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Desmonte

Temer ameaça com abertura de capital da Caixa

Linha fina
Mobilização dos empregados suspendeu votação de mudanças no estatuto do banco pelo Conselho de Administração, que o transformaria em S/A; luta em defesa da Caixa 100% pública deve se intensificar
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Arte: Márcio Baraldi

São Paulo – De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, publicada na quinta-feira 19, o governo Temer pretende fazer mudanças na Caixa “para deixar o banco menos exposto a interferências políticas e mais independente de recursos do Tesouro”. De acordo com a matéria, “a primeira mudança em estudo deverá ser a criação de normas para evitar indicados políticos nas principais vice-presidências do banco”.

Ainda segundo a matéria, a etapa seguinte seria preparar a Caixa para “se tornar uma Sociedade Anônima (S/A), o primeiro passo para a emissão de ações do banco na bolsa”.

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“O que o governo chama de `reduzir a influência política´ na Caixa é simplesmente acabar com a Caixa 100% pública, destruir o seu caráter social, seu papel estratégico para o desenvolvimento do país. A matéria da Folha fala que a transformação do banco em S/A seria a etapa seguinte. Estão enganados. Esta intenção já está em curso. A votação da mudança do estatuto, prevista para ter acontecido na quarta 18, foi suspensa por conta da resistência dos empregados em todo o país”, destaca o diretor do Sindicato e coordenador da CEE/Caixa, Dionísio Reis.

No mesmo dia em que estava prevista a votação de mudanças no estatuto da Caixa pelo Conselho de Administração, que poderiam transformar o banco em S/A, entidades associativas e sindicatos promoveram Dia Nacional de Luta em Defesa da Caixa 100% Pública. Também foi realizada audiência pública em defesa dos bancos públicos, na Câmara Municipal de São Paulo. Um dia antes, na terça-feira 17, ocorreu protesto na Câmara dos Deputados.

Ainda segundo a reportagem, integrantes da equipe econômica de Temer avaliam que “a necessidade de recursos da Caixa é imediata” e, por isso, consideram alternativas como vender parte da carteira de crédito do banco em projetos de infraestrutura. O governo avalia a possibilidade do BNDES adquirir esses ativos, mas não descarta outros compradores.

“Dizem que vão tirar a influência política na Caixa, mas na verdade vão transferir a influência, que hoje é de governos, que devem ser eleitos pelo povo, para banqueiros, contra quem a população não tem nenhum controle e que não vão permitir que o banco saia da lógica pura do rentismo, parando políticas sociais e anticíclicas, que podem fazer o país voltar a crescer de verdade. A Caixa hoje faz o que nenhum outro banco faz e o seu único investidor, o governo, parou de aportar recursos, paralisando seus negócios. Denunciamos isso desde o ano passado", avalia Dionísio.

A Caixa gerencia mais de 80 milhões de clientes, ocupa terceiro lugar no ranking do Banco Central com R$ 1,256 trilhão em ativos e é operadora exclusiva do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), com saldo de R$ 487,3 bilhões, conforme balanço de junho de 2017.

“São esses os números que interessam aos bancos privados, que vibram a cada sinalização do governo Temer sobre a abertura de capital e privatização, total ou parcial, da Caixa. Cinco bancos controlam mais de 80% das operações de crédito no país, sendo dois estatais, BB e Caixa. A única forma de os privados ganharem mercado é incorporando a fatia que pertence aos estatais. E o governo Temer está abrindo caminho para isso”, critica a presidenta do Sindicato, Ivone Silva.

Mais Caixa para o Brasil – Para dar ideia da importância da Caixa para o Brasil e os brasileiros, basta analisar os dados da sua atuação, como banco público, nos mais diversos setores. Somente no primeiro semestre de 2017, a carteira imobiliária totalizou R$ 421,4 bilhões, com o banho ganhando 1,3 p.p. de participação no mercado imobiliário, mantendo a liderança com 68,1%. Já operações de saneamento e infraestrutura cresceram 5,3% no período, atingindo R$ 79,9 bilhões.

Cartilha em defesa dos bancos públicos

Entre janeiro e junho, foram pagos cerca de 78,5 milhões de benefícios sociais, num total de R$ 14,2 bilhões, sendo R$ 13,7 bilhões referentes ao Bolsa Família. Em relação aos programas voltados ao trabalhador, a Caixa realizou 196 milhões de pagamentos, que totalizaram R$ 176,6 bilhões. Também foram realizados 33,7 milhões de pagamentos de aposentadorias e pensões aos beneficiários do INSS, correspondendo a R$ 40,7 bilhões.

“O debate da defesa da Caixa 100% pública nasceu entre os trabalhadores e no movimento sindical! É isso que os empregados querem! É o melhor para o país e para o povo brasileiro! Não podemos permitir que a Caixa seja entregue aos bancos privados e nem mesmo que essa instituição, estratégica para o nosso bem-estar social e desenvolvimento, se submeta apenas à lógica do mercado. Esse não é o papel de um banco público. É necessário que a sociedade abrace essa luta, junto com os empregados da Caixa, para que o nosso patrimônio não seja entregue de bandeja pelo governo Temer”, conclama Ivone.

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