O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, admitiu nessa terça-feira 1º, a possibilidade de abertura de capital do banco, o único 100% público do país. A declaração foi feita durante audiência pública na Comissão do Trabalho e do Serviço Público da Câmara dos Deputados.
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“Essa sinalização deve ser encarada com extrema preocupação, já que a abertura de capital priorizará o lucro de acionistas em detrimento da função social e pública do banco, que hoje é responsável pelo pagamento de inúmeros benefícios sociais, o que irá prejudicar o conjunto da população. Pedro Guimarães confirma a visão privatista que interfere no banco desde que Michel Temer tomou o poder, visão essa que continua no governo atual”, afirma Dionísio Reis, coordenador da Comissão de Empregados e diretor executivo do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
Enquanto Guimarães expunha sua retórica duvidosa em defesa da Caixa na audiência publica, sua gestão vem promovendo novas reestruturaçoes o que irão atingir as áreas de Tecnologia da Informação e de atacado do banco. Pessoas estão ameaçadas de descomissionamento e redução salarial.
O Sindicato está cobrando da direção do banco esclarecimentos sobre essas reestruturações. “É um absurdo a falta de informações, que tem deixado os trabalhadores em pânico”, afirma Dionísio.
Fechamento de agências
Ao responder a perguntas de parlamentares, Guimarães disse que o fechamento de agências é uma possibilidade. Segundo ele, isso pode ocorrer após os pagamentos do FGTS (que terminam em 2020) e se trata de “uma questão matemática”.
A redução do número de postos de trabalho é um dos principais problemas enfrentados hoje pelos empregados da Caixa e pela população. Em 2014, o banco contava com 101 mil trabalhadores e um déficit de dois mil. Agora, tem 83 mil – 18 mil a menos.
A deputada Erika Kokay (PT/DF), que solicitou a audiência, também questionou o presidente da Caixa: “Se por um lado o senhor diz que não há intenção de privatização, por outro o seu chefe, o ministro da Economia, Paulo Guedes, diz que a intenção é privatizar tudo e Bolsonaro declarou que deve se vender uma empresa pública por semana, que está demorando muito para privatizar. Então precisamos ter clareza de que há um risco sim de que a empresa perca sua característica pública e seja esquartejada”, afirmou ela.
Apenas mais 800 empregados
Durante a audiência o presidente da Caixa anunciou a contratação de 800 empregados, que se somarão aos cerca de 2 mil PCDs (pessoas com deficiência) contratados recentemente.
“A contratação dos PCDs, que foi recomendada pelo Ministério Público e ainda não atende ao percentual exigido por lei, e o anúncio da contratação de mais 800 empregados, ainda é muito pouco para suprir a demanda reprimida das agências e mesmo somado nem sequer repõe as três mil demissões ocorridas só neste ano”, afirma Dionísio.
Pedro Guimarães afirmou desconhecer a existência da prática de assédio moral na empresa, mesmo confrontado com dados da pesquisa elaborada pela Fenae e apresentados pela deputada Erika Kokay, apontando que 60% dos empregados se dizem sobrecarregados de trabalho, em situação de assédio moral, temendo a reestruturação, mudanças bruscas na vida funcional, e em que afirmam sofrer com planos de metas não debatidos com os empregados.
A deputada lembrou ainda a preocupação dos empregados em relação à manutenção do Saúde Caixa para todos, ainda mais preocupante por conta do adoecimento da categoria. Na mesma pesquisa, um em cada três empregados admite fazer uso de antidepressivos.
FGTS fora da Caixa?
O presidente da Caixa disse também que não há orientação governamental para que a Caixa deixe de ser a gestora do FGTS, mas não explicou por que o governo decidiu retirar a Caixa do Conselho Curador do Fundo. “A empresa assume os riscos da gestão dos recursos do fundo, mas não participa das decisões sobre ele? Isso não é valorizar a empresa”, afirmou Erika.
Apesar de estar percorrendo o país inaugurando obras do Minha Casa Minha Vida contratadas em governos anteriores, Pedro Guimarães disse que não pode se posicionar sobre a redução drástica de investimento no programa – de R$ 4,6 bilhões, em 2019, para R$ 2,7 bilhões, previstos para 2020 –, porque “são decisões orçamentárias do governo”.
“Apesar da retórica de valorização da Caixa, o comportamento da direção atual comprova estar no sentido contrário disso. Basta ver os seguidos planos de demissão, o anúncio de venda de segmentos rentáveis, do setor de seguros e das loterias. Só a mobilização dos trabalhadores e a busca do convencimento da população sobre a importa na da Caixa se manter 100% pública com atuação social podem derrotar a intenção privatista do atual governo”, afirma Dionísio.