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“Não é com 7% que vão acabar com a greve”

Linha fina
Funcionários do Call Center do Itaú repudiam nova proposta de reajuste oferecida pela Fenaban e condenam as cobranças por metas abusivas que infestam o ITM
Imagem Destaque

São Paulo – No primeiro dia útil após a Fenaban aceitar retornar à mesa de negociações com o movimento sindical, os bancários do Itaú lotados no ITM cruzaram os braços nesta segunda-feira 7, em uma clara demonstração de repúdio à nova proposta de 7,1% apresentada pelos bancos.

O centro administrativo onde trabalham cerca de 3,5 mil bancários engloba setores de call center, varejo, Uniclass, suporte de internet, recursos humanos, atendimento de recursos humanos, dentre outros.

A insatisfação, não só com a nova proposta, mas também com as condições de trabalho, foi unânime entre os bancários, que paralisaram as atividades pela terceira vez desde o início da greve.

Exposição – “Não é com 7% que eles vão acabar com a greve. Tem também que rever muita coisa”, opinou um funcionário, que citou o assédio moral por causa da cobrança por metas como a principal questão a ser revista no seu departamento, o Uniclass.

Outra bancária do setor de varejo conta que ela e seus colegas precisam vender cerca de 130 produtos por mês, e cada produto tem a sua meta. “E se não conseguimos atingir a quantidade estipulada, os supervisores nos expõem, falam alto na frente de todo mundo”, diz.

Lixo – A mesma bancária conta que colegas seus tiveram que pedir licença médica devido a doenças psíquicas ocasionadas pela pressão por metas e pelo assédio moral. Mas o pior se passou quando retornaram ao trabalho.

“Quando voltaram, eles ficaram isolados, sem função, e depois de um tempo foram mandados embora. O banco descarta como lixo os funcionários que ficaram doentes por terem trabalhado demais para ele”, diz a trabalhadora, que sofre de depressão, toma remédio controlado e não pediu afastamento por temer o mesmo destino. “Essa atitude do banco mostra que para ele somos apenas um número”, acrescenta.

Sem chance – Outra bancária do call center, que recebe ligações de clientes para pagamento de contas, desbloqueio de cartões e demais serviços, conta que é pressionada para oferecer produtos em todas as ligações. “Se não oferecemos, somos pontuados negativamente em 25%, o que nos tira qualquer chance de sermos remunerados no programa Agir.”

Ofensas – Um bancário conta que não é raro receber ofensas dos clientes. “Os clientes ligam revoltados e nos ofendem, porque o atendimento é prejudicado pela falta de funcionários”, conta. “Pelo que a gente é obrigado a ouvir dos clientes, acho que deveríamos ganhar mais ou deveria haver mais atendentes”, diz.

Miséria – Entre junho de 2012 e junho de 2013, o Itaú cortou 4.458 postos de trabalho. No primeiro semestre deste ano o banco lucrou R$ 7,1 bilhões, um aumento de 4,8% com relação ao mesmo período do ano passado, quando lucrou R$ 6,7 bilhões. Este resultado fabuloso da instituição também foi bastante lembrado pelos funcionários.

“Se eles lucraram mais no primeiro semestre deste ano do que no primeiro semestre do ano passado, qual o argumento para oferecerem um reajuste menor?”, questionou um bancário do setor de varejo. “É uma discrepância”, disse outro. “É cômodo para o banco ganhar bilhões enquanto a gente tem que brigar por miséria”, acrescentou.

“Para a gente trabalhar com brilhos nos olhos, como eles querem, tem que haver um incentivo. Dinheiro no bolso e brilho nos olhos andam ligados, né?”, disse outra bancária.
“É uma vergonha, um descaso, uma falta de respeito”, desabafou outra, também sobre o reajuste. “A gente se mata de trabalhar, adoece, o banco ganha muito dinheiro às nossas custas e em troca ele oferece essa miséria”, completou.

Pressão – Para a secretária-geral do Sindicato, Raquel Kacelnikas, as paralisações nos centros operacionais como o ITM são fundamentais para fazer os bancos ouvirem as reivindicações dos trabalhadores. “Os bancos só escutam quando perdem dinheiro ou quando têm a sua imagem arranhada, e só assim conseguiremos um aumento nesse reajuste proposto por eles”, afirmou.

“Nesta segunda teremos assembleia para rejeitar o reajuste de 7,1%. Vamos continuar pressionando os bancos para termos êxito nesta campanha salarial o mais rapidamente possível”, completou Raquel.

Securitários - Neste ano, diferentemente dos anos anteriores, os securitários lotados no ITM aderiram à paralisação. "A categoria pode ser diferente, mas o patrão e o assédio moral são os mesmos", disse uma securitária.


Rodolfo Wrolli – 7/10/2013

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