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'Inflação virou arma ideológica', diz Ladislau Dowbor

Linha fina
Segundo economista, abordagem da mídia é contaminada pelo interesse do mercado, o mesmo que pressiona o governo no sentido do ajuste fiscal, do arrocho dos trabalhadores e do rentismo financeiro
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São Paulo – No momento em que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central eleva mais uma vez a taxa de juros (Selic), a 14,25% ao ano, sob o pretexto de combater a inflação, vale ler a entrevista do professor de Economia da PUC-SP Ladislau Dowbor à jornalista Maria Inês Nassif, publicada na última edição da revista do Clube de Engenharia Brasil, chamada Engenharia em Revista, para desmistificar o que a cada dia parece mais uma orquestração da mídia em defesa da alta dos preços.

“A inflação virou uma arma ideológica”, afirma Dowbor, depois de analisar que “existe um trabalho de chantagem e contaminação pelo aceno do “risco inflacionário” – e todos sabem que a inflação é um golpe mortal em termos políticos”. Segundo o professor, a abordagem da grande mídia sobre a inflação é contaminada pelo interesse do mercado, o mesmo mercado que pressiona o governo no sentido do ajuste fiscal, do arrocho dos trabalhadores e do rentismo financeiro.

"Quando se baixam os juros, nas televisões, nas rádios, nos jornais, imediatamente se consultam os chamados economistas que dizem, 'é inevitável, a inflação vai subir'. Em regra, esses economistas são todos eles de empresas financeiras”

“O maior jornal econômico do país, por exemplo, em fevereiro (deste ano) publicou uma matéria que contém um quadro com as projeções de inflação, com o título: “O que os economistas esperam”. E são listadas 21 “apostas” em índices inflacionários feitas por economistas de  instituições. Entre eles, não tem nenhum Amir Khair, um Luiz Gonzaga Belluzzo, uma Tânia Bacelar, um Rubens Ricupero, um Bresser-Pereira ou um Marcio Pochmann; nem sequer um IBGE ou um Dieese. Apenas de bancos ou consultorias ligadas ao mercado financeiro – e ambos ganham com a inflação. Esses economistas geram expectativas inflacionárias que se autocumprem, pois os agentes econômicos acompanham as expectativas e elevam preventivamente os preços”.

Longe do discurso tecnicista que tenta jogar a culpa da inflação sobre as costas do governo e seu pretenso desmazelo com as contas públicas, a alta dos preços no Brasil sempre foi, e continua sendo, um perverso mecanismo de concentração de renda, entre outros. Para Dowbor, a inflação é uma das faces do rentismo para justificar a perversa política de juros.

“O rentismo é um conceito que se vincula ao mercado internacional, que gerou uma espécie de elite que vive dos juros, não da produção. E isso tem uma enorme profundidade no país. O Santander, por exemplo, que é um grande grupo mundial, tem cerca de 30% de seus lucros originários do Brasil. Isto é, o mercado financeiro impõe drenos e também estruturas políticas de poder que tornam muito difícil a qualquer governo gerar transformações necessárias para romper essa lógica. De 2013 a 2014, Dilma tentou reduzir a taxa Selic, e os juros de acesso de pessoas físicas e jurídicas ao crédito, e a reação foi de pressões políticas muito fortes. E é curioso como as reações se manifestam. Quando se baixam os juros, nas televisões, nas rádios, nos jornais, imediatamente se consulta os chamados economistas que dizem, 'é inevitável, a inflação vai subir'. Em regra, esses economistas são todos eles de empresas financeiras.”

Leia mais
> A entrevista completa do economista


Rede Brasil Atual - 30/7/2015
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