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São Paulo – O Banco Central afastou a possibilidade de corte na taxa básica de juros (Selic) e usou pressões inflacionárias como justificativa. Atualmente, o índice, usado para remuneração dos títulos da dívida pública, está em 14,25% ao ano – um dos mais altos do mundo e responsável pelos juros cobrados do consumidor serem tão caros.
Economistas afirmam que usar as tais pressões inflacionárias é mera desculpa a fim de manter alta a remuneração aos detentores de grandes volumes de títulos da dívida pública, formado principalmente por banqueiros e outras fortunas financeiras.
Amir Khair, mestre em economia pela Fundação Getúlio Vargas, destaca que 80% do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), usado pelo IBGE para medir a inflação, refere-se a alta de preços de serviços; bebidas e alimentos; e preços monitorados pelo governo, como combustíveis, energia e planos de saúde.
“A Selic não tem a nada a ver com a inflação desses grupos. Os preços dos alimentos respondem mais ao problema climático, e as tarifas públicas são decisões de governo, portanto não passam pela porta do Banco Central”, diz Khair.
Segundo Khair, para frear a inflação é fundamental combater o componente que majora os preços na economia, que são as taxas de juros ao consumidor. “Se um produto precisa ser consumido pela população que usa crediário, que tem uma majoração de 153% ao ano, isso aumenta o custo em relação ao preço a vista em duas vezes e meia”, ilustra. “O Brasil é o único país do mundo que cobra essa taxa. O sistema financeiro daqui é uma agiotagem."
O economista Eduardo Fagnani descarta a tentativa de baixar os juros, colocada em prática pela então presidenta Dilma Rousseff a partir de 2012 – naquele ano a taxa chegou a 7,25% –, como responsável pela alta da inflação verificada nos últimos meses.
O recente aumento dos preços, de acordo com Fagnani, tem origem na desvalorização do real frente ao dólar, que encareceu os produtos importados; na elevação de uma vez só das tarifas públicas depois de anos sem reajuste; e porque as tarifas de todos os setores privatizados foram prefixadas em contratos com reajustes altos.
Para ele, o responsável por essa ciranda de alta nos juros para frear a inflação tem origem na política conhecida como tripé macroeconômico, aplicado desde 1999 e formado por metas de controle da inflação, câmbio flutuante e superávits fiscais primários (economia do governo para pagar os juros da dívida pública).
“Só tem uma bala para combater a inflação [com essa política] que é o aumento da taxa de juros. A única função desse tripé é preservar a riqueza financeira”, critica Fagnani. “Esse regime é condenado até pelo FMI. Foi consenso na década de 90, mas hoje o mundo discute formas de flexibilização, enquanto no Brasil querem torná-lo ainda mais ortodoxo.”
A função do Banco Central brasileiro também é criticada por Fagnani. Ele lembra que nos Estados Unidos o Fed (Banco Central daquele país) tem a missão de controlar a inflação junto com a preservação dos empregos, diferentemente do Brasil, onde o BC só tem de focar no combate à alta de preços.
“O que o governo está fazendo para frear a inflação é deliberadamente o aumento do desemprego. Se tem desemprego, cai o poder de compra das pessoas e junto a inflação. O objetivo não é fazer a economia crescer. Isso é conversa mole. O objetivo é gerar recessão para fazer a inflação ir para o centro da meta.”
O economista Ladislau Dowbor lembra que o ciclo hiperinflacionário rendia muitos ganhos aos bancos, mas com a quebra desse sistema, em 1993, a compensação que se deu foi criar, em 1996, o sistema de taxa Selic.
A Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia) permite aos bancos usar o dinheiro aplicado pela população nas poupanças, que rende ao correntista cerca de 6% ao ano, para comprar títulos da dívida pública, que chegaram a ser remunerados pelo Tesouro a 45%, ante uma inflação de 12% ao ano.
“É um sistema em que você convence o governo de que é mais fácil se endividar junto aos bancos do que fazer uma reforma tributária e cobrar impostos de forma progressiva [os mais ricos pagam mais]. De qualquer maneira, a população termina pagando, porque os impostos não vão ser usados para financiar infraestrutura e políticas sociais como educação, saúde e segurança, e sim para remunerar os títulos da divida pública.”
Economistas afirmam que usar as tais pressões inflacionárias é mera desculpa a fim de manter alta a remuneração aos detentores de grandes volumes de títulos da dívida pública, formado principalmente por banqueiros e outras fortunas financeiras.
Amir Khair, mestre em economia pela Fundação Getúlio Vargas, destaca que 80% do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), usado pelo IBGE para medir a inflação, refere-se a alta de preços de serviços; bebidas e alimentos; e preços monitorados pelo governo, como combustíveis, energia e planos de saúde.
“A Selic não tem a nada a ver com a inflação desses grupos. Os preços dos alimentos respondem mais ao problema climático, e as tarifas públicas são decisões de governo, portanto não passam pela porta do Banco Central”, diz Khair.
Segundo Khair, para frear a inflação é fundamental combater o componente que majora os preços na economia, que são as taxas de juros ao consumidor. “Se um produto precisa ser consumido pela população que usa crediário, que tem uma majoração de 153% ao ano, isso aumenta o custo em relação ao preço a vista em duas vezes e meia”, ilustra. “O Brasil é o único país do mundo que cobra essa taxa. O sistema financeiro daqui é uma agiotagem."
O economista Eduardo Fagnani descarta a tentativa de baixar os juros, colocada em prática pela então presidenta Dilma Rousseff a partir de 2012 – naquele ano a taxa chegou a 7,25% –, como responsável pela alta da inflação verificada nos últimos meses.
O recente aumento dos preços, de acordo com Fagnani, tem origem na desvalorização do real frente ao dólar, que encareceu os produtos importados; na elevação de uma vez só das tarifas públicas depois de anos sem reajuste; e porque as tarifas de todos os setores privatizados foram prefixadas em contratos com reajustes altos.
Para ele, o responsável por essa ciranda de alta nos juros para frear a inflação tem origem na política conhecida como tripé macroeconômico, aplicado desde 1999 e formado por metas de controle da inflação, câmbio flutuante e superávits fiscais primários (economia do governo para pagar os juros da dívida pública).
“Só tem uma bala para combater a inflação [com essa política] que é o aumento da taxa de juros. A única função desse tripé é preservar a riqueza financeira”, critica Fagnani. “Esse regime é condenado até pelo FMI. Foi consenso na década de 90, mas hoje o mundo discute formas de flexibilização, enquanto no Brasil querem torná-lo ainda mais ortodoxo.”
A função do Banco Central brasileiro também é criticada por Fagnani. Ele lembra que nos Estados Unidos o Fed (Banco Central daquele país) tem a missão de controlar a inflação junto com a preservação dos empregos, diferentemente do Brasil, onde o BC só tem de focar no combate à alta de preços.
“O que o governo está fazendo para frear a inflação é deliberadamente o aumento do desemprego. Se tem desemprego, cai o poder de compra das pessoas e junto a inflação. O objetivo não é fazer a economia crescer. Isso é conversa mole. O objetivo é gerar recessão para fazer a inflação ir para o centro da meta.”
O economista Ladislau Dowbor lembra que o ciclo hiperinflacionário rendia muitos ganhos aos bancos, mas com a quebra desse sistema, em 1993, a compensação que se deu foi criar, em 1996, o sistema de taxa Selic.
A Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia) permite aos bancos usar o dinheiro aplicado pela população nas poupanças, que rende ao correntista cerca de 6% ao ano, para comprar títulos da dívida pública, que chegaram a ser remunerados pelo Tesouro a 45%, ante uma inflação de 12% ao ano.
“É um sistema em que você convence o governo de que é mais fácil se endividar junto aos bancos do que fazer uma reforma tributária e cobrar impostos de forma progressiva [os mais ricos pagam mais]. De qualquer maneira, a população termina pagando, porque os impostos não vão ser usados para financiar infraestrutura e políticas sociais como educação, saúde e segurança, e sim para remunerar os títulos da divida pública.”
Rodolfo Wrolli – 2/8/2016
(Atualizada às 11h48 de 3/8/2016)