Pular para o conteúdo principal

Bancos desconhecem realidade dos bancários

Linha fina
Na primeira rodada de negociação sobre saúde e condições de trabalho, Fenaban insiste que metas não adoecem, mas relatos de trabalhadores provam que estão errados
Imagem Destaque

São Paulo – Mais uma vez os representantes dos bancos sentam à mesa de negociação afirmando que as metas impostas aos bancários não são abusivas e não causam adoecimento. Foi o que ocorreu na terça 19 e quarta 20, durante a primeira rodada da Campanha 2014 que debateu saúde e condições de trabalho. Mas relatos e denúncias de trabalhadores, que chegam com alta frequência ao Sindicato, indicam o contrário, e levam a crer que, no mínimo, os banqueiros estão mal informados sobre a realidade em suas empresas.

> Bancos voltam a dizer que metas não são abusivas

“Era a principal em um projeto quando, numa reunião de equipe, tive minha avaliação exposta. Eles denegriram minha imagem. Comecei a sentir que estava todo mundo cochichando sobre mim e a gerente disse que eu precisava arrumar outra área para trabalhar. Fui colocada totalmente de lado. Entrei em um processo depressivo profundo, e tive de recorrer a remédios e psicoterapia. Fui demitida em agosto e continuo fazendo tratamento”, conta uma bancária com 38 anos e 11 de banco. “Minha equipe trabalhava sábado, domingo e feriado e, às vezes, até 11 horas da noite. E queriam mais. Eu tenho dois filhos pequenos, de cinco e oitos anos. Não podia mais”, acrescenta.

“Desde meados do ano passado começou um clima ruim, uma competitividade e uma exposição do trabalho do outro em reuniões, além de troca de e-mails que saíam do campo profissional e atingiam o campo pessoal”, relata outra trabalhadora. “Se pedissem para eu ficar até mais tarde, eu ficava. Já fui coordenadora em outras empresas e nunca tinha passado por tanta pressão e um estresse tão grande”, compara a bancária de 34 anos.

O resultado dessa situação foi o afastamento por problemas de saúde: “Minha enxaqueca aumentou, descobri um mioma e o médico me falou que era o emocional abalando minha saúde. Em dezembro de 2013 tirei licença. Ainda estou afastada. Tomo fluoxetina e clonazepan para dormir. Emagreci nove quilos e não foi de uma forma saudável. Na sexta-feira tenho outra perícia e, para falar a verdade, não estou 100% pronta para voltar a trabalhar”. A funcionária sofre ainda com o medo de ser demitida: “Teve uma moça que ficou afastada, também por depressão, voltou e foi mandada embora logo depois. Vou voltar e vão falar que não me adaptei”.

Discriminação – Demitida após 26 anos de banco, outra trabalhadora lembra a rotina de discriminação e desrespeito: “Tenho LER (Lesão por Esforço Repetitivo), adquirida em 1997, por conta do trabalho. Fui muito discriminada. Na época disseram que o banco estava pagando para uma inútil. No total, o banco me fez fazer oito cirurgias de LER, nos dois punhos.”
A bancária se sentia isolada, uma das características do assédio moral. “Era como se eu não fosse funcionária, não tinha direito à mesa nem a e-mail. Faziam reunião depois que eu saía, não ficava sabendo de nada.” A ex-funcionária entrou com ação na Justiça do Trabalho pedindo indenização por danos morais.

Ilusão – “O ‘sonho’ vendido pelo banco me consumia. Trabalhando até altas horas, viajando pela empresa – deixando esposa e filhos doentes em casa muitas vezes –, fazendo curso de graduação e idiomas pela internet, o que me obrigava a ficar das 20h à 1h no computador todos os dias da semana e boa parte dos sábados e domingos. Até aí, tudo corria bem para o banco, mas minha saúde pagou o preço. Fui afastado por doença ocupacional em 2009. Minha LER não é comprovável via exames e vivo à base de remédios como Cymbalta e Lamitor, além de calmantes”, conta outro bancário, com 16 anos de instituição.

Seu filme – Que filme daria a história da sua vida no banco? Relate para o Sindicato clicando aqui (escolha o setor "site") ou mandando e-mail direto para [email protected]. Vamos contar para a sociedade como é a rotina nas agências e departamentos do setor mais rentável do Brasil. O sigilo é garantido.


Redação – 21/8/2014

seja socio