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Chapéu
Documentário

Dedo na Ferida desvela o poderio perverso do capital

Linha fina
Filme de Silvio Tendler aborda a influência do capital na política por meio de depoimentos de economistas que estão ou que já estiveram em cargos importantes no mundo, e também de pensadores respeitados
Vídeo Youtube

São Paulo - No momento em que o mundo se depara com a perda progressiva de direitos sociais, rendidos aos interesses do sistema financeiro, o cineasta Silvio Tendler vai direto ao ponto que atinge toda a sociedade, independente de posicionamento político, com o lançamento de Dedo na Ferida.

O documentário, segundo matéria da CUT, destrincha a influência do capital na política ao traçar um panorama do cenário contemporâneo com depoimentos de economistas que estão ou que já estiveram em cargos importantes no mundo, e também de pensadores respeitados.

"É uma crítica à política dominada pelo sistema financeiro. Você não discute mais o dinheiro a serviço da produção”, diz Tendler (foto), reconhecido por mais de 80 obras de cunho histórico e social. “Acho que é a primeira vez que vamos discutir com profundidade a força do sistema financeiro na economia".

Dedo na Ferida foi selecionado para a mostra competitiva do Festival do Rio e será exibido no dia 12, às 13h, no Cine Odeon Net Claro, onde haverá também um debate com o diretor e a economista Laura Carvalho, e no dia 13, às 19h, no Kinoplex São Luiz 1.

Podólogo - O longa trata do fim do estado de bem‐estar e da interrupção dos sonhos de uma vida melhor para todos em um cenário onde a lógica do capital financeiro inviabiliza qualquer alternativa de justiça social, fazendo milhões de pessoas peregrinarem em busca de melhores condições de vida enquanto o capital só aspira a concentração da riqueza. 

Para traçar um paralelo entre essas análises e o cotidiano dos afetados pelos poderio econômico, Silvio usa como fio de ligação a viagem de trabalho de um podólogo que mora em Japeri - cidade que tem o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado do Rio de Janeiro - até Copacabana, onde exerce sua profissão.

"O tempo de deslocamento dele todo dia é o tempo de uma sessão de cinema. É o tempo que ele não vai ao cinema. Enquanto ele vai de Japeri à Copacabana poderia estar assistindo ao filme. Dedo na Ferida discute uma sociedade na qual ele é um cidadão à margem, ele não tem uma conta no banco, ele não vai ao cinema, nem ao teatro. Não tem uma vida ativa, é um cara que trabalha para sustentar a família. Acredito que uma das reflexões para quem assiste ao documentário é as pessoas perceberem que está na hora delas terem uma vida interessante também", afirma o cineasta.

Entre os depoimentos da obra estão os de Yanis Varoufakis, ex-ministro das Finanças da Grécia; Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil; Paulo Nogueira Batista Jr, vice-presidente dos banco dos Brics; o cineasta Costa-Gavras; os intelectuais Boaventura de Sousa Santos (Universidade de Coimbra, Portugal), David Harvey (University of New York, Estados Unidos) e Maria José Fariñas Dulce (Universidade Carlos III, Espanha); os economistas Ladislau Dawbor (PUC-São Paulo), Guilherme Mello (Unicamp) e Laura Carvalho (USP), entre outros pensadores que interferem no mundo contemporâneo.

Movimento sindical - Dedo na Ferida é patrocinado pelo Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge) e a Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge).

Ampliar o debate com a sociedade brasileira sobre os crimes cometidos pelo sistema financeiro internacional em sua trajetória de semear a miséria em todos os continentes foi um dos principais motivos para que nascesse mais uma parceria. Juntos, em 2014, as entidades e Silvio Tendler produziram também o documentário Privatizações - A Distopia do Capital.

Biografia - Em 48 anos de carreira, Silvio Tendler produziu e dirigiu cerca de 80 obras de cunho histórico e social entre curtas, médias e longas-metragens e séries. São dele as três maiores bilheterias do documentário brasileiro.

Jango recebeu o Margarida de Prata e o melhor filme do Júri Popular do Festival de Gramado. Glauber–O filme, labirinto do Brasil foi eleito melhor filme pelo júri popular e a crítica do Festival de Brasília e participou da Seleção Oficial Hors concours do Festival de Cannes. Encontro com Milton Santos venceu o Festival de Brasília e levou o prêmio de melhor filme no Festival de Documentários Santiago Álvarez.

O CineB, projeto de cidadania do Sindicato em parceria com a Brazucah Produções, já apresentou o documentário O Veneno está na Mesa, do diretor. O CineB é um circuito alternativo de exibição gratuita de filmes brasileiros em espaços comunitários e universitários de São Paulo, Osasco e região.

Licenciado em História pela Université de Paris VII, é mestre em Cinema e História pela École des Hautes-Études/Sorbonne. Desde 1979 é professor do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio. Tem mais de sessenta prêmios, entre eles seis Margaridas de Prata, da CNBB.

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