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Chapéu
Não ao PL 1043/19!

Vitória do Sindicato! Adiada votação do PL sobre trabalho bancário nos fins de semana

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O deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, assumiu o compromisso de não colocar em votação na comissão, antes do período eleitoral, o PL 1043/19, que permite a abertura de agências bancárias aos sábados e domingos, para atendimento ao público. O compromisso foi assumido durante audiência pública sobre o Projeto de Lei, realizada na manhã desta quarta-feira 6, na Câmara dos Deputados.

O Sindicato elaborou uma enquete para saber a sua opinião sobre essa medida. Responda e mostre seu descontentamento! Há também enquete no site da Câmara dos Deputados. Não deixe de mostrar sua desaprovação por lá também!

O PL 1043/19, de autoria do deputado David Soares (União-SP), tem como principais argumentos a democratização e a ampliação dos serviços bancários para a população, e a geração de empregos – ambos frisados na audiência pelo representante da Febraban (federação dos bancos) na audiência pública realizada nesta quarta-feira 6.

Ivone Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região, lembrou que os clientes já são atendidos nos sábados e domingos, por meio do telemarketing, cujos trabalhadores contam com acordos coletivos com o Sindicato, que garantem pausas e fins de semana de folga. A dirigente ressaltou que quando os bancos fazem feirões de agronegócios ou de casa própria, os sindicatos são comunicados, e esses trabalhadores recebem hora extra.

“Nós somos contrários a abrir agências ao sábados e domingos porque estamos indo na contramão da realidade, quando a maioria das transações é feita por via eletrônica. E, além disso, o cliente é mal atendido nas agências de segunda a sexta por causa da falta de funcionários. O que vai diferenciar abrir uma agência aos sábados e domingos com pouquíssimos funcionários? Não tem caixas nas agências, se quiser pagar conta de energia elétrica, te mandam para uma lotérica. Os bancos não recebem as contas. Ou te obrigam a abrir uma conta [bancária] para colocar em débito automático, ou te mandam pagar em correspondente bancário”, ressaltou a dirigente.

Para Ivone, o que deveria ser discutido é como melhorar o atendimento aos clientes de segunda a sexta, porque é neste período que as pessoas procuram os serviços bancários. “Os clientes não querem ir na agência no sábado e no domingo. Alguns bancos já abriram no sábado e, em São Paulo, pouquíssimas pessoas procuraram as agências.”

Ivone também lembrou o grande endividamento do consumidor com o cartão de crédito. “Além de não ter agência suficiente que atende o cliente de segunda a sexta, não tem linha de crédito suficiente de juros baixos para os clientes. Então o que sobrou é o cartão de crédito com juros em torno de 350% ao ano, o que é muito alto.”

A presidenta do Sindicato lembrou que atualmente existem pouquíssimos bancários para atendimento nas agências. E os funcionários remanescentes atendem um número excessivo de clientes, o que tem causado adoecimento psicológico na categoria. Ela citou pesquisa feita com a categoria, que apontou que 77% dos bancários que responderam sentem muita fadiga e preocupação com o emprego. E 35% usam medicamento controlado. “Por isso é muito importante que os bancários tenham o fim de semana para descansar.”

Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT, lembrou que o debate sobre abertura de agências aos sábados e domingos vem sendo colocado e derrotado reiteradamente no Congresso Nacional.

“Porque não faz sentido nessa conjuntura. A gente viu os dados do Dieese [veja abaixo]. O avanço tecnológico e a redução das transações feitas nas agências bancárias limitam basicamente à venda de produtos e de serviços bancários, de orientação para investimentos. Nós estamos na Comissão de Defesa do Consumidor e é importante colocar que os clientes bancários estão saturados das ofertas de produtos que os bancários são obrigados a fazer, porque são cobrados a toda hora para vender produtos como capitalização, seguro, investimentos, que adoecem por esta cobrança [para venda de produtos].”

Juvandia ressaltou que o assédio moral como forma de gestão é um problema na categoria bancária. “São metas abusivas e inatingíveis, e o adoecimento na categoria é enorme. A maior causa de adoecimento é de transtornos mentais decorrentes dessa forma de gestão. E o cliente está saturado. Adoece o bancário e adoece o bolso do cliente. Por que vamos abrir agências bancárias aos sábados? Para que isso possa ser feito em um tempo ainda maior? Porque é isso que os bancos querem: para vender produto. Hoje em uma agencia bancária só tem gerente de negócio, gerente de conta, gerente de investimento, tudo para vender produto, que é um terço dos lucros estratosféricos que os bancos tem.”

Dados enfraquecem argumentos para abertura de agências aos fins de semana

Durante a audiência, Nádia Vieira de Souza, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio Econômicos (Dieese), citou uma série de dados que enfraquecem os argumentos para a abertura de agências aos sábados e domingos.

Grande parte do investimento do setor bancário em inovações tecnológicas, que é de cerca de 30 bilhões por ano, segundo a Febraban, é voltado para o desenvolvimento de canais de atendimento digital que possibilitem a migração dos clientes de canais físicos (como as agências bancárias) para estes canais digitais (como o celular ou o computador, por exemplo).

Com isso, vem caindo de forma intensa o volume de transações bancárias realizadas nas agências. As transferências feitas em agências caíram 13%, a contratação de crédito caiu 15%, os depósitos caíram 28% e o pagamento de contas caiu 47%.

Por outro lado, ainda segundo a Febraban, as transferências por celular cresceram 60%, a contratação de crédito e o pagamento de contas por canais digitais cresceram 44% e 51%, respectivamente.

Com isso a cada ano que passa as agências bancárias representam uma participação menor no total de transações bancárias realizadas. Em 2009, as agências eram responsáveis por 16% do total de transações e em 2020 passaram a representar apenas 3,2% do total de transações bancárias realizadas. Ao mesmo tempo as transações via mobile (celular) saíram de 0% de participação em 2009 para 51,1% em 2020. Os dados são da Febraban.

Os clientes que utilizaram mais de 80% das transações (heavy users) em mobile, também mais que dobraram em 2020, e os clientes heavy users do internet banking também aumentaram nesse mesmo ano; 76,3 milhões de pessoas realizaram mais de 80% de suas transações pelo celular em 2020, segundo a Febraban.

Ao mesmo tempo que investem pesadamente na digitalização do atendimento, o setor bancário vem reduzindo suas estruturas físicas, tanto em termos de agências, quanto em termos de emprego bancário. Entre 2014 e 2021 os bancos fecharam mais de 5.246 agências bancárias no país, segundo o Banco Central.

Entre 2013 e 2021 foram fechados mais de 77 mil postos de trabalho, sendo mais de 57 mil desde 2016, principalmente entre os bancários de agências (caixas, escriturários, atendentes). Os dados são do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

Por outro lado, ao mesmo tempo em que fecham agências bancárias e postos de trabalho, os bancos investem pesadamente em parcerias com correspondentes bancários. O número de correspondentes bancários é 13 vezes maior do que o número de agências bancárias no país.

Pra os bancários, ao invés da proposta que prevê abertura das agências aos sábados e domingos, os bancos devem recompor o nível de emprego no setor para melhor atender a população brasileira, além de abrirem mais agências bancárias, principalmente naqueles municípios que não contam com essas estruturas. Desde 2016 subiu de 36% para 43% o número de municípios que não contam com uma agencia bancaria sequer.

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