São Paulo - No início de abril, o governo federal lançou uma ofensiva para que as instituições financeiras baixassem suas taxas de juros. Desde então, Banco do Brasil e Caixa Federal anunciaram sucessivos pacotes de cortes e foram seguidos pelos bancos privados. A estratégia é forçar a competição em um setor que sempre se comportou como oligopólio no país. Paralelamente, o governo vem baixando a taxa básica de juros (Selic) que caiu de 12,5% em agosto de 2011 para os atuais 7,25%. “Medidas importantes para o país”, opina a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira.
Seis meses se passaram e os bancos privados baixaram, de fato, algumas taxas, mas as quedas só foram significativas nos bancos públicos. O cheque especial, por exemplo, caiu de 8,04% para 4,22% ao mês na Caixa, enquanto que no Bradesco passou de 8,78% para 8,44% a.m., no Itaú caiu 0,25 ponto percentual e no Santander 0,18 p.p. (veja tabela abaixo).
Nesse quadro, BB e Caixa tiveram crescimento significativo de suas carteiras de crédito, confirmando que abrir mão dos altos juros bancários praticados no Brasil não significa perder no resultado porque ganham em escala. Ao anunciarem as quedas, os presidentes das instituições disseram que estavam apostando no aumento da base de clientes ao invés de na capitalização da relação com o cliente.
Além de novos correntistas, BB e Caixa foram beneficiados pela vinda de clientes de outros bancos, que transferiram suas dívidas atraídos pelos juros menores, utilizando-se da portabilidade. O resultado disso é que a participação dos bancos públicos no crédito total do país aumentou. Em abril, representava 21,9% do PIB, e essa relação em agosto passou para 23,4%.
O país tem margem para que essa aposta dê certo. A relação crédito/PIB que é de 51% ainda está bem abaixo do padrão internacional (no Chile, por exemplo, é de 86,3% e na Suécia, 140%). Além disso, cerca de 40% da população não têm nem conta bancária e metade das famílias brasileiras não toma empréstimos nos bancos.
A presidenta do Sindicato destaca que a valorização do mínimo e o considerável aumento do emprego também deram aos brasileiros condições de tomar empréstimos sem se afogar em dívidas, mas os bancos têm de facilitar o acesso ao crédito baixando mais juros e tarifas. “O crédito aumenta a capacidade de consumo das pessoas, de investimento das empresas e consequentemente gera emprego e a renda. É um círculo virtuoso para a economia e o setor financeiro precisa contribuir com isso”, afirma Juvandia.
Mas a dirigente ressalta que para tudo isso é preciso contratar mais. “Carteiras de crédito maiores significam mais trabalho para os bancários que já estão sobrecarregados. O aumento da demanda tem de gerar mais emprego no setor.”
Andréa Ponte Souza - 17/10/2012