Em reunião com o Comando Nacional dos Bancários, realizada nesta quarta-feira 11, a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) decidiu apresentar aos bancos os elementos sobre uma política de prevenção dos problemas de saúde do trabalho nos bancos, propostos pela representação da categoria.
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O documento apresenta a constatação da realidade de saúde dos bancários, destaca a necessidade de reconhecimento dos riscos, da participação dos trabalhadores para a construção da política de prevenção e aponta a possível causa dos problemas. O texto afirma, ainda, que o número de afastamentos devido a doenças psíquicas não para de aumentar, e se mantém aqueles ocasionados devido às lesões por esforços repetitivos e aos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (LER/Dort).
“As pessoas trabalham à exaustão, com metas inatingíveis e assédio moral. O medo do desemprego e as reestruturações deixam a categoria apreensiva. Soma-se a isso o trabalho home office e a falta de equipamentos ergonômicos adequados e você tem a causa de muitos dos problemas de saúde da categoria”, disse a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, que é uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários. A dirigente também ressaltou a necessidade de se garantir ambiente favorável para que os trabalhadores busquem tratamento sem que haja perdas financeiras e de função.
“O mais importante é evitar que as pessoas adoeçam. Isso é bom para todos. Para o trabalhador, para a sociedade e para os bancos. Colocamos a proposta no papel e os bancos admitiram a necessidade e a importância da reflexão sobre o tema para que se alcance uma solução”, afirmou a presidenta do Sindicato, Ivone Silva, também coordenadora do Comando Nacional dos Bancários.
Para o secretário de Saúde da Contraf-CUT, Mauro Salles, a situação do adoecimento da categoria é grave. “Não é possível falar sobre prevenção sem reconhecer os riscos gerais e os específicos. Somente com isso é possível tomar medidas para amenizar essa situação”, completou.
Mauro explicou que a obrigação de implantar sistemas de gestão de saúde e segurança no trabalho pelas organizações é prevista na legislação brasileira e da maioria dos países e deve incluir, no mínimo, os elementos exigidos em Lei.
“Existe consenso internacional quanto aos benefícios trazidos pela implantação de sistemas de gestão de saúde e segurança no trabalho pelas organizações”, disse Mauro, explicando ainda que o processo de gerenciamento de riscos deve estar integrado aos planos estratégicos e processos gerenciais da organização, levando sempre em conta, como prioridade absoluta, o bem-estar dos trabalhadores.
“É importante ressaltar que a participação ativa e contínua dos trabalhadores é fundamental na elaboração de políticas em saúde do trabalhador bem como para monitorar e avaliar a abrangência e qualidade da política elaborada”, concluiu.
A Fenaban admitiu a gravidade do problema, mas solicitou prazo para que os bancos internalizem as reivindicações colocadas pelos representantes dos trabalhadores, debatam sobre elas e consigam, juntamente com os trabalhadores, desenvolver polícias que permitam a prevenção dos problemas de saúde da categoria.
“O adoecimento psíquico é devido às metas, gestão exploratória a política do medo implementada pelos bancos, aliadas a falta de postura das áreas médicas dessas instituições, que deveriam ser preventivas, mas acabam em conluio com a política de metas desumanas sem que os trabalhadores possam participar da construção das mesmas. Os bancos reconhecem que o número de bancários que se afastam só aumenta e muitos trabalham doentes, a base de remédios e com perda de capacidade produtiva, situação agravada pelo presenteísmo”, enfatiza o secretário de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato, Carlos Damarindo.
Questões pendentes
O Comando Nacional dos Bancários também cobrou respostas da Fenaban sobre questões que ficaram pendentes na última reunião da mesa temática de saúde do trabalhador, realizada no dia 11 de julho.
Sobre a cláusula 29, que trata da complementação dos auxílios doença previdenciário e acindentário, os bancos concordam em fazer a complementação, mas pediram para que os trabalhadores levantem casos específicos da não complementação para que a Fenaban possa verificar se são casos isolados, ou se são fruto de mudanças dos procedimentos do INSS. A intenção é não prejudicar um número maior de trabalhadores do que os que serão beneficiados.
Com relação aos problemas de não concessão de cestas alimentação a bancários afastados para tratamento de saúde, previsto no parágrafo terceiro da cláusula 15, a Fenaban vai chamar uma reunião geral dos bancos para avaliar se o problema está no descumprimento da cláusula pelos bancos, ou se trata de nova demanda da categoria. A federação dos bancos ficou de dar uma resposta após esta reunião, que deve acontecer ainda no mês de setembro.
“Esta é uma questão que já vem sendo debatida há anos. Não se trata de nova demanda”, rebateu a presidenta da Contraf-CUT.
“A lógica, desde quando negociamos a convenção, é não deixar que as pessoas afastadas por problemas de saúde fiquem sem amparo. Ainda mais em uma conjuntura onde existem mais de 13 milhões de desempregados e que levou muitos bancários se tornarem arrimo de família”, disse a dirigente da Contraf-CUT. “Além disso, a convenção é muito clara. O benefício deve ser dado a partir do afastamento do trabalho. Mas os bancos não estão concedendo a cesta alimentação para bancários que não estejam em benefício”, afirmou.