Com a chegada do Setembro Amarelo, o mês de prevenção ao suicídio, as discussões a cerca da saúde mental ganham ainda mais relevância no debate público. O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região não fica de fora desse importante momento de reflexão, uma vez que a categoria bancária é uma das que mais sofrem com problemas relacionados à saúde mental.
Conforme números do INSS, em 2022, os bancários representaram 25% dos afastamentos acidentários relacionados à Saúde Mental e Comportamental registrados no Brasil. No mesmo ano, as doenças mentais e comportamentais foram responsáveis por 57,1% do total de afastamentos na categoria bancária.
De acordo com a Secretaria de Saúde do Sindicato dos Bancários, nos atendimentos aos trabalhadores adoecidos, é cada vez mais frequente o relato de tentativas de suicídio. A ideação suicida, quando o indivíduo cogita tirar a própria vida, também tem sido presente nos relatos trazidos pelos profissionais atendidos pela secretaria.
"Os bancários passam por muito estresse, frustração, assédio moral, pressão por cumprimento de metas e ainda enfrentam o medo da demissão por conta do fechamento de agências bancárias. São fatores que levam as pessoas ao esgotamento e muitos acabam não vendo saída", explica Valeska Pincovai, secretária de saúde e condições de trabalho do Sindicato dos Bancários.
Os trabalhadores devem ficar atentos a sintomas como alterações repentinas de humor, isolamento e fadiga, que podem ser indicativos de esgotamento, o chamado burnout. Insônia, dores de cabeça constantes e taquicardia ao chegar no local de trabalho são outros sinais importantes de um possível quadro de ansiedade. Diante dos sintomas, a secretaria de saúde orienta que os trabalhadores busquem atendimento médico e psicológico.
Atuação do Sindicato
O Sindicato oferece apoio por meio dos Encontros de Saúde dos Bancários, realizados em parceria com o curso de Psicologia da PUC-SP. Nesses encontros, que ocorrem há quase 15 anos, os trabalhadores são estimulados a falar a respeito dos problemas que os afligem.
Em geral, os participantes trazem casos de assédio, de cobranças excessivas por metas e de humilhações. Essa troca de experiências é mediada por estudantes do 4º ano de Psicologia da PUC, orientados pela professora doutora Renata Paparelli. A ideia é que os bancários consigam adquirir forças e estratégias para enfrentar toda essa problemática.
Outra atuação do Sindicato se dá por meio do Canal de Denúncias, que permite aos bancários denunciar situações de assédio e violência. As denúncias acolhidas são tratadas junto aos bancos e podem resultar em ações judiciais e denúncias no Ministério Público.
"Não sofra sozinha, não aceite as pressões e o assédio sem fazer nada. Estamos com você, conte com a gente. Cada pessoa que exige seus direitos e denuncia os abusos contribui para que melhorias coletivas sejam conquistadas", afirma a secretária Valeska Pincovai.
Dados alarmantes
Em uma recente pesquisa da Contraf-CUT sobre Gestão e Patologias do Trabalho, realizada em 2023 por pesquisadores da Universidade de Brasília (UNB), 76,5% dos 5.803 bancários ouvidos em todo o país relataram ter tido pelo menos um problema de saúde relacionado ao trabalho. Ao todo, 40,2% estavam em acompanhamento psiquiátrico e, deles, 91,5% estavam tomando remédios controlados.
A Consulta Nacional à categoria, feita entre abril e junho/2024 ouvindo quase 50 mil bancários, mostrou que 39% dos participantes usam ou usaram remédios controlados nos últimos 12 meses, como antidepressivos, ansiolíticos e estimulantes. Em relação aos impactos à saúde das cobranças excessivas pelo cumprimento de metas, os dados mostram que:
- 67% responderam ter preocupação constante com o trabalho;
- 60% responderam sentir cansaço e fadiga constante;
- 53% sentem-se desmotivados e sem vontade de ir trabalhar;
- 47% têm crises de ansiedade/pânico;
- 39% sentem dificuldade de dormir mesmo aos finais de semana (entre outros sintomas).