São Paulo – As manifestações do Grito dos Excluídos em todo o país foram o espaço de lançamento nacional da Campanha Pela Anulação da Reforma Trabalhista. A mobilização, de acordo com a CUT, visa vai coletar 1,3 milhão de assinaturas em apoio a um Projeto de Lei de Iniciativa Popular (Plip) que propõe a revogação da Lei 13.467/2017, idealizada por Michel Temer, banqueiros e grandes empresários e prevista para entrar em vigor no dia 11 de novembro.
Em São Paulo, segundo reportagem da Rede Brasil Atual, a 23° edição do Grito dos Excluídos reuniu cerca de 10 mil pessoas e começou na Avenida Paulista. O lema foi Por Direitos e Democracia, a Luta é Todo Dia e também teve protestos protestou contra as privatizações propostas pelos governos de Temer (PMDB), do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB).
A Constituição Federal permite que a sociedade apresente um projeto de lei formalmente à Câmara dos Deputados, desde que seja referendado por um número mínimo de cidadãos, distribuídos por pelo menos cinco estados. Após o recolhimento das assinaturas, o Plip será entregue à Câmara dos Deputados e o passo seguinte será pressionar os deputados a votarem o texto. Outras 11 leis já foram revogadas por meio desse instrumento.
A campanha pela anulação da reforma trabalhista foi aprovada por as confederações, federações e sindicatos durante o recente Congresso Extraordinário da CUT e aponta também para a construção de comitês para coleta de assinatura.
São Paulo - No ato realizado na capital paulista, o coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, destacou que esta edição do Grito marca uma mudança na situação do país. "É muito triste que chegamos aqui nessa situação. Desde 1995 – primeiro ato do Grito – tivemos avanços na redução da desigualdade e da exclusão social. Hoje estamos de volta ao mapa da fome", afirmou. "Queremos denunciar o desmonte em todos os níveis de governo. E gritar na esperança de que podemos reverter essa situação".
Além da reforma trabalhista, os principais pontos críticos destacados pelos movimentos sociais são a Emenda Constitucional 95, que congela os gastos públicos por 20 anos, as propostas de privatização dos governos Alckmin e Doria, além do severo congelamento de verbas em áreas sociais, perpetrado pelo prefeito de São Paulo. "Além de autoritário, antipovo e elitista, é um governo com ações higienistas, com nítido objetivo de favorecer a especulação imobiliária", diz a carta dos movimentos.
Para a população presente, porém, há problemas urgentes dentro de casa. Desempregada há dois anos, Tatiane Oliveira, 20 anos, participa há cinco anos do Grito dos Excluídos. Ela mora com o marido e dois filhos pequenos em uma ocupação do Movimento Moradia para Todos (MMPT). "A condição de vida piorou bastante. Sou vendedora com experiência, mas estou há dois anos sem conseguir trabalho. Pagar aluguel é impossível, hoje está difícil até comprar comida", relatou. O marido dela acabou de conseguir trabalho, após quase três anos desempregado.
O gráfico Fábio Damasceno, de 42 anos, e a esposa, a assistente administrativa Greice Silva, de 35 anos, se conheceram no Grito, há cinco anos. Hoje trouxeram o pequeno Rogério, de um ano e oito meses, ao ato. "Já estou há nove meses desempregada e sem nenhuma perspectiva", lamentou Greice. Para dificultar mais, não conseguem vaga para o filho em nenhuma creche.
"Está muito difícil pagar as contas. Paga uma e deixa outra pro mês que vem. O aluguel consome 30% do que ganho e o resto a gente vai equilibrando até o fim do mês", relatou Damasceno.
A professora Lucilene Silva estava revoltada com a apatia da população. "A gente tem de ir pra rua. Só assim vamos mudar essa situação. Estão desmontando o país, do Oiapoque ao Chuí", afirmou. Para ela, a situação é a mais grave que o país já passou. "O povo está mais pobre, as coisas estão mais caras, não temos perspectiva e ainda querem cortar vários serviços", disse.
Os manifestantes saíram da Avenida Paulista e desceram a Avenida Brigadeiro Luiz Antônio até o Monumento às Bandeiras, no Parque do Ibirapuera. O ato foi pacífico, com pouca presença de policiais. À frente, um grupo batia panelas, simbolizando a miséria que assola a população novamente.
"Trouxemos as panelas para mostrar que elas agora estão vazias. Desemprego, salário defasado. A burguesia bateu panela cheia, dizendo que era contra a corrupção, e ajudou a colocar uma máfia no poder", afirmou Miriam Hermógenes, coordenadora nacional da CMP.
Mobilização nacional - Os atos do Grito dos Excluídos foram realizados também em Dourados e Campo Grande, no Mato Grosso do Sul; nas capitais de Porto Alegre, Curitiba, Manaus, Porto Velho, Rio de Janeiro e Fortaleza; nas cidades de Cascavel (PR), Eunápolis (BA), Campina Grande (PB), Juiz de Fora (MG); e também em cidades do interior de São Paulo, como Campinas e São José do Rio Preto.