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São Paulo – A notícia de que a agência de classificação de risco Standard & Poor's manteve o grau de investimento do país, mas apontou para mudança da perspectiva "estável" para "negativa", não deve trazer efeitos em grande escala no momento.
“Não fizeram (o rebaixamento do rating), mas sinalizaram com a perspectiva negativa. Ou seja, num período de tempo, em torno de um ano, não é impossível que haja uma redução (da nota do país), a menos que haja uma mudança no cenário da economia brasileira que ainda nessa altura dos acontecimentos é difícil saber (se ocorrerá)”, diz o professor Luiz Carlos Delorme Prado, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Um dos problemas de uma eventual redução da nota é o impacto que pode ter para aplicações de portfólio (negociação de ações ou títulos emitidos por companhias privadas ou governo, incluindo investimento especulativo). “Num cenário em que está havendo uma desvalorização do real, positiva para o balanço de pagamentos, mas negativa para a inflação, isso pode criar mais uma fonte de pressão que é ruim para o país”, avalia o professor.
Segundo ele, as agências de risco, como a S&P, têm baixa credibilidade. O problema é que a legislação americana estabelece regras para aplicação de fundos de pensão nos Estados Unidos e existem restrições à aplicação de alguns desses fundos em países que não têm rating de investimento, como pode vir a acontecer com o Brasil. Isso afeta a vinda de fluxos financeiros ao país.
De acordo com Prado, o fato de a perspectiva ter mudado de "estável" para "negativa" pode ser revertido. “Mas não é muito claro se teremos notícias suficientemente favoráveis para reverter. Certamente, neste ano não teremos mudanças, e se houver será na segunda metade do ano que vem, não na primeira metade."
As dúvidas decorrem da dificuldade de se prever com clareza os desdobramentos do ajuste fiscal, em meio a um cenário político e econômico conturbado, com redução do PIB em 2015 e a taxa Selic fechando o ano entre 14,25% e 14,50%, segundo expectativa do mercado. Hoje a Selic está em 13,75% e o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central define na quarta 29 o quanto a taxa subirá. A expectativa é de que seja 0,5 ponto percentual.
A economia brasileira hoje tem aspectos positivos e negativos cuja combinação pode ajudar o país num cenário futuro ou levá-lo a uma situação ainda pior, dependendo dos fatores que vão interferir até 2016.
Prado destaca como ponto de destaque o crescimento da dívida pública. “Mas a dívida pública é em reais, não em moeda estrangeira. Então, não há risco do não pagamento pelo país de uma dívida emitida numa moeda que é nossa. Isso não é particularmente problemático, mas é ruim porque pressiona a inflação.”
Embora a dívida pública sozinha não seja um fator catastrófico, ela tem efeitos danosos em combinação com os juros. “Há uma série de dificuldades levando em conta que a taxa de juros no Brasil é muito alta. Com o tamanho da dívida pública, a soma dessas duas coisas é muito ruim para as contas domésticas, por exemplo.” A boa notícia é que essa é uma conta em reais.
Na área externa, a situação é administrável. “Na questão da dívida externa, não temos um grande problema. Mas no Brasil há volumes expressivos de aplicações em portfólio e essas aplicações podem sair em vista de uma piora no rating do país. Essa eventual saída pressiona mais ainda a inflação via desvalorização de câmbio”, avalia o economista.
Apesar dos problemas, e de a situação do Brasil hoje ser pior do que há oito meses, “quando se analisa risco de solvência quanto a obrigações internacionais, o caso brasileiro é tranquilo no que diz respeito às reservas elevadas”, diz Prado. As reservas são hoje de US$ 370 bilhões, apenas U$ 9 bilhões a menos do que um ano atrás.
Eduardo Maretti, da Rede Brasil Atual - 29/7/2015
“Não fizeram (o rebaixamento do rating), mas sinalizaram com a perspectiva negativa. Ou seja, num período de tempo, em torno de um ano, não é impossível que haja uma redução (da nota do país), a menos que haja uma mudança no cenário da economia brasileira que ainda nessa altura dos acontecimentos é difícil saber (se ocorrerá)”, diz o professor Luiz Carlos Delorme Prado, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Um dos problemas de uma eventual redução da nota é o impacto que pode ter para aplicações de portfólio (negociação de ações ou títulos emitidos por companhias privadas ou governo, incluindo investimento especulativo). “Num cenário em que está havendo uma desvalorização do real, positiva para o balanço de pagamentos, mas negativa para a inflação, isso pode criar mais uma fonte de pressão que é ruim para o país”, avalia o professor.
Segundo ele, as agências de risco, como a S&P, têm baixa credibilidade. O problema é que a legislação americana estabelece regras para aplicação de fundos de pensão nos Estados Unidos e existem restrições à aplicação de alguns desses fundos em países que não têm rating de investimento, como pode vir a acontecer com o Brasil. Isso afeta a vinda de fluxos financeiros ao país.
De acordo com Prado, o fato de a perspectiva ter mudado de "estável" para "negativa" pode ser revertido. “Mas não é muito claro se teremos notícias suficientemente favoráveis para reverter. Certamente, neste ano não teremos mudanças, e se houver será na segunda metade do ano que vem, não na primeira metade."
As dúvidas decorrem da dificuldade de se prever com clareza os desdobramentos do ajuste fiscal, em meio a um cenário político e econômico conturbado, com redução do PIB em 2015 e a taxa Selic fechando o ano entre 14,25% e 14,50%, segundo expectativa do mercado. Hoje a Selic está em 13,75% e o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central define na quarta 29 o quanto a taxa subirá. A expectativa é de que seja 0,5 ponto percentual.
A economia brasileira hoje tem aspectos positivos e negativos cuja combinação pode ajudar o país num cenário futuro ou levá-lo a uma situação ainda pior, dependendo dos fatores que vão interferir até 2016.
Prado destaca como ponto de destaque o crescimento da dívida pública. “Mas a dívida pública é em reais, não em moeda estrangeira. Então, não há risco do não pagamento pelo país de uma dívida emitida numa moeda que é nossa. Isso não é particularmente problemático, mas é ruim porque pressiona a inflação.”
Embora a dívida pública sozinha não seja um fator catastrófico, ela tem efeitos danosos em combinação com os juros. “Há uma série de dificuldades levando em conta que a taxa de juros no Brasil é muito alta. Com o tamanho da dívida pública, a soma dessas duas coisas é muito ruim para as contas domésticas, por exemplo.” A boa notícia é que essa é uma conta em reais.
Na área externa, a situação é administrável. “Na questão da dívida externa, não temos um grande problema. Mas no Brasil há volumes expressivos de aplicações em portfólio e essas aplicações podem sair em vista de uma piora no rating do país. Essa eventual saída pressiona mais ainda a inflação via desvalorização de câmbio”, avalia o economista.
Apesar dos problemas, e de a situação do Brasil hoje ser pior do que há oito meses, “quando se analisa risco de solvência quanto a obrigações internacionais, o caso brasileiro é tranquilo no que diz respeito às reservas elevadas”, diz Prado. As reservas são hoje de US$ 370 bilhões, apenas U$ 9 bilhões a menos do que um ano atrás.
Eduardo Maretti, da Rede Brasil Atual - 29/7/2015