O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), quer a reabertura de escolas estaduais a partir da próxima terça-feira 8. A volta seria parcial, com 20% dos alunos e para atividades como reforço escolar, acolhimento emocional e esportes. Neste caso, os professores não serão obrigados a voltar e aqueles que quiserem se arriscar, receberão um pagamento adicional.
Apesar disso, educadores consideram a medida precipitada, já que o retorno às aulas traz grande possibilidade de contaminação pelo coronavírus. Em Manaus, por exemplo, o ensino médio voltou em 10 de agosto e, 15 dias depois, dos 1.060 professores que fizeram testes, 342 estavam infectados.
Cesar Callegari, sociólogo e especialista em políticas educacionais, afirma que a ideia de João Doria beira a irresponsabilidade. “Forçar que esses profissionais da educação voltem às atividades, oferecendo a eles uma espécie de bônus, no meu modo de entender, é uma espécie de chantagem. Muitos profissionais da educação se veem realmente numa situação muito complicada”, afirmou ao repórter Jô Miyagui, da TVT.
Pesquisa realizada pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), em parceria com o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), mostra que 93% das escolas estaduais precisam de uma eventual reforma em suas instalações.
Para os professores, não há condições estruturais para a reabertura de escolas. “Não existe vacina, não temos remédios. E a aglomeração de pessoas, nos ambientes escolares, é um fator de alto risco para aumentar a contaminação e os óbitos”, defende Paulo Neves, diretor estadual da Apeoesp.
Só em 2021
Além disso, a volta às aulas, mesmo com apenas um quinto dos alunos, pode contaminar até 46% dos professores e estudantes, após três meses de reabertura, segundo projeção de um estudo com simulação do contágio pelo novo coronavírus, realizado por pesquisadores de sete universidades de três países.
Para o sindicato dos professores e o especialista em educação, a volta às aulas só deveria se dar em 2021. “Caso as vacinas testadas consigam demonstrar uma capacidade de imunização nos níveis estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Fora isso, é impossível. Nenhum esforço didático e pedagógico vale a pena, colocando a vida de pessoas em risco”, diz Paulo.
Já Callegari afirma que é uma “temeridade” colocar a saúde de profissionais da educação, estudantes e familiares em risco. “No meu modo de entender, é injustificável, porque a vida é o principal valor e a saúde das pessoas é aquilo com que o Estado deve se preocupar.”
Por causa do desastre econômico deste ano, haverá redução na arrecadação de impostos federais, estaduais e municipais, o que pode reduzir as verbas para a educação no ano que vem. “Vai ter que investir mais, com menos dinheiro. Isso exige uma responsabilidade grande do governo e dos parlamentares, para que não deixem as verbas da educação diminuírem. Caso contrário, pode comprometer muito mais o futuro de crianças e jovens e adultos, que dependem das escolas públicas”, finaliza Cesar.