Em apresentação feita na audiência conjunta das comissões de Desenvolvimento Econômico e de Tributação e Finanças, da Câmara dos Deputados, realizada na manhã desta terça 13, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconheceu que a inflação brasileira converge para ficar dentro da meta estipulada pelo governo federal, entre 1,5% e 4,5%; o crescimento da economia acima do esperado; e os bons resultados na geração de empregos.
Apesar de reconhecer os bons resultados em termos de controle da inflação, crescimento econômico e geração de empregos, Campos Neto insistiu na defesa da atual política monetária do Banco Central, que mantém a Selic em 10,5%, o que acarreta numa das maiores taxas reais de juros do mundo, atrás apenas da Rússia.
O presidente do BC justificou sua política monetária - com “taxas de juros absurdamente altas”, nas suas próprias palavras – citando como fatores de pressão a “baixa taxa de recuperação de crédito” no país, a dívida pública, uma taxa de poupança menor e o crédito direcionado.
Indignação entre os parlamentares
A apresentação de Campos Neto, na qual fez a defesa da política monetária do BC, que mantém a Selic em patamar elevadíssimo apesar da inflação sob controle, levou a críticas e questionamentos indignados por parte de muitos parlamentares.
"Existem os fatos e versões (…) É fato que o Banco Central está praticando taxas de juros muito elevadas. 10,5% para uma inflação de 4% é absurdamente desproporcional (…) Isso inibe o crescimento, a geração de empregos e acarreta custo muito grande para a rolagem de dívida, que consome 7,5% do PIB todos os anos só com o pagamento de juros ", enfatizou o deputado Merlong Solano.
“Se a inflação aqui está controlada, como o senhor mesmo disse, o que é surpreendente, não vejo motivo para uma taxa de juros em 10,5%, consumindo quase 25% de todo o orçamento. Se esse dinheiro estivesse nos cofres públicos poderíamos melhorar o Brasil de uma maneira geral. A saúde, a educação, e infraestrutura. Mas não. A preocupação do BC é apenas proteger especuladores", reforçou o deputado Paulo Guedes.
Conflito de interesses
Por sua vez, o deputado Lindemberg Farias questionou Campos Neto sobre possível conflito de interesses, acusando-o de possuir empresas e aplicações que seriam remuneradas de acordo com a Selic.
Na última quarta-feira, 7 de agosto, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) derrubou liminar que impedia investigação por parte do Conselho de Ética da Presidência da República sobre manutenção de dinheiro em paraísos ficais por Campos Neto e um suposto esquema para lucrar com a Selic.
A investigação começou em 2019, com revelações do caso Pandora Papers, que expôs informações sobre dinheiro de agentes de mercado em paraísos fiscais. Em 2004, Campos Neto teria aberto, com US$ 1 milhão aplicado, uma offshore nas Ilhas Virgens.
"Nesses fundos exclusivos dos quais o senhor é proprietário existem títulos remunerados pela taxa Selic ou IPCA?”, questionou Lindemberg.
Atuação política e influência de banqueiros
Lindemberg expôs ainda a atuação política de Campos Neto - que preside um órgão que deveria ser independente – e sua relação com o bolsonarismo.
"Não existe um presidente do Banco Central desenvolver agregador de pesquisas para a campanha do Bolsonaro. Não existe votar com camisa da seleção brasileira, fazer convescote com Tarcísio e depois sair falando que me chamou para ser ministro. Isso abala toda credibilidade do Banco Central", indignou-se o parlamentar.
Outro ponto exposto por Lindemberg durante a audiência com Campos Neto foi a influência de banqueiros sobre a sua atuação como, por exemplo, quando em 2021 o presidente do Banco Central ligou para André Esteves, dono do BTG Pactual, para perguntar sobre a taxa de juros. O áudio da ligação foi vazado pelo site Brasil 247.
Bancários na luta por juros mais baixos já!
O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região reforça o seu posicionamento contra a atual política monetária do Banco Central presidido por Campos Neto, que chegou ao cargo por indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Os bancários estão na luta, participando de diversas manifestações, pela queda da taxa básica de juros. Manter os juros nos elevados patamares atuais é uma forma de boicotar o crescimento econômico, os investimentos e a geração de emprego e renda. Esta é mais uma consequência da alegada ‘autonomia’, que obriga o governo atual a conviver por dois anos com o presidente do BC indicado pelo governo anterior, e que mantém afinidade política e ideológica com um projeto derrotado nas urnas. Quem sofre as consequências é o setor produtivo e as famílias, que padecem no endividamento e na dificuldade para se obter crédito”
Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários