Pular para o conteúdo principal

Greve não é só por salário, dizem trabalhadores

Linha fina
Falta de funcionários, sobrecarga, metas abusivas que mudam toda hora são as principais reclamações
Imagem Destaque

São Paulo - A chiadeira é geral. Às metas abusivas e que mudam de uma hora para outra somaram-se as demissões promovidas pelos bancos, principalmente no último ano. O resultado é uma rotina infernal em que os trabalhadores são atormentados pela sobrecarga de trabalho e pressão por venda de produtos.

> Greve começa forte em todo o país
> Vídeo: sensação de que fui descartado

“A falta de funcionários é um problema geral no Bradesco, em todas as agências”,  relata um gerente administrativo responsável por duas unidades: uma Prime e outra varejo. “Vários gerentes, como eu, passaram a administrar agências partilhadas. Isso gera uma hiper sobrecarga. Tenho um amigo na mesma situação que se afastou por síndrome do pânico, voltou recentemente, mas não tem condições de reassumir o cargo.” E se queixa da pouca quantidade de funcionários: “sendo gerente administrativo, você acaba tendo de dar conta de tudo, das reclamações dos clientes, dos funcionários, dos caixas, das máquinas... E tudo isso com equipes reduzidas tanto na Prime quanto na de varejo.”

Diante do quadro, o bancário, que tem mais de 20 anos de casa, não pensa mais em se aposentar pelo banco: “Antes eu vinha trabalhar com prazer, hoje costumo dizer pra minha esposa que é um sofrimento. E não porque eu não queira mais cumprir minhas tarefas, mas porque as condições de trabalho são péssimas”.

Uma colega, assistente no mesmo banco, se queixa: “tem meta o tempo todo e você tem de correr atrás. Tem de perturbar os clientes tentando vender produtos. Nos meses em que não conseguimos bater a meta, somos cobrados e dizem que é pra se esforçar mais. As pessoas pensam: ‘ah os bancários estão em greve, isso é frescura, reclamam de barriga cheia’. Não é assim não, é um trabalho difícil!”

Com 24 anos, a jovem tem uma certeza: “Não quero seguir carreira. Sou formada em uma área bem diferente e vou procurar exercer essa outra profissão porque não vou aguentar ficar aqui”.

Um funcionário do Itaú reforça: “A greve é válida, é justa para sermos respeitados. As metas são o que mais estão pegando hoje em dia. Tenho de vender 140 produtos por mês”. E relata uma trágica situação: “um colega de 22 anos sofreu um infarto no mês passado. Ele estava há três meses sem bater os resultados. Com certeza essa pressão e esse assédio ajudaram”. A situação se repete no Santander. “Além de aumento de salário, queremos revisão do número de metas e o fim das demissões. Tenho dois amigos próximos que foram dispensados recentemente.”

Na Caixa, é urgente mais contratação, ressalta um empregado. “Minha agência fica distante e é a única a realizar diversos serviços só feitos pela Caixa, como o Bolsa Família. São 700 atendimentos por dia para apenas sete bancários. Os clientes chegam a esperar duas horas pelo atendimento. Essa greve também é em favor deles.”

Os trabalhadores da central de atendimento do Banco do Brasil querem, principalmente, condições de trabalho. “Aqui  o problema é falta de pausa entre uma ligação e outra. Com cobranças, o trabalho fica cansativo e estressante.”

A presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, reforça a cobrança para que a federação dos bancos apresente proposta para acabar com esse quadro que gera sofrimento e milhares de adoecimentos na categoria. “Para os bancos, metas são coisas normais, da vida. Mas metas que adoecem, que deprimem tanto que afastam milhares de trabalhadores de suas atividades, não podem ser consideradas normais, são abusivas! Os bancários não aguentam mais tanta pressão e isso tem de mudar”, destaca a dirigente.


Redação - 30/9/2014

seja socio