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Demissões "com responsabilidade", dizem bancos

Linha fina
Comando cobrou fim das dispensas imotivadas, reforçando que não se trata de números, mas de 5 mil pais e mães de família que perderam seus empregos somente nos primeiros seis meses do ano
Imagem Destaque

São Paulo – Os bancos não querem nem saber de garantir empregos e acabar com as dispensas imotivadas. Os negociadores da Fenaban disseram não a essas reivindicações feitas pelo Comando Nacional dos Bancários na reunião realizada na quinta 4, encerrando a terceira rodada da Campanha Nacional 2014.

De acordo com os representantes das instituições financeiras que participam da mesa (BB, Caixa, Bradesco, Itaú, Santander e HSBC), essas demissões são feitas com muita responsabilidade e a maioria dos bancários que deixam seus empregos pedem para sair, o que foi prontamente rebatido pelo Comando com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego. Entre agosto de 2013 e julho de 2014, 62,8% dos desligamentos aconteceram por iniciativa dos bancos.

“E deixamos claro que estamos falando de pessoas e não só de números”, afirma a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira. “São mais de 5 mil pais e mães de família dispensados somente nos primeiros seis meses deste ano. É um quadro inaceitável, que causa grande sofrimento tanto para os trabalhadores que saem quanto para os que ficam. Só serve para aumentar o lucro dos bancos”, reforça a dirigente que é uma das coordenadoras do Comando.

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> Para bancos, eliminar 5 mil empregos “não é muito”

Foi apontado pelos representantes dos trabalhadores que a falta de funcionários gera grandes filas e transtorna o funcionamento das agências. Para a Fenaban, no entanto, isso é uma questão de gestão que só pode ser definida banco a banco, não cabe à Convenção Coletiva de Trabalho. E que o dimensionamento das agências já é feito com muito critério e tecnicidade. Os dirigentes do Comando lembraram que a realidade nos locais de trabalho é de sobrecarga e adoecimento, com redução até no horário de almoço. Para a Fenaban, isso é exceção.

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“Queremos o fim das demissões e mais contratações para aumentar o número de empregados por agência”, destaca Juvandia. Os bancários reforçaram, ainda, a reivindicação do respeito à jornada de seis horas.

Terceirização – O Comando voltou a cobrar o fim da terceirização por meio da qual os bancos economizam e aumentam seus lucros, retirando direitos e pagando salários mais baixos. Mas a Fenaban mais uma vez deixou clara a importância dessa prática para o setor e que não pretendem revertê-la. “Para eles, a regulamentação deve permitir terceirizar qualquer área e somos contra”, salienta Juvandia.

A ampliação e desvirtuação do papel dos correspondentes bancários (CB) também foi debatida. O Comando lembrou que em vez de atender em locais distantes, estão nos grandes centros. Os bancos assumiram que se trata de uma forma de terceirização e que só estão fazendo o que se faz no mundo todo. “A crise financeira internacional já provou que fazer o que se faz no mundo todo não é necessariamente bom”, critica Juvandia. “Os bancos não podem utilizar o CBs para prestar servicos mais baratos e de menor qualidade, forma de aumentar ainda mais seus lucros.”

Indenização adicional – Os bancários querem o fim das demissões, mas se acontecerem devem se tornar mais caras. Assim, reivindicam o aumento do valor da indenização adicional como forma de criar barreiras que evitem as milhares de dispensas imotivadas que o setor vem fazendo. A Fenaban se comprometeu a levar o debate às direções da instituições financeiras para ver o que pode ser feito. “Lançamos um desafio: se os bancos têm rotatividade tão baixa como dizem, podem aumentar a indenização adicional, não sairia tão caro”, diz Juvandia.

Tecnologia – O Comando quer a instalação de uma comissão para discutir o impacto dos avanços tecnológicos no dia a dia e no emprego bancário. Para os bancos, no entanto, o assunto só pode ser debatido em seminário, como já aconteceu este ano.

Relações de trabalho – Como constantemente a Fenaban remete debates das negociações da campanha para serem feitos banco a banco, o Comando sugeriu a criação de um Comitê de Relações de Trabalho por banco que resolveria essas pendências, fortalecendo o processo negocial. Mas eles negaram, argumentando que seria contra a própria Fenaban.

Abono-assiduidade – Os bancários querem a ampliação do abono-assiduidade para cinco dias. A Fenaban informou que já teve dificuldades com o tema no ano passado, mas se comprometeu a debater com os bancos.

Qualificação e requalificação – Para a Fenaban, a formação tem de ser preferencialmente preocupação e responsabilidade do funcionário, mas o Comando insistiu na reivindicação de que as instituições financeiras arquem com os custos das provas de certificação exigidos pelo setor, como CPA 10 e 20. A pauta será analisada pelos bancos.


Cláudia Motta – 4/9/2014

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