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São Paulo – O cenário, a Praça da Sé, início da noite de 10 de setembro de 1985. Aos poucos o local foi tomado por milhares de bancários da cidade de São Paulo. Ouviam o então presidente do Sindicato, Luiz Gushiken. Era a assembleia que decretou o início da primeira greve nacional da categoria após a ditadura militar. O movimento que parou o sistema financeiro da capital durou dois dias nos bancos privados e públicos estaduais – no BB duraria mais um e os empregados da Caixa ainda não eram da categoria – e conquistou 90,78% de reajuste, 22,45% acima da inflação segundo a Folha Bancária à época.
> Caixa Federal: bancários, sim senhor
Luiz Antônio Azevedo, o Luizinho do BB, um dos organizadores do levante, atribui o resultado vitorioso ao aprendizado com as greves de 1978 e 1979.
“Em 1978, ainda na oposição do Sindicato, tentamos reproduzir a máxima dos metalúrgicos do ABC: braços cruzados, máquinas paradas. Não deu certo, pois os bancários, principalmente caixas e escriturários, ficavam expostos à pressão de chefias e clientes”, lembra o dirigente. “Em 1979 a categoria estava dividida e, frente à forte repressão policial, o movimento não teve êxito. Tiramos a lição de que numa próxima greve teria de haver unidade da categoria em todo o país.”
Para superar os reveses, dirigentes investiram na organização nacional, e a Folha Bancária teve papel estratégico. O jornal, diário, era enviado país afora por meio da estrutura do Corep (representante dos funcionários no Conselho de Administração do Banespa) Augusto Campos, que presidiu o Sindicato em 1979. “Bancários de outros estados ficavam sabendo o que fazíamos aqui e cobravam o mesmo empenho onde estavam. Tudo estava caminhando bem até julho de 1983”, ressalta Luizinho.
Naquele ano, em represália à greve geral de 21 de julho e aos preparativos para a fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o regime militar caçou a diretoria e interveio no Sindicato dos Bancários de São Paulo – por 20 meses –, além dos Metalúrgicos do ABC, Metroviários de São Paulo, Petroleiros de Campinas e da Bahia.
Ano da virada – O fim da intervenção coincidiu com uma greve de 24 horas no BB, em 7 de dezembro de 1984. Luiz Gushiken é eleito presidente em março de 1985 num período de inflação alta e tem início a luta pelo aumento trimestral de salário, resultando na antecipação de reajuste de 25% em junho. O passo seguinte foi trabalhar pela greve nacional.
“Para nós, bancários de São Paulo, era difícil uma greve que não fosse nacional. Então houve trabalho de convencimento não só da categoria, mas principalmente dos dirigentes sindicais”, destacou Luiz Gushiken (falecido em 2013) em depoimento no documentário A Grande Virada.
Nesse sentido, em 6 de junho de 1985 ocorre encontro aberto no Rio de Janeiro com representantes de 16 estados, no qual é criado o Departamento Nacional dos Bancários da CUT (DNB/CUT), embrião da Contraf-CUT. Entre as resoluções, segundo Luizinho, a deliberação da greve nacional para 11 de setembro e, entre as reivindicações, a incorporação dos 25%.
Se não sacou, é bom sacar – Nos meses que antecederam a paralisação foram realizados atos, uma passeata com mais de 30 mil bancários e shows com milhares de trabalhadores.
> Caixa Federal: bancários, sim senhor
Luiz Antônio Azevedo, o Luizinho do BB, um dos organizadores do levante, atribui o resultado vitorioso ao aprendizado com as greves de 1978 e 1979.
“Em 1978, ainda na oposição do Sindicato, tentamos reproduzir a máxima dos metalúrgicos do ABC: braços cruzados, máquinas paradas. Não deu certo, pois os bancários, principalmente caixas e escriturários, ficavam expostos à pressão de chefias e clientes”, lembra o dirigente. “Em 1979 a categoria estava dividida e, frente à forte repressão policial, o movimento não teve êxito. Tiramos a lição de que numa próxima greve teria de haver unidade da categoria em todo o país.”
Para superar os reveses, dirigentes investiram na organização nacional, e a Folha Bancária teve papel estratégico. O jornal, diário, era enviado país afora por meio da estrutura do Corep (representante dos funcionários no Conselho de Administração do Banespa) Augusto Campos, que presidiu o Sindicato em 1979. “Bancários de outros estados ficavam sabendo o que fazíamos aqui e cobravam o mesmo empenho onde estavam. Tudo estava caminhando bem até julho de 1983”, ressalta Luizinho.
Naquele ano, em represália à greve geral de 21 de julho e aos preparativos para a fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o regime militar caçou a diretoria e interveio no Sindicato dos Bancários de São Paulo – por 20 meses –, além dos Metalúrgicos do ABC, Metroviários de São Paulo, Petroleiros de Campinas e da Bahia.
Ano da virada – O fim da intervenção coincidiu com uma greve de 24 horas no BB, em 7 de dezembro de 1984. Luiz Gushiken é eleito presidente em março de 1985 num período de inflação alta e tem início a luta pelo aumento trimestral de salário, resultando na antecipação de reajuste de 25% em junho. O passo seguinte foi trabalhar pela greve nacional.
“Para nós, bancários de São Paulo, era difícil uma greve que não fosse nacional. Então houve trabalho de convencimento não só da categoria, mas principalmente dos dirigentes sindicais”, destacou Luiz Gushiken (falecido em 2013) em depoimento no documentário A Grande Virada.
Nesse sentido, em 6 de junho de 1985 ocorre encontro aberto no Rio de Janeiro com representantes de 16 estados, no qual é criado o Departamento Nacional dos Bancários da CUT (DNB/CUT), embrião da Contraf-CUT. Entre as resoluções, segundo Luizinho, a deliberação da greve nacional para 11 de setembro e, entre as reivindicações, a incorporação dos 25%.
Se não sacou, é bom sacar – Nos meses que antecederam a paralisação foram realizados atos, uma passeata com mais de 30 mil bancários e shows com milhares de trabalhadores.
“Martelávamos o tempo todo: se não sacou é bom sacar, os bancários vão parar. Conforme o dia 11 se aproximava, pessoas iam aos caixas pegar dinheiro. Isso ganhou a população, que podia se precaver. A categoria era preparada pela Folha Bancária, que estampava na capa um rastilho de pólvora com uma bomba no final com a data do dia 11. Tudo isso pressionava os banqueiros”, recorda Luiz Azevedo.
Explodiu – A assembleia na noite de 10 de setembro tomou a Praça da Sé e a categoria entrou em greve. No dia seguinte, o chamado “centro bancário” amanheceu diferente: faixas nas portas dos bancos, dirigentes falando em megafones. O mesmo se repetia pelo país.
“Os bancários ficavam na frente da agência onde trabalhavam. Aí vinha um carro com alguém do Sindicato que perguntava: quem quer ajudar a parar outros lugares? Não dava dois minutos e lotava de bancários. Foi como uma bola de neve. Acho que todo mundo estava esperando aquele dia”, lembra o ex-assessor do Sindicato Nelson Silva. “As pessoas pintavam cartazes ‘estamos em greve’ e pregavam com ‘durex’ nas portas. A todo instante chegava notícia de que a greve só crescia.”
Foi instalado dissídio e na noite de 12 de setembro, segundo dia de greve nacional, a categoria aprovou proposta do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de reajuste de 90,78%, considerado uma grande vitória, já que incorporava também os 25% da antecipação. A categoria encerrava uma de suas greves históricas e a principal conquista foi fortalecimento da unidade nacional e a inauguração de uma fase de fortes mobilizações. Da luta empreendida por milhares de bancários de todo o Brasil, perduram até os dias de hoje o vale-refeição (1990), a Convenção Coletiva de Trabalho nacional (1992), o vale-alimentação (1994), a PLR (1995), e mesmo as mais recentes, como a PLR adicional (2006), a licença-maternidade de 180 dias (2009), o aumento real para os salários por onze anos consecutivos, entre muitas outras.
Além disso, incentivados pela vitória, em 30 de outubro de 1985 os empregados da Caixa fazem greve de 24 horas e ingressaram oficialmente na categoria bancária, direito à sindicalização e à jornada de seis horas.
Explodiu – A assembleia na noite de 10 de setembro tomou a Praça da Sé e a categoria entrou em greve. No dia seguinte, o chamado “centro bancário” amanheceu diferente: faixas nas portas dos bancos, dirigentes falando em megafones. O mesmo se repetia pelo país.
“Os bancários ficavam na frente da agência onde trabalhavam. Aí vinha um carro com alguém do Sindicato que perguntava: quem quer ajudar a parar outros lugares? Não dava dois minutos e lotava de bancários. Foi como uma bola de neve. Acho que todo mundo estava esperando aquele dia”, lembra o ex-assessor do Sindicato Nelson Silva. “As pessoas pintavam cartazes ‘estamos em greve’ e pregavam com ‘durex’ nas portas. A todo instante chegava notícia de que a greve só crescia.”
Foi instalado dissídio e na noite de 12 de setembro, segundo dia de greve nacional, a categoria aprovou proposta do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de reajuste de 90,78%, considerado uma grande vitória, já que incorporava também os 25% da antecipação. A categoria encerrava uma de suas greves históricas e a principal conquista foi fortalecimento da unidade nacional e a inauguração de uma fase de fortes mobilizações. Da luta empreendida por milhares de bancários de todo o Brasil, perduram até os dias de hoje o vale-refeição (1990), a Convenção Coletiva de Trabalho nacional (1992), o vale-alimentação (1994), a PLR (1995), e mesmo as mais recentes, como a PLR adicional (2006), a licença-maternidade de 180 dias (2009), o aumento real para os salários por onze anos consecutivos, entre muitas outras.
Além disso, incentivados pela vitória, em 30 de outubro de 1985 os empregados da Caixa fazem greve de 24 horas e ingressaram oficialmente na categoria bancária, direito à sindicalização e à jornada de seis horas.
Jair Rosa – 9/9/2015