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Sindicato Forte

Sindicato dos Metalúrgicos do ABC garante empregos na VW

Linha fina
Em assembleia realizada no início da semana, funcionários da fábrica em São Bernardo do Campo aprovaram a renovação do acordo firmado em 2012 que garante estabilidade
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Foto: ADONIS GUERRA

Trabalhadores da planta da Volkswagen na Via Anchieta, em São Bernardo do Campo, aprovaram em assembleia a continuidade do acordo coletivo firmado em 2012 entre o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC) e a montadora. O acordo, válido até 2021, garantiu a estabilidade, ao menos até a aposentadoria dos metalúrgicos.

A reportagem é do Portal CUT.

Na assembleia, realizada na segunda-feira 24, no pátio da montadora, um dos pontos principais foi a possibilidade de haver lay off - a suspensão temporária do contrato de trabalho. Nesses casos, o trabalhador é afastado por um prazo determinado, que vai de dois a cinco meses, mas  fica à disposição da empresa. A proposta da Volks era que o lay off tivesse início do ano que vem, após as férias coletivas.

O Secretário de Formação da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM-CUT), José Roberto Nogueira da Silva, o Bigodinho, que também é dirigente do SMABC, explicou que o lay off, recurso utilizado pela indústria em épocas de crise financeira, está previsto no acordo.

“Nosso acordo foi além e garantiu que, em caso de lay off na VW, todos voltariam, ao trabalho”, diz o dirigente, que lembra que esse recurso prevê que o trabalhador afastado tem de participar de programas de requalificação e pode voltar ao emprego, muitas vezes em outra função.

Bigodinho complementa que antes de haver o lay off serão discutidas todas possiblidades para reduzir custos e a alternativa somente será implantada após a fábrica comprovar as dificuldades financeiras.

O acordo: vitória do sindicato e dos trabalhadores

Bigodinho explica que o acordo foi fruto de intensas negociações e foi firmado em 2012. Naquela época o SMABC já previa dificuldades para a planta da Anchieta com o fim da produção do GOL Geração 4 e da Kombi.

“Era necessário discutir o futuro da fábrica e dos trabalhadores. A planta sempre tem seu portfólio a produção de vários veículos, e passou a produzir mais dois modelos – o Polo e o Virtus – porque não é somente uma montadora. É uma fábrica com áreas de projetos, ferramentaria, e outros setores que participam da produção do automóvel”.

Segundo o dirigente, as discussões sobre o futuro da fábrica envolveram direitos para os trabalhadores como a Participação nos Lucros e Resultados (PLR), reajustes salariais, manutenção do quadro de funcionários e garantia de que os trabalhadores tivessem estabilidade até a aposentadoria.

Por outro lado, garantiu também a implantação da linha de produção de novos veículos, inclusive um novo projeto. “A fábrica vai produzir uma SUV, conhecida por CUV, mas ainda sem nome definitivo, o que foi uma conquista desse acordo.”

Além disso, garantiu investimentos na ordem de 23,8 milhões de euros, além de ivestimentos em outras unidades brasileiras. Bigodinho ressalta que “o acordo foi fruto da luta da organização dos trabalhadores liderada pelo sindicato, que manteve a fábrica de pé”.

Dificuldades

Com o Brasil em crise econômica, taxas recordes de desemprego e nenhuma indicação do governo de que possa haver uma recuperação nos próximos tempos, Vagner Lima, coordenador da representação dos trabalhadores na VW avalia que é preciso discutir os temas políticos que afetam diretamente a vida dos trabalhadores.

“Não estamos numa bolha, o que acontece lá fora influencia aqui dentro da fábrica. A indústria está perdendo força no país, por isso temos que discutir os temas que afetam o futuro de cada trabalhador”.

O Secretário de Formação da CNM-CUT, Bigodinho, complementa  reafirmando a necessidade de a sociedade entender que a indústria é “como uma locomotiva para a economia e precisa ser retomada no Brasil, para gerar emprego”.

“O Brasil está em crise e o mercado automobilístico está prejudicado. Nos governos de Lula e Dilma, do PT, tivemos a retomada do desenvolvimento industrial, programas como o Inovar-Auto que impulsionou o setor, além do pleno emprego”, lembra Bigodinho.

Essa política de Estado, segundo ele, deu condições para que a economia do país crescesse, mas o que houve depois do golpe de 2016 foi um desmonte que está sendo consolidado pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL), que não tem nenhum compromisso com o desenvolvimento e com a soberania nacional.

“Acabaram com os programas e as propostas que estávamos construindo e isso destruiu setores como o automobilístico, o naval, o aeroespacial e outros. Até mesmo o setor de eletroeletrônicos foi comprometido porque o povo não tem mais poder de compra para ter uma geladeira nova, um micro-ondas ou outro utensílio doméstico”, critica Bigodinho.

Para o dirigente, não é “em vão” querer recuperar a indústria e ter uma política de crédito no mercado, como fez Lula em seus mandatos como presidente. “Temos que produzir, gerar emprego e renda para a economia voltar a girar”.

Ele lembra também que, além do fim do desmonte da indústria brasileira, a PEC do teto dos gastos, a lei da terceirização e a precarização do trabalho promovida pela reforma Trabalhista também foram responsáveis pelo desemprego, pela diminuição da renda, o aumento da pobreza e da desigualdade. “Se o governo não investe, fica mais fácil importar e a nossa indústria fica ainda mais prejudicada e, por consequência, aumenta o desemprego”.

Atuação do sindicato

Bigodinho reforça que os trabalhadores da VW em São Bernardo do Campo devem ficar tranquilos porque o acordo está garantido. Mas alerta que a organização dos trabalhadores é fundamental no atual cenário econômico e político brasileiro. “A atuação do sindicato já mostrou que os trabalhadores organizados têm força para vencer as lutas”, ele completa.  

Outros temas debatidos na assembleia

Na assembleia os trabalhadores também foram informados que, dentro do acordo, passa a valer a garantia de folga durante a semana e pagamento de 100% de adicional a quem trabalhar aos sábados e domingos.

A pauta incluiu ainda o alto custo do plano médico dos aposentados, a manutenção de postos de trabalho, férias coletivas e problemas na estrutura de um túnel em frente à fábrica.

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