“Nunca presenciei tantas atitudes que, ao meu ver, são totalmente contrárias ao que nossa instituição preza. Sempre tive muito orgulho em pertencer. Sempre trabalhei muito feliz e busquei sempre fazer muito além do que me cabia para contribuir para um clima bom, gostoso de viver diariamente. Mas quando o ambiente começa a se tornar tóxico, as forças vão se acabando. Quando somos contratados, sabemos das metas, das regras, que tem estresse. O problema é quando os fatores de estresse são cada vez mais intensos, não poupam nada. Não somos robôs. Precisamos de valorização, ter um relacionamento mais humano.”
> Faça a sua sindicalização e fortaleça a luta em defesa dos direitos dos bancários
O relato acima é parte de uma denúncia de bancários lotados no CA Pinheiros, concentração do Itaú localizada na capital paulista. Na denúncia, os trabalhadores relatam diversos abusos cometidos no local de trabalho como, por exemplo, mudança de regras para o cumprimento de metas, humilhações e exposição pública de trabalhadores, perseguição ou predileção por determinados bancários, ausência de ferramentas para acompanhamento da produtividade, material de apoio ruim, contestações de índices de qualidade tratadas com descaso, mudanças de horário sem negociação e comunicação prévia, entre outros.
“A denúncia contundente e emocionada revela a completa desconexão entre a imagem que o Itaú tenta construir na sua publicidade e a realidade dos locais de trabalho. A gestão do banco – focada em metas abusivas e competição entre trabalhadores – torna o ambiente de trabalho tóxico e favorece o adoecimento. Um banco como o Itaú – que lucrou R$ 12,8 bilhões no primeiro semestre, crescimento de 3,7% em relação ao mesmo período de 2017, ano em que teve o maior lucro de um banco da história no Brasil, tem a obrigação de oferecer um ambiente de trabalho justo, respeitoso e saudável”, critica o dirigente do Sindicato e bancário do Itaú, Carlos Garcia.
Entre as principais queixas dos trabalhadores, a falta de transparência nas avaliações de qualidade tem especial destaque. Segundo a denúncia, as regras para cobrança de metas mudam no “meio do jogo”, orientações são transmitidas em reuniões rápidas, sem a formalização das mesmas, faltam planilhas de acompanhamento e, quando existem, trazem informações incorretas.
Além disso, de acordo com os trabalhadores, recentemente foi criada uma equipe de atendimento aos gerentes, cuja a implementação tirou de analistas as suas funções e mudou seus horários sem negociação prévia. A denúncia cita ainda que feedbacks nunca são aplicados, com casos que chegam a quase dois anos sem respostas, e, quando são dados, isso é feito com uma coordenadora presente, intimidando e expondo o analista avaliado. O material de apoio também é motivo de crítica. “Existem diversas informações confusas, o que prejudica na monitoria de qualidade.”
Outro problema está no fato de que os analistas não podem dar seu testemunho quando algum apontamento de qualidade é questionado.
“Cobramos do banco uma imediata mudança nas condições de trabalho no CA Pinheiros, que gestores sejam reorientados e que sejam tomadas providências práticas para que a concentração de trabalho deixe de ser um local de trabalho tóxico para seus funcionários. Não vamos recuar da defesa dos interesses e da saúde dos trabalhadores do CA Pinheiros. O banco está ciente disso. A denúncia foi encaminhada ao relações sindicais e aguardamos o retorno. Caso o banco não promova mudanças urgentes, avaliaremos quais serão os próximos passos dessa luta”, conclui Carlos Garcia.