Os focos de incêndio em terras indígenas cresceram 88%, de janeiro a agosto deste ano, na comparação com o 2018, de acordo com levantamento realizado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), baseado em informações coletadas junto ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O crescimento atípico é atribuído a “ações criminosas” que têm sido estimuladas pelo discurso do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que também tem provocado o “desmonte” do sistema de proteção ambiental.
A reportagem é da Rede Brasil Atual.
Segundo o recém-eleito secretário-executivo do Cimi, Antônio Eduardo Cerqueira de Oliveira, as comunidades indígenas estão assustadas com o crescimento das queimadas. “O país inteiro está assustado. O mundo está assustado com essa avalanche, com essa ação criminosa que está ocorrendo no país. Não é uma situação que ocorre de forma natural, mas é intencional, para que as terras indígenas sejam prejudicadas”, afirmou em entrevista à jornalista Marilu Cabanãs, para o Jornal Brasil Atual, na segunda-feira 16.
Os focos de incêndio se concentram nos estados de Tocantins, Mato Grosso, em áreas de Cerrado, e na também na região amazônica. Desde o início do ano, foram 9.078 mil focos registrados em terras indígenas. A “explosão” se deu em agosto, quando foram registrados mais de 4 mil pontos de queimada.
No município de Lagoa da Confusão, em Tocantins, o fogo consumiu 95% da terra indígena Krahô-Kanela. “Processo de queimada foi para além da região Amazônica. Terra indígena Krahô-Kanela: o fogo iniciou em áreas de fazenda e, infelizmente, apesar de todo esforço feito pelos próprios Krahô e por outros povos indígenas, não conseguiram fazer frente, e a queimada avançou para praticamente todo o território”, denuncia o secretário adjunto do Cimi, Cleber Buzatto.
Os integrantes do Conselho ressaltam que as estruturas dos órgãos de preservação e controle estão sendo desmontadas, e os próprios indígenas buscam fazer o combate. Sem o treinamento e preparo adequado, expõem as próprias vidas, na tentativa de salvar a vegetação e os animais da região onde vivem.
Itaipu
Os missionários também comentaram decisão da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu a condenação da União, do estado do Paraná, da Fundação Nacional do Índio (Funai), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e da Itaipu Binacional por danos causados pela construção da usina ao povo Avá-Guarani, que residia na região. A PGR pede R$ 50 milhões por ano desde o início da construção da usina, em 1978.
Segundo o Cimi, estudos antropológicos apontam que 32 aldeias indígenas foram alagadas pela construção da hidrelétrica. Populações remanescentes, que formaram novas aldeias no entorno da área alagada, sofreram processos de reintegração de posse movidos pela própria Itaipu Binacional. “A Itaipu até hoje nega o direito dos Guarani às suas terras, negam inclusive que eles tenham sido atingidos pela construção da usina. Essa ação derruba essa tese falaciosa. Apesar de bastante tardia, vem num momento político bastante importante, e dá esperança aos Guarani, no sentido de que os seus direitos sejam definitivamente reconhecidos”, destaca Buzatto.