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Durante todo o dia, os trabalhadores que queriam exercer seu legítimo direito de manifestação, tiveram que lidar com os mecanismos de repressão colocados em prática pelos banqueiros. Devido aos famigerados interditos proibitórios (instrumento jurídico que trata de preservação do patrimônio), muitos bancários foram forçados a reabrir as agências que estavam fechadas pela greve. “Não é fácil, mas os trabalhadores demonstraram muita força de vontade e disposição de luta. Vamos sair vitoriosos dessa greve”, afirma o presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino.
Liminar – No final da tarde, o Sindicato conquistou na Justiça liminar que garante o direito de os grevistas permanecerem em frente às agências sem serem molestados por policiais. A liminar atende a ação civil pública movida pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região contra a Fenaban e mais 13 bancos que tentaram barrar o direito de greve da categoria por meio de interditos proibitórios. De acordo com o despacho do Juiz do Trabalho da 2ª Região, Hélcio Luiz Adorno Júnior, os banqueiros não podem impedir o regular exercício do direito de greve pelos trabalhadores; o aparato policial ou de segurança privada só pode ser acionado para impedir riscos ao patrimônio; e a permanência dos grevistas nas portas dos bancos deve ser permitida, desde que não impeçam a entrada de outros trabalhadores e dos clientes.
“Essa é uma importante vitória. O interdito é um instrumento que ignora o direito constitucional de greve e a própria Justiça acaba de reconhecer isso”, comemora Marcolino.
Greve continua – Assembléia dos bancários deliberou há pouco pela continuidade da greve. “Não há nova proposta, os bancários devem permanecer em greve por tempo indeterminado”, avalia Marcolino. “Os banqueiros afirmam que querem uma contra-proposta, mas as reivindicações da categoria já foram apresentadas: aumento real e PLR maior, o que as propostas apresentadas por eles nunca contemplaram. Estamos há quase dois meses de negociação e há quase 40 dias da nossa data-base, quando deveríamos ter recebido os salários já reajustados. Vamos permanecer em greve até que nossas reivindicações sejam atendidas”, completa o dirigente.
Bancos públicos – As reuniões entre os representantes dos bancários e a diretoria do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal foram suspensas e devem ser retomadas amanhã (sábado) ou na próxima segunda-feira. Os bancos não conseguiram chegar a uma formulação da proposta a ser apresentada aos trabalhadores.
Os debates giram em torno de questões específicas como planos de cargos e salários e caixas de assistências. Os bancos podem apresentar, também, uma proposta de participação nos lucros e resultados para os seus funcionários.
Na segunda-feira, em São Paulo, bancários do BB e da CEF devem fazer assembléias para apreciar o resultado dessas negociações específicas. Local e horário ainda serão confirmados.
Histórico – A categoria decidiu pela greve por tempo indeterminado em assembléia realizada na noite de 4 de outubro e após sete rodadas de negociação em que os banqueiros mantiveram a postura de negar aumento real de salários aos seus funcionários. A minuta dos bancários foi entregue no dia 10 agosto, quando aconteceu a primeira rodada de negociação e foram apresentadas as cláusulas prioritárias. Outras rodadas aconteceram nos dias 21 e 29 de agosto, 15, 19 e 27 de setembro e 3 de outubro. No Brasil há pouco mais de 400 mil bancários, 106 mil deles atuam na base do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. A data-base é 1º de setembro.
Propostas – O Comando Nacional dos Bancários e a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) fizeram a última rodada de negociação no dia 3 de outubro. A proposta apresentada pelos banqueiros foi de reajuste salarial de 2,85% e participação nos lucros e resultados (PLR) de 80% do salário, mais R$ 823 de parte fixa (os R$ 800 pagos em 2005 corrigidos pelos 2,85% de reajuste proposto), além de um adicional de R$ 750 para os bancários de instituições que tiverem crescimento de 20% do lucro líquido ou mais. Na primeira proposta, apresentada em 27 de setembro, a Fenaban ofereceu reajuste de 2% para as verbas salariais e PLR de 80% do salário, mais R$ 816, acrescidos de R$ 500, para os bancários de instituições que tiverem crescimento de 25% do lucro líquido, ou mais, em relação ao ano passado.
Reivindicações – A categoria reivindica aumento real de salários de 7,05%, além da reposição da inflação, e participação maior nos lucros e resultados – de 5% do lucro líquido linear, mais um salário bruto acrescido de R$ 1.500. No ano passado, os bancários receberam reajuste de 6% (1% de aumento real), mais R$ 1.700 de abono e PLR mínima de 80% do salário mais R$ 800, após seis dias de greve no mês de outubro.
Além das cláusulas econômicas, os trabalhadores querem o fim do assédio moral e das metas abusivas; a isonomia de direitos entre trabalhadores aposentados, afastados e de bancos que sofreram fusões; a manutenção do emprego – por meio da proibição de dispensas imotivadas e da ampliação do horário de atendimento com dois turnos de trabalho – e a redução dos juros e das tarifas.
Também são consideradas prioritárias as cláusulas que reivindicam 14º salário; plano de cargos e salários para todos os trabalhadores; regramento da remuneração variável; aumento na gratificação de caixa; vale-alimentação de R$ 300; auxílio creche/babá de um salário mínimo; auxílio-educação para todos os funcionários; fim da terceirização de serviços; criação de comissão de segurança bancária; isenção de tarifas para todos os bancários; delegados sindicais em todos os bancos; programa de reabilitação profissional.