ter a rentabilidade que imagina, à qual se acostumou nos últimos anos, tenta ‘equilibrar’ isso retirando direitos dos trabalhadores, falando em competitividade”, analisa Vagner.

Segundo ele, esse cenário exigirá pressão social para que os trabalhadores não paguem pela crise. E promete para o próximo período muita mobilização e enfrentamento do movimento sindical, a começar pela Jornada de Lutas com uma grande Marcha em Brasília. No dia 15 de agosto a classe trabalhadora levará à capital federal reivindicações como o fim do fator previdenciário, a rotatividade e precarização, pela ratificação da convenção 87 e 158 da OIT, redução da jornada e outras bandeiras de luta. “Existe apenas uma forma de destravar essas pautas no Congresso Nacional: pressão social”, definiu.

Reformas – O novo presidente elencou pelo menos três reformas essenciais que o país precisa realizar para que o Estado seja promotor da justiça social, indutor do crescimento e capaz de discutir regras para o mercado. E reafirmou o compromisso da Central na luta por reformas estruturais no país, como a reformas política, tributária, agrária e do sistema financeiro.

“A reforma política é essencial nesse país para que todos tenham condições de disputar em pé de igualdade e não somente aqueles que têm dinheiro e são financiados pelo capital privado consigam chegar aos cargos de poder e de decisão do país.”

A reforma tributária, segundo ele, precisa ser feita para transformar a lógica injusta hoje existente de que quem ganha mais paga menos impostos. “Essa injustiça recai sobre a classe trabalhadora, que paga duas vezes o imposto, no desconto da folha salarial e no consumo dos produtos”, alerta.

Além da reforma agrária, que é uma bandeira histórica da CUT, Vagner defende a necessidade de ser realizar uma reforma no setor financeiro brasileiro. “É urgente a regulamentação do artigo 192 da Constituição, pois o sistema financeiro no Brasil é voltado para o interesse de meia dúzia de banqueiros. Nós fazemos essa denúncia e alertamos que o sistema financeiro precisa ser voltado para o crescimento e o desenvolvimento do país há cerca de 30 anos”, protesta.

Como forma de pressionar o governo para a importância do tema, o presidente da CUT defende a convocação de uma Conferência Nacional do Sistema Financeiro com a participação de toda a sociedade. “O Brasil não pode continuar sendo o paraíso dos bancos.”

Projeto de nação – “Não queremos um Brasil financiado apenas pelo capital privado. Queremos um projeto de nação tendo o Estado como indutor do desenvolvimento, que não seja um estado mínimo sem investimento em políticas públicas e em setores estratégicos para o desenvolvimento do país, como educação, saúde, segurança”, defendeu.

Além de reafirmar a concepção de que não há crescimento sem distribuição de renda, reforçou o compromisso de unificar as lutas dos trabalhadores do campo e da cidade. “A CUT é o principal instrumento de organização da classe trabalhadora, pois nós temos concepção de classe e de enfrentamento. Continuaremos a lutar pelos direitos históricos e imediatos da classe trabalhadora nos próximos anos.”

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Tatiana Melim - 16/7/2012

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