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Bancários não aguentam mais as “regras do jogo”

Linha fina
Curtas conversas com trabalhadores, no primeiro dia de greve, mostram porque a categoria está adoecendo e exige condições humanas de trabalho. Pressão por metas é o problema apontado em todos os relatos
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São Paulo – O Comando Nacional dos Bancários deixou claro na mesa de negociação com a federação dos bancos (Fenaban) que a Campanha 2013 não se resolve sem propostas para melhorar o ambiente de enorme pressão nas agências e departamentos das instituições financeiras. Basta conversar alguns minutos com qualquer bancário para entender o porquê.

“Apenas na minha área, três colegas foram afastados em um mês. É muita pressão para cumprir uma meta inalcançável. Preciso ligar para cliente e pedir ‘pelo amor de Deus’ para comprarem os produtos. Isso gera angústia”, contou uma bancária do Itaú Patriarca.

“As cobranças por metas são o dia inteiro. Se a gente levanta para ir ao banheiro, já perguntam ‘já fez tal coisa?’”, disse um bancário do Bradesco.

“Na minha opinião, o assédio moral por causa da cobrança por metas é o principal problema. E ele vem de todos os jeitos: verbalmente, por e-mail, telefone, SMS, sem contar as ameaças quando não conseguimos render”, relatou um funcionário do Santander.

Os depoimentos foram colhidos durante a mobilização da categoria na quinta-feira 19, primeiro dia de greve.

Somos números – Para uma bancária do Itaú o problema é que os trabalhadores não são vistos como gente. “Nós somos números e não pessoas. E se não formos bons números, somos zero à esquerda.”

Não é apenas um trocadilho, por conta das metas mensais, diárias e as “relâmpago”. A trabalhadora já teve depressão e síndrome do pânico, passou por tratamento psiquiátrico por dois anos. E tudo isso antes dos 26 anos que tem agora. “Todo mundo surta. Surtar faz parte do jogo.”

As regras do jogo – Um jogo que é comum em todo o setor bancário: “Não adianta bater a meta, tem que ultrapassar a meta. E aquele que não atinge, fica em situação pior ainda. O supervisor manda e-mail pra equipe com o nome de todos os funcionários que não bateram. É tipo assim: fulano tem que vender 100 cartões, até o momento vendeu 50’. E as metas relâmpago não deixam a gente em paz. Ou seja, além de atender o cliente, a gente ainda tem que vender. De vez em quando tenho uns surtos, fico muito estressada, chorona. Tô procurando atendimento psicológico gratuito. Sinto que a qualquer hora vou ter um ataque de coração”, contou uma funcionária do call center do Santander.

“Todos são expostos. E isso é ruim principalmente para quem não consegue chegar à meta. São e-mails enviados para muitas pessoas, inclusive supervisores regionais. É um ranking de vendas. Quem não atinge a meta entra em depressão”, explicou outro bancário do Itaú Patriarca.

“Os gerentes passam as metas e depois em audioconferência anunciam quem bateu e quem não bateu. Os funcionários têm muito medo dessas reuniões”, lembrou uma caixa do Bradesco, acrescentando que bater a meta nem é mais atingi-las, é ultrapassá-las. “Mesmo que a agência tenha batido 100% da meta, no dia seguinte é outro produto. Um dia é a meta do consórcio, outro é do seguro. E se você não consegue vender, é exposto. Tem funcionário que sua frio antes dessas reuniões.”

Ela conta já ter visto uma assistente PJ que se afastou por estresse. “Teve um dia que ela passou mal, não conseguia falar nem se mexer.” E conclui o relato com uma triste informação: “E ela tem minha idade: 25 anos”.


Andréa Ponte Souza - 20/9/2013

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