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Chapéu
Novas tecnologias

Sindicato cobra e Fenaban se compromete com negociação permanente sobre impactos da IA no setor

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Foto mostra mesa de negociação entre Fenaban e Comando Nacional dos Bancários

Em mesa de negociação com a Fenaban (federação dos bancos) sobre novas tecnologias, na tarde desta segunda-feira (28), o Comando Nacional dos Bancários reivindicou que os impactos da Inteligência Artificial (IA) no setor bancário seja discutido com o movimento sindical de forma permanente e transparente.  

“Estamos acompanhando de perto as transformações no setor e elas nos preocupam. Notícias na mídia afirmam que a IA vai substituir o trabalho humano nos bancos e isso alarma a categoria. Por isso, para nós é fundamental que a gente possa discutir com os bancos esse tema com muita transparência e acompanhar mais de perto essas mudanças, inclusive com a possibilidade de interromper processo em andamento para achar alternativas que não prejudiquem os bancários, os clientes e a sociedade como um todo”, disse a presidenta do Sindicato, Neiva Ribeiro, uma das coordenadoras do Comando.

Neiva citou como exemplo desse impacto o fechamento acelerado de agências físicas pelos bancos e ressaltou que o Sindicato está em campanha nas ruas contra esse processo. “As revoluções tecnológicas devem ser usadas para o bem da sociedade em geral, e não para acabar com empregos e com o atendimento presencial à população. Em 2024, só 2% das atividades bancários foram feitas nas agências, mas esses 2% representam R$ 3,6 bilhões do total de transações (de R$ 208,2 bilhões no ano), volume semelhante ao de anos anteriores. Ou seja, as agências continuam rendendo para os bancos e sendo importante para os clientes, o que reforça a necessidade de se manter as unidades físicas e os postos de trabalho.”

Neiva Ribeiro (ao centro da foto) e Juvandia Moreira (de vermelho). Foto: Seeb-SP

Empregos impactados

Com base em dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira, também coordenadora do Comando, destacou que 1 a cada 4 empregos serão impactados, em algum grau, pela IA Generativa, sendo que a maioria dos postos de trabalho expostos não irão desaparecer, mas serão transformados, exigindo ações de qualificação e requalificação de trabalhadores.

A pesquisa apontou ainda que as mulheres têm duas vezes mais chances de serem expostas aos impactos da IA generativa sobre o trabalho. “Sabemos que alguns postos tendem a desaparecer e novos serão criados, por isso a importância do acompanhamento permanente do Sindicato para uma transição justa para um modelo sustentável”, destaca Neiva Ribeiro.

"Queremos entender o potencial desses impactos no emprego bancário, pois sabemos que, entre tantos setores, o setor bancário é o que mais investe intensamente em novas tecnologias", disse Juvandia, citando dado levantado pelo Dieese: entre 2018 e 2023, o orçamento em tecnologia dos bancos no mundo cresceu 35%, mas no Brasil o crescimento foi de 97%.

“Além de entender esses impactos, defendemos investimentos permanentes na qualificação dos trabalhadores, para que eles sejam preparados para as mudanças em curso, com foco especial na formação de mulheres, dando continuidade à conquista que obtivemos na última CCT (Convenção Coletiva de Trabalho), de bolsas de estudos para mulheres atuarem nas áreas de TI. Também queremos verificar em que medida a IA está sendo utilizada para controle dos trabalhadores, e como essas novas tecnologias podem estar vinculadas às questões de direitos por igualdade de oportunidades dentro das empresas, desumanizando os processos de contratação, ascensão e até demissão dos empregados ", completou a dirigente.

Na mesa de negociação, trabalhadores defenderam que a tecnologia seja usada a serviço de toda a sociedade<br>

Regulação da IA

Juvandia também lembrou que os bancários estão acompanhando a discussão da regulação da IA, que tramita no Senado (PL 2338/2023 – Marco Regulatório da IA), e que esse debate foi feito pelo Conselhão, o Conselho do Desenvolvimento Econômico, Social e Sustentável da Presidência da República, do qual fazem parte o Sindicato e a Contraf, representado por suas presidentas.

“Contribuímos com o debate a partir do ponto de vista dos trabalhadores. O país precisa planejar e pensar os vários aspectos dessa onda de transformação, com o uso da IA em vários aspectos: como se presta o serviço, como se acessa o serviço e como o trabalhador é afetado por isso em seu emprego, toda a sua vida funcional pode ser afetada nesse processo”, reforçou Juvandia.

Propostas dos trabalhadores

O Comando Nacional dos Bancários apresentou à Fenaban a proposta dos trabalhadores para uma transição justa no setor, ou seja, para um processo que não prejudique bancários nem clientes e em que os ganhos de produtividade com a IA também sejam divididos com a categoria. A proposta é dividida em dez pontos:

1 – Informar e consultar os Sindicatos sobre o desenvolvimento e a implementação de sistemas de IA que possam ter um impacto significativo nos funcionários dentro do sistema financeiro. Estabelecimento de Mesa de negociação por Banco envolvendo as COEs.

2 -  Pontos que devem ser negociados de forma imediata: fechamento de agências, cargos eliminados caixas, tesoureiro, gerente administrativo e outros.

3 - Reconhecimento dos Bancos que a IA tem o potencial de impactar os funcionários de várias maneiras, incluindo: mudanças nas funções e responsabilidades do trabalho; a necessidade de novas habilidades e treinamento; o potencial para deslocamento de empregos e mudanças nas condições de trabalho.

4 - Garantir em ACT que esses novos profissionais não sejam PJ ou terceirizados, ou seja, que o trabalho não seja precarizado.

5 - Negociação de um programa de requalificação e realocação, em se fazendo necessário, para que os bancários possam migrar para outras áreas. Estabelecer um apoio financeiro (indenização adicional) aos trabalhadores demitidos.

6 - Garantir que os sistemas de IA sejam desenvolvidos e usados de forma ética e responsável, em conformidade com as leis e regulamentos relevantes. Problemas nos “scores” que são definidos pela IA que discriminam socialmente os clientes e impactam no trabalho bancário.

7 - Proteger a privacidade e a segurança dos dados dos funcionários e clientes.

8 - Garantir que os funcionários tenham o direito de contestar decisões tomadas por sistemas de IA.

9 - Os bancos e sindicatos concordam em estabelecer o “Observatório de Transformação Digital dos Bancários” num trabalho conjunto para monitorar a implementação deste acordo e para desenvolver orientação adicional sobre o uso da IA no trabalho bancário.

10 – Redução da jornada de trabalho para 4x3, sem redução salarial, para que os ganhos de produtividade dos bancos advindos da tecnologia sejam divididos com os trabalhadores.

Fenaban se compromete com negociação

Os porta-vozes da Fenaban concordaram e incluir os trabalhadores no debate sobre mudanças tecnológicas no setor e aceitaram a proposta de mesa permanente para discussões sobre IA e pediram ao Comando uma proposta de calendário para os próximos encontros sobre o tema, que será apresentado em breve.

Mulheres na TI

A Fenaban também apresentou dados sobre os cursos e bolsas para mulheres da Programaria e da Laboratória, uma conquista dos bancários na Campanha Nacional 2024, com o objetivo de aumentar a participação das mulheres nos postos de trabalho da área de TI.

Pela ong Programaria foram realizadas 3 turmas. A primeira teve 9.729 inscrições para 1 mil bolsas e 475 mulheres formadas, sendo que 67% pretas e pardas, 33% pessoas LGBTQIA+, 9,4% pessoas trans, 29% mães e responsáveis, 14,5% pessoas com deficiência e 40% de zonas periféricas. Para a segunda turma houve 4.600 inscrições para mil bolsas, e tem 150 alunas ativas, sendo 56,5% negras, 25,67% LGBTQIA+, 3% trans, 36,32% mães e responsáveis. Para a terceira e quarta turmas serão 500 bolsas cada, com previsão de início para 18 de outubro e 3 de dezembro, respectivamente.

Já nos cursos do Laboratória, que têm duração maior, de 5 meses, há 40 alunas ativas na turma 1 e 50 alunas ativas na turma 2.

“O resultado dessa conquista é muito importante para nós porque é uma entrega concreta de todo um processo que iniciamos em negociação com os bancos, olhando para o futuro do mundo do trabalho e procurando incluir as mulheres num meio preponderantemente ocupado pelos homens e de onde vão sair as maiores oportunidade de empregabilidade e renda. É um passo importante para combater a desigualdade de renda entre homens e mulheres no futuro. Estamos muito satisfeitos com esses dados”, ressalta Neiva.

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